Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
[email protected]São Paulo, 09/07/2025 - Ouvir podcasts, audiolivros e outros conteúdos online em velocidade acelerada, a também conhecida como "2x", virou uma prática comum, entre os mais jovens, ajustar a velocidade de reprodução já se tornou parte da rotina.
Uma pesquisa com estudantes universitários da Califórnia revelou que 89% deles mudam a velocidade de aulas online. Além disso, veículos de imprensa têm apontado como o hábito de assistir vídeos rapidamente se popularizou.
Segundo um estudo publicado no Journal of Educational Computing Research, disponível no site Taylor & Francis, essa prática pode oferecer vantagens. A principal é a economia de tempo, permitindo assistir a mais conteúdos em menos horas ou rever o mesmo material várias vezes.
No contexto educacional, isso pode liberar espaço na agenda para atividades como revisões, exercícios práticos e outras estratégias de fixação. Também pode aumentar o foco durante a exibição, evitando distrações e tornando o processo mais dinâmico.
O processamento do conteúdo ocorre em três etapas:
Durante a codificação, o cérebro precisa de tempo para compreender o que é dito, identificar palavras e atribuir significados com base na memória e no contexto. Normalmente, as pessoas falam a cerca de 150 palavras por minuto, mas o cérebro consegue compreender discursos até três vezes mais rápidos. Mesmo assim, isso não garante que as informações serão bem memorizadas.
O conteúdo ouvido é inicialmente armazenado na memória de trabalho, responsável por organizar as informações temporariamente antes de transferi-las para a memória de longo prazo. Como essa memória tem capacidade limitada, o excesso de informações recebidas rapidamente pode causar sobrecarga cognitiva e perda de dados importantes.
A meta-análise mencionada avaliou 24 estudos que compararam o desempenho de participantes após assistirem a videoaulas em diferentes velocidades (1x, 1,25x, 1,5x, 2x e 2,5x). Todos os participantes realizaram testes iguais depois de assistir aos vídeos, com perguntas que exigiam memorização e raciocínio.
Os resultados mostraram que a aceleração da velocidade teve um efeito negativo crescente sobre o desempenho:
Os efeitos são mais fortes em pessoas com mais de 60 anos. Um dos estudos analisados identificou que adultos entre 61 e 94 anos apresentaram maior dificuldade com conteúdos acelerados do que jovens de 18 a 36 anos.
Isso pode estar relacionado à redução natural da capacidade de memória com o envelhecimento. Por esse motivo, especialistas recomendam que adultos mais velhos mantenham a velocidade normal ou até mesmo diminuam o ritmo da reprodução.
Ainda não há evidências suficientes para saber se a prática constante pode reduzir os efeitos negativos da visualização acelerada. É possível que os mais jovens apresentem melhor desempenho simplesmente por estarem mais acostumados a esse tipo de estímulo. Também não se sabe se assistir a conteúdos em alta velocidade provoca efeitos mentais duradouros positivos, como maior agilidade mental, ou negativos, como aumento da fadiga cognitiva.
Outro ponto levantado pelos pesquisadores é que, mesmo quando a velocidade de 1,5x não compromete o desempenho, a experiência tende a ser menos prazerosa. Isso pode impactar na motivação e no interesse em continuar aprendendo.
Ainda assim, com o tempo e a adaptação ao formato, é possível que a experiência se torne mais natural, a expectativa é que pesquisas futuras ajudem a entender melhor os impactos dessa prática de assistir vídeos em velocidade acelerada.
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