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São Paulo, 06/06/2025 - Um estudo recente realizado pelo The Washington Post em parceria com a Universidade da Califórnia, revelou que; para gerar um e-mail de 100 palavras, um ChatBot de Inteligência Artificial (IA) consumiria tanta energia quanto 14 lâmpadas LED ligadas por uma hora. Outra preocupação quanto ao consumo de IA é que as mesmas 100 palavras também gastariam uma garrafa d’água para serem produzidas.
Esta grande demanda energética vem dos data centers, que são a estruturas físicas responsáveis pelas operações das empresas. Ao fazer qualquer tarefa online, são eles que estão por trás dos cálculos de cada ferramenta, incluindo de agentes de IA. De acordo com a Goldman Sachs Research, até 2028 esses agentes vão representar 19% de toda a demanda energética dos data centers.
Apesar dos dados da pesquisa serem alarmantes, o doutor em Ciência da Computação e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), André Hochuli, explicou que a conta não é tão simples. “Não se trata de um cálculo trivial por consulta (prompts), pois depende de diversos parâmetros intrínsecos ao modelo computacional, ao ambiente de execução (hardwares/data centers) e à natureza da tarefa.”
Assim, a comparação de 100 palavras e 14 lâmpadas LED pode ser restritiva. No estudo original, o cálculo é feito considerando o ChatGPT-4 em um data center americano médio. Altair Olivo Santin, também professor da PUCPR e especialista em engenharia da computação, deu como exemplo a IA chinesa Deepseek, que derrubou ações americanas de empresas ligadas a IA justamente por trazer os mesmos resultados com um custo menor e reduzido gasto de energia.
Assim como os computadores pessoais, quando são usados constantemente, os data centers também esquentam, mas em proporção muito maior devido a suas dimensões. Para evitar o super aquecimento, as empresas utilizam resfriadores a base de água.
Primeiramente, o consumo hídrico sofre das mesmas variações do consumo energético: quanto maior o processamento necessário, mais os servidores aquecem e mais água é usada no resfriamento; assim, agentes que exigem menos processamento terão um consumo menor.
Outro fator ainda mais impactante neste custo é o tipo de circuíto de refrigeração: aberto ou fechado. No circuito aberto, a água usada para diminuir a temperatura é evaporada e reposta por água nova, consumindo-a efetivamente a cada ciclo.
Quando se pensa em “gastar” a água a cada uso da IA, esse é o tipo de sistema considerado. No entanto, a maioria dos data centers se vale de um circuito fechado, no qual a água é reutilizada a cada vez. Mas a redução de consumo hídrico gerada por este sistema não vem de graça, como explica Hochuli:
“Esse processo é análogo ao sistema de resfriamento de um motor automotivo, no qual a água absorve o calor do motor e, em seguida, é resfriada no radiador por meio do contato com o ar. Embora o uso de circuito fechado reduza o consumo direto de água, ele não elimina o custo energético associado à remoção do calor da água”.
Ou seja, o resfriamento mais usado pode não consumir exatamente uma garrafa d’água a cada consulta via IA, mas ainda tem um impacto ecológico grande, especialmente de energia.
Existem muitas propostas para o uso da Inteligência Artificial em auxílio do meio ambiente, em sua maioria voltadas para um uso mais eficiente dos recursos.
Hochuli conta um exemplo, os Gêmeos Digitais. Alimentando os algoritmos de IA com dados em tempo real, esta tecnologia replica aparelhos do mundo físico, como turbinas ou motores, no mundo digital. Desta forma, os estudos em cima dessas “réplicas” permitem aprimorar os processos e otimizar o gasto de recursos naturais. Este é o caminho mais comum usado pelas empresas de IA para contribuir, indiretamente, com o avanço sustentável: aumentar a eficiência de outras áreas.
Atualmente, o uso da Inteligência Artificial tem um impacto claro no meio ambiente. Mas o professor doutor Santin questiona a redução da tecnologia a tais impactos: “A pergunta é: seria possível obter o mesmo resultado de outra forma?", questiona, comparando o consumo de energia de um avião em relação a mesma viagem de navio, que poderia ser a vela e não consumir nada. "No caso da IA generativa, não temos alternativas para chegar ao mesmo resultado, então será que cabe discutir este consumo, se o objetivo é obter o mesmo resultado?”, pondera.
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