Setor exportador diz que tarifa de 50% inviabiliza comércio com os EUA

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A senadora Tereza Cristina pediu calma e disse que Brasil e EUA têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados - Reprodução / Agência FPA
A senadora Tereza Cristina pediu calma e disse que Brasil e EUA têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados

Por Redação Viva

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Publicado em 09/07/2025, às 19h38

São Paulo e Brasília, 09/07/2025 -   O anúncio pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de tarifas de 50% a produtos brasileiros repercutiu rapidamente no mundo político e empresarial. Enquanto a senadora e vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Tereza Cristina (PP-MS), defendeu que as instituições brasileiras precisam ter "calma e equilíbrio", o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse a medida inviabiliza o comércio de manufaturas com os Estados Unidos, comenta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Castro diz que as empresas, numa primeira reação à medida, devem suspender vendas aos Estados Unidos, até que se tenha uma definição sobre a tarifas. Conforme Castro, agora é a hora de a diplomacia entrar em campo na tentativa de reversão. Tereza Cristina vai na mesma linha. "A nossa diplomacia deve cuidar dos altos interesses do Estado brasileiro. Brasil e Estados Unidos têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados. Ambos têm instrumentos legais para colocar à mesa de negociação nos próximos 22 dias", disse a senadora em nota. 

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Apesar da agressividade da política comercial do governo Donald Trump, o anúncio de hoje foi recebido com perplexidade. Em vez de ficar no piso das tarifas (10%), como chegou a anunciar o presidente americano no dia do tarifaço, 2 de abril - o que na época, trouxe alívio a exportadores -, o Brasil vai pagar a taxa mais alta para entrar nos Estados Unidos, observa Castro.

O presidente da AEB, uma associação de empresas que realizam comércio exterior, tanto exportações quanto importações, diz que esperava uma elevação da tarifa, mas para no máximo 20%. Os 50% estavam fora de cogitação. Além do impacto direto nos embarques aos EUA, a tarifa máxima transmite uma imagem negativa aos demais parceiros comerciais, avalia Castro. “Deixa a impressão de que o Brasil cometeu algo gravíssimo e que, por isso, está sendo penalizado. Na dúvida, ninguém vai querer fazer negócio com a gente. É um cenário que ultrapassa todos os limites.”

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Segundo Castro, os produtos manufaturados, que já têm dificuldades para competir nos EUA, tornam-se praticamente inviáveis no mercado americano. Buscar novos destinos é a estratégia de todas as economias afetadas pelo tarifaço de Trump, mas no caso do Brasil, ressalta, essa possibilidade é dificultada pelos elevados custos de produção do País.

Amcham

A Amcham expressou em nota "profunda preocupação" sobre a tarifa de 50% que o governo dos Estados Unidos promete aplicar sobre produtos do Brasil a partir de 1º de agosto. A câmara de comércio, que reúne multinacionais com operações nos dois países, conclamou os dois governos a retomarem urgentemente o diálogo em busca de uma solução negociada.

"Trata-se de uma medida com potencial para causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países", ressalta a Amcham em seu posicionamento, que lembra da forte complementaridade do comércio de bens entre os países. Observa ainda que a balança do comércio bilateral foi superavitária do lado americano nos últimos 15 anos.

Setor siderúrgico

O anúncio estimula análises e previsões. Para Malek Zein, analista de ações da Eleven Financial, a medida deverá afetar principalmente as empresas do setor siderúrgico. Ele ressalta, no entanto, que é preciso analisar "caso a caso" o efeito da medida, porque empresas brasileiras têm fábricas em outros países e podem exportar aos EUA a partir destes territórios.

"Muitas vezes o Brasil vai ser tributado, mas você exporta para os Estados Unidos de outra fábrica, e a fábrica daqui exporta, por exemplo, para a Europa. Dá para ser contornado em alguns casos", afirmou, mencionando que a tarifa também pode prejudicar os setores automotivo e aeronáutico do Brasil.

PIB e renda variável

A tarifa de 50% anunciada pelo governo dos EUA para produtos importados do Brasil é impraticável e, a princípio, pode puxar revisões baixistas para a atividade econômica, na visão de Marcos Moreira, sócio da WMS Capital. "Inicialmente, a leitura é que essas tarifas devem ter impacto, com uma revisão baixista para o PIB ainda em 2025", afirma, lembrando que é necessário, porém, aguardar qual será a posição do governo brasileiro, caso seja anunciada qualquer tipo de postura retaliatória.

A renda variável e, sobretudo, as ações de empresas exportadoras devem ser as mais penalizadas pelo anúncio do governo dos EUA de que os produtos importados do Brasil terão tarifa de 50% a partir de 1º de agosto, avalia a equipe da Ativa Investimentos, lembrando que a medida é "significativamente superior ao que vinha sendo precificado".

"Além do efeito direto sobre o nível potencial de atividade econômica brasileira, o movimento adiciona um novo vetor de aversão a risco para ativos locais, ampliando a volatilidade e, possivelmente, alimentando a necessidade de revisões em fluxos de caixa e valuation para companhias com maior exposição ao mercado norte-americano", comenta, em nota.

Calçados

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) disse receber com "surpresa e preocupação" a taxação de 50%. O presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira, classificou a medida como "um grande balde de água fria para o setor calçadista brasileiro".

A associação lembra que, em junho de 2025, o segmento registrou alta de 24,5% nas exportações ante igual mês do ano passado. O resultado foi impulsionado pelos Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras do setor, com crescimento de quase 40% no mesmo comparativo. "No primeiro semestre, estávamos, aos poucos, recuperando mercado nos Estados Unidos, apesar de todas as instabilidades", afirma Ferreira.

Os Estados Unidos receberam, em junho, 1 milhão de pares brasileiros, pelos quais foram pagos US$ 20,76 milhões. Isso representa um crescimentos tanto em volume (+39,4%) quanto em receita (+25,4%) em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados da Abicalçados. No acumulado do semestre, as exportações para o país norte-americano somaram 5,8 milhões de pares e US$ 111,8 milhões, incrementos de 13,5% e de 7,2%, respectivamente, ante o igual período de 2024.

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