Divulgação/ABED
São Paulo, 10/09/2025 - Entre 2010 e 2023, o Brasil formou mais de 316 mil pessoas acima de 50 anos de idade em cursos de ensino superior na modalidade de educação a distância (EAD). Contudo, o número de ingressantes foi 2,7 vezes maior: no mesmo período, cerca de 866 mil pessoas nessa faixa de idade ingressaram na modalidade.
Os números fazem parte do painel EAD em Dados, lançado hoje pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) durante o 20º Seminário Nacional de Educação a Distância, que acontece até amanhã em São Paulo. O painel, ao qual o Viva teve acesso antecipado, permite fazer correlações de dados sobre a modalidade por cursos, faixa etária, ano, total de matrículas, números de ingressantes e concluintes, dentre outros filtros.
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Em entrevista, George Bento Catunda, diretor de educação básica, técnica, profissional e tecnológica da ABED, disse que a iniciativa faz parte de um conjunto de ações que a organização vem trabalhando para qualificar o debate em torno do EAD. "A plataforma utiliza dados de fontes oficiais brasileiras, como o INEP, e busca ir além dos dados brutos, oferecendo filtros e correlações para análises aprofundadas".
O EAD passou por mudanças significativas com a sanção em maio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva do decreto 12.456, que proíbe a oferta de cursos de graduação em medicina, direito, odontologia, enfermagem e psicologia na modalidade a distância, exigindo que sejam ofertados exclusivamente no formato presencial.
Outros cursos das áreas de saúde e licenciaturas também não poderão ser oferecidos 100% online, sendo permitidos apenas nos formatos presencial ou semipresencial. A medida entra em vigor oficialmente na próxima segunda, 15.
Catunda critica o que chama de "simplificação do debate sobre a qualidade do ensino" e diz que a decisão deveria ter considerado mais dados do setor. "A medida ignora diversas especificidades do acesso aos cursos das áreas de saúde e educação, como pessoas que ganham de 1, 5 a 3 salários-mínimos, alunas do gênero feminino, moradores de municípios sem acesso ao ensino superior presencial e outros, que devem ser os mais impactados pela medida".
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Os dados de salário citados por ele aparecem no relatório Censo EAD.BR, também lançado pela ABED durante o evento. Um dos destaques do material é a análise crítica do acesso aos principais cursos impactados pelas novas regras do setor, como licenciaturas e enfermagem.
"No processo em que se definiram as mudanças no EAD, ouvimos pessoas afirmando que 'não querem ser atendidas por um enfermeiro ou um professor que se formou apenas com aulas online', mas isso nunca foi verdade. Os estudantes dessas áreas sempre precisaram cumprir ao menos alguma parte de suas atividades de forma presencial", pondera, e completa: "Sabemos que nem todos os cursos oferecem a qualidade apropriada, mas o que deveria ser feito é ampliar a fiscalização, não apenas proibir novas matrículas".
Ele diz não ver possibilidade de retrocesso nas novas regras já instituídas para o EAD, mas pontua que os dados e as análises apresentados no evento poderão qualificar melhor o acompanhamento dos cursos online.
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De acordo com os dados do painel, em 2023 foram ofertados no Brasil 45.964 cursos de graduação, sendo 35.410 presenciais e 10.554 a distância. Nesse mesmo ano, a modalidade concentrou mais de 66% dos ingressantes no ensino superior.
Considerando os cursos mais afetados, os dados mostram que naquele ano foram ofertados no Brasil 1.298 cursos de enfermagem, sendo 1.264 presenciais e 34 na modalidade a distância. No caso das licenciaturas, foram ofertados 7.886 cursos, dos quais 5.741 (73%) presenciais e 2.145 (27%) a distância. Nessa área, foram registrados 827.285 ingressantes em cursos de licenciatura, com ampla predominância da modalidade EAD (mais de 81%).
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