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Escola é central na prevenção da adultização infantil, dizem especialistas

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Especialistas em educação e saúde mental analisam o papel das escolas e dos educadores na proteção contra a adultização - Adobe Stock
Especialistas em educação e saúde mental analisam o papel das escolas e dos educadores na proteção contra a adultização
Bianca Bibiano
Por Bianca Bibiano bianca.bibiano@viva.com.br

Publicado em 16/09/2025, às 15h36 - Atualizado às 19h00

São Paulo, 16/09/2025 - A discussão sobre adultização infantil tornou-se um tema de urgência nacional, tirando o debate das redes sociais, onde atualmente mais de 83% das crianças de 9 e 17 anos já têm perfis, e chegando às famílias e escolas. 

Segundo Vládia Jucá, professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, nessa discussão, a escola ganha importância exatamente por ser o principal espaço na sociedade contemporânea, que permite às crianças e aos adolescentes acessarem uma rede de garantia de direitos, assistência e proteção. "Ela tem uma abrangência em 93% da população nessa idade, o que faz com que seja o equipamento que representa a politica pública com maior inclusão em termos quantitativos." 

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Ela acredita que, embora as escolas estejam expostas a todo tipo de demanda e dificuldades que chegam  por meio de seus estudantes e famílias, essas instituições não podem se eximir de debates como esse.

"A escola tem muros permeáveis à comunidade na qual se insere, e seu papel vai além da proibição dos celulares na sala de aula. Ela é um espaço de proteção", afirma Jucá, que também é autora do Guia para a articulação entre as escolas e a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescentes, lançado neste ano pelo D³e em parceria com a B3 Social e a Fundação José Luiz Setúbal.

O material tem como base pesquisas em saúde mental, políticas públicas e experiências concretas no atendimento a esse público, e defende o papel central da escola na vida de crianças e adolescentes, mas enfatiza que ela não pode responder sozinha a questões tão multifacetadas.

O lugar da criança e da adolescência na escola

O entendimento sobre o papel da escola passa também pela compreensão de que a infância e a adolescência são períodos importantes na construção de individuo e cidadão, e devem ser respeitados, defende Jucá. "Essas fases têm sua lógica própria. A infância traz uma base afetiva, de construção de confiança, da imagem corporal, fundamentais para o adulto que um dia será. O adulto não vem pronto, é na relação com os outros que a criança vai se constituindo", pondera.

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Já a adolescência traz outros processos importantes, como a transição para novas referências, a construção para outro lugar social e a reconstrução da imagem corporal. Essa ação passa pelo respeito à infância e ao brincar não mediado por tela, fundamentais para o exercício da criatividade, explica. 

"Precisamos proteger as infâncias e adolescências para que tenhamos adultos menos adoecidos do que temos hoje, com situação de saúde mental alarmante."

Ela pondera que a cultura do imediatismo tem grande culpa nesse aspecto, "com crianças querendo ser adolescentes precocemente e adultos que não saem dessa etapa mesmo quando crescem", trazendo a tona questões como a sexualização precoce. 

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"Quando a gente fala em desproteção, pensamos apenas em crianças em vulnerabilidade sociail, mas isso também acontece nas camadas abastadas, com menos tempo para brincar, menos convívio com familiares, hiper individualismo, uso excessivo de tela, falta de ocupar espaços públicos em função da violência. Isso tudo colabora para roubar essas infâncias e adolescências".

O papel da escuta no ambiente escolar

Jucá explica que a escola não pode atuar sozinha nesse tema, promovendo uma abordagem que passa tanto pela promoção de espaços de escuta dos estudantes quanto pelo diálogo com redes de proteção social. "Não se trata de transformar a sala de aula em clínica. Mas sim de propor ações coletivas para identificar quais crianças podem precisar de atendimento para além do que a escola pode oferecer, como um atendimento personalizado com psicólogo, por exemplo."

Nesse contexto, Ivana Lobosco, psicóloga do Grupo Med+, destaca que a Lei Federal nº 13.935 é um marco importante por ter tornado obrigatória a presença de psicólogos e assistentes sociais na rede básica, permitindo uma abordagem que privilegia a saúde mental dos estudantes.

"A escola deve ser o ambiente onde se desenvolvem habilidades para lidar com pressões externas, protegendo a infância e respeitando o tempo natural de cada criança. O trabalho conjunto de psicólogos, educadores e famílias é a chave para proteger a infância e garantir que cada criança tenha o direito de viver seu tempo, sem a pressão de amadurecer precocemente.”

Lobosco faz parte de um grupo de cerca de 700 profissionais da Med+ que atuam em escolas públicas do estado de São Paulo, oferecendo atividades coletivas de promoção da saúde mental para estudantes e que vem identificando situações crescentes ligadas à transtorno de ansiedade, dependência tecnológica, depressão. "Esse cenário amplia a vulnerabilidade de crianças e adolescentes à exposição precoce a conteúdos adultos, reforçando a necessidade de ações concretas nas escolas."

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Ela destaca ainda que os números sobre violência e exploração sexual reforçam a gravidade do tema. De 2021 a 2023, o Brasil registrou 164 mil estupros de crianças e adolescentes. Em 2024, as denúncias de crimes contra crianças cresceram 22,6%, ultrapassando 289 mil registros na Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.

“Não estamos falando de uma tendência isolada, mas de um risco coletivo que pode comprometer uma geração. É papel da sociedade, e sobretudo da educação, criar barreiras de proteção mais eficazes”, completa a psicóloga.

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