São Paulo, 01/11/2025 - No próximo fim de semana começam as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, considerada a principal via de acesso para o ensino superior no País. O exame será realizado em duas etapas, dias 9 e 16 de novembro na maior parte do Brasil, e os resultados serão divulgados em janeiro de 2026.
Este ano, o exame registrou cerca de 17 mil inscritos com 50 anos ou mais de idade, de um total de 4,8 milhões inscrições, segundo painel do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do governo federal responsável pela aplicação das provas.
O professor Luiz Otavio Mafra Salla dá a dica de se concentrar nas áreas com mais afinidade - Divulgação/COC
Para esses candidatos, que em geral já estão há mais tempo longe da educação básica, o especialista pedagógico do COC Luiz Otavio Mafra Salla ressalta que a preparação na reta final exige foco estratégico. "Nesse momento de proximidade com a prova, o ideal não é tentar aprender tudo, mas sim otimizar o tempo e potencializar os pontos fortes", afirmou ao Viva.
Ele explica que revisar todo o conteúdo de uma vez pode ser contraproducente, especialmente para candidatos que retomaram os estudos após um longo intervalo. O mais eficiente é adotar uma estratégia focada: concentrar-se nas áreas em que já se tem mais afinidade e segurança, indica. "Valorizar essas disciplinas é uma forma inteligente de garantir pontos e aumentar o desempenho geral na prova".
O educador também diz que, diferentemente de outras provas, o Enem valoriza a consistência nas respostas e não o número total de erros e acertos. "Ou seja, acertar questões de nível fácil e intermediário é mais relevante do que se arriscar em conteúdos mais complexos sem a base necessária", diz Salla. Já nas matérias em que há maior dificuldade, o ideal é revisar apenas os conceitos essenciais.
Salla diz ainda que adotar estratégias personalizadas de revisão é fundamental. "Nessa fase da vida, a qualidade do estudo costuma ter mais impacto que a quantidade de horas investidas. Por isso, o foco deve estar em métodos que valorizem a consistência, a adaptação ao próprio ritmo e o aproveitamento da experiência pessoal na assimilação dos conteúdos".
"Mais do que uma prova, o Enem representa, para muitos candidatos com mais de 50 anos, um reencontro com sonhos antigos, um novo começo ou até mesmo uma reafirmação pessoal. Retomar os estudos é um ato de coragem, que exige determinação, disciplina e, acima de tudo, vontade de continuar aprendendo, independentemente da idade."
Cuidado emocional para o Enem 2025
Segundo a psiquiatra Maria Carol Pinheiro, professora da Santa Casa de São Paulo, em qualquer idade o Enem pode trazer uma mistura de expectativa, medo e exaustão. Para ajudar nesse aspecto, ela recomenda focar na inteligência emocional e no funcionamento do cérebro sob pressão.
"Práticas de autorregulação como respiração lenta, pequenas caminhadas e rituais de relaxamento ajudam a manter o sistema nervoso em equilíbrio, pois o excesso de ansiedade compromete memória e raciocínio. O cérebro adulto tem a vantagem da plasticidade ao longo da vida, então confiar na experiência vivida é um recurso potente para enfrentar desafios complexos, mesmo após anos longe do ambiente escolar."
Maria Carol Pinheiro: "A resiliência, essa capacidade cerebral de aprender com a vida, é decisiva agora" - Divulgação
Assim como Salla, Pinheiro reforça que não adianta tentar revisar muitos conteúdos novos em cima da hora.
"O que faz diferença é reforçar os conhecimentos já adquiridos, praticar questões e planejar a logística da prova, usando listas e pequenas tarefas para estruturar o dia do teste", pondera.
Ela indica também olhar para o Enem como uma oportunidade de crescimento e diz que, de modo geral, o público de 50+ possui particularidades marcantes em relação aos adolescentes que vivem o cotidiano do ensino médio.
"Para os adultos, o cérebro já apresenta maturidade emocional e reserva cognitiva, mas a rotina costuma ser permeada por trabalho, responsabilidades familiares ou aposentadoria, com menos exposição ao ambiente escolar e aos debates sobre provas. Isso pode significar menos contato direto com fontes de apoio e atualização acadêmica, exigindo que a preparação seja mais personalizada."
Por outro lado, pondera a psiquiatra, estudos mostram que o cérebro adulto pode potencializar a aprendizagem ao conectar novos conteúdos à experiência prévia e à motivação autêntica, utilizando estratégias como revisões espaçadas, associação com vivências práticas e exercícios cognitivos feitos fora do padrão escolar tradicional, por exemplo: resumos explicados em voz alta, simulações de prova adaptadas à rotina, uso de mapas mentais.
Dicas práticas para as provas do Enem 2025
Veja recomendações para estudantes 50+ desenvolvidas pelo especialista pedagógico do COC Luiz Otavio Mafra Salla:
1. Concentrar-se nos conteúdos mais recorrentes
Em vez de tentar abarcar todas as áreas do conhecimento, o ideal é focar nos assuntos que mais aparecem nas provas. Em Linguagens, por exemplo, a interpretação de textos é essencial. Em Matemática deve-se priorizar as operações básicas, a resolução de problemas do cotidiano e a leitura de gráficos e tabelas. Já em Ciências Humanas e da Natureza, é importante ter atenção a atualidades e temas que impactam diretamente a sociedade, como meio ambiente, cidadania, saúde pública e tecnologia.
2. Resolver provas anteriores e simulados
Essa é uma das formas mais eficazes de se familiarizar com o estilo do Enem. Além de revisar conteúdo, esse exercício ajuda a treinar o raciocínio, a gerenciar o tempo e a reduzir a ansiedade, pois simula as condições reais da prova. É essencial cronometrar o tempo ao fazer simulados, assim é possível entender o próprio ritmo e quais são as estratégias de resolução mais efetivas.
3. Valorizar a qualidade dos estudos, não a quantidade
Em vez de passar horas seguidas estudando, é mais indicado priorizar pequenos blocos de tempo (entre 30 e 60 minutos), focando em tópicos que realmente têm chances de aparecer na prova. Usar técnicas de revisão, como resumos, mapas mentais e quadros de resumo, é uma ótima estratégia para assimilar melhor os conteúdos.
4. Usar a bagagem de vida como vantagem
A experiência acumulada ao longo dos anos é um diferencial. A maturidade, a vivência profissional, a percepção crítica e o repertório cultural podem ser grandes aliados, principalmente na elaboração da redação, na interpretação das questões e na análise de questões interdisciplinares. Muitos temas abordados no Enem envolvem cidadania, ética, sociedade e atualidades, áreas em que a maturidade e a experiência pessoal são um benefício significativo.
5. Preservar o equilíbrio emocional e físico
Nessa fase, é fundamental manter o bem-estar. Estabelecer uma rotina saudável, com alimentação balanceada, boa qualidade de sono e momentos de pausa, ajuda a manter a mente mais clara para o estudo. Técnicas simples de respiração e meditação também colaboram para controlar a ansiedade.
6. Evitar comparações
Comparar-se com os mais jovens pode gerar desânimo ou sensação de inadequação. Em vez disso, é importante concentrar-se na própria trajetória, nas conquistas já alcançadas e no progresso feito até o momento. Cada pessoa tem um ponto de partida diferente e o desafio de cada uma é consigo mesma, não com os outros candidatos.
Valorizar cada avanço, por menor que pareça: uma sequência de dias seguidos estudando, um simulado com nota melhor ou o entendimento de um conteúdo que antes parecia impossível são conquistas importantes. Reconhecê-las mantém a motivação em alta e reforça a sensação de que o esforço está valendo a pena.
Dicas para escrever a redação do Enem
A redação é uma prova que tem grande importância dentro do Enem. Saiba como se beneficiar dela e atingir uma boa nota:
1. Entender o que é cobrado
A proposta da redação do Enem é sempre um tema de relevância social, em que o candidato deve apresentar uma tese, desenvolver argumentos e propor uma intervenção para o problema apresentado. A estrutura ideal é clara e estável: introdução, dois parágrafos de desenvolvimento e uma conclusão com proposta de solução, sempre baseada nos direitos humanos.
2. Montar um esqueleto fixo
Treinar com uma estrutura padrão ajuda a organizar as ideias e facilita na hora de escrever sob pressão. Para isso é essencial criar um modelo de introdução (com apresentação do tema e tese), dois parágrafos de desenvolvimento (com argumentos e exemplos) e uma conclusão com proposta de intervenção clara, viável e diretamente ligada ao que foi discutido.
3. Usar exemplos reais e experiências de vida
A vivência acumulada ao longo dos anos pode ser um diferencial poderoso. Situações pessoais, reflexões profissionais, fatos históricos e referências culturais são excelentes fontes de repertório, um dos critérios mais valorizados na correção da redação.
Estudar produções de alto desempenho ajuda a entender como os argumentos são apresentados, como se constrói a proposta de intervenção e de que forma o candidato articula suas ideias. Isso melhora a compreensão sobre o que a banca avaliadora espera. Elas estão disponíveis no site do Inep e também na internet.
5. Treine a escrita
Embora seja a reta final, ainda dá tempo de fazer ao menos uma tentativa por semana de escrever um texto nos padrões do Enem. Use temas de provas anteriores ou escreva sobre temas que foram destaque este ano. Isso ajuda a garantir mais fluidez na escrita, ampliação de vocabulário e maior confiança para organizar raciocínios por escrito.
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