Empréstimo consignado: aprenda a usar de forma responsável
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Por Thiago Lasco
17/12/2025 | 15h00
São Paulo, 17/12/2025 - Quando o assunto é crédito – ou seja, tomar dinheiro emprestado – o consignado (também conhecido como empréstimo consignado) é, sem dúvida, uma das opções de empréstimo mais populares do mercado brasileiro. O maior atrativo desse tipo de produto é a taxa de juros, que costuma ser significativamente mais baixa que a de um empréstimo pessoal, por exemplo.
Por isso, ele acaba sendo uma ferramenta muito usada por quem precisa de dinheiro rápido, em condições mais acessíveis. E pode ser uma opção interessante para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - já que, no caso deles, a cobrança da prestação é feita por meio de desconto direto sobre o benefício previdenciário.
No entanto, assim como ocorre com qualquer outra linha de crédito, o empréstimo consignado deve ser usado com cautela. Afinal, a renda futura ficará comprometida durante todo o período de pagamento das prestações. Sem um planejamento financeiro responsável, as finanças podem fugir do controle, levando a um quadro de superendividamento.
O VIVA conversou com Adriana Witthoft Fachini, superintendente de crédito do Sistema Ailos, e Eliane Tanabe, planejadora financeira pela Planejar, para entender como tirar o melhor proveito desse tipo de produto.
Como funciona? Por que é mais barato?
A peculiaridade desse tipo de crédito é que as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento, no caso de um assalariado, ou do benefício do INSS, no caso de um aposentado ou pensionista.
Note que o tomador do crédito não precisa tomar a atitude de fazer o pagamento de um boleto dentro de um prazo. E também não há como ele atrasar o pagamento, justamente porque ele é feito por meio de um desconto automático sobre os recursos (salário, benefício ou pensão) que ele receberá. Ou seja, o risco de inadimplência (não pagamento) é muito baixo.
“É um tipo de crédito com taxas mais baixas [em comparação com outras linhas de crédito], porém não significa que sejam baratas. Suas taxas são mais baixas porque, por ele ser descontado diretamente em folha, a instituição financeira credora tem um risco menor. Portanto, pode oferecer uma taxa menor”, explica Tanabe.
Quais são os tipos disponíveis no mercado?
Os principais tipos de crédito consignado ofertado por diferentes instituições são:
- Consignado para aposentados e pensionistas do INSS. É a modalidade mais comum, voltada para quem recebe benefícios da seguridade social. Tem regras definidos pelo governo, com taxas geralmente mais baixas;
- Consignado para servidores públicos. Destinado a funcionários de órgãos públicos federais, estaduais ou municipais. Costuma ter condições atrativas devido à estabilidade do vínculo empregatício;
- Consignado para trabalhadores de empresas privadas. O Crédito Consignado Privado passou a ser chamado de Crédito do Trabalhador, uma modalidade lançada em 2025, que dispensa a necessidade de convênio prévio. “Ele permite que o funcionário solicite o empréstimo diretamente pela Carteira de Trabalho Digital e o desconto seja feito na folha, de forma automática, via eSocial. As condições variam conforme avaliação de cada instituição financeira ou cooperativa”, informa Fachini.
Além deles, existe também o cartão de crédito consignado. Ele funciona como um cartão de crédito comum e pode ser utilizado para o pagamento de produtos e de serviços. “O valor da fatura pode ser descontado, total ou parcialmente, da folha de pagamento de forma automática, limitado ao valor da margem consignável”, conta Tanabe.
Se o desconto for apenas parcial, é preciso atenção: o valor que não foi descontado permanece em aberto e precisa ser pago até a data de vencimento da fatura. “Se não for pago, o valor da diferença será financiado e haverá a incidência de juros. Ou seja, é preciso ter o cuidado de pagar a diferença para evitar encargos ou inadimplência”, alerta a planejadora financeira.
Quem pode tomar empréstimo consignado?
- Beneficiários do INSS (aposentados, pensionistas e pessoas que recebam o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS);
- Servidores públicos ativos, das esferas federal, estadual e municipal;
- Servidores públicos inativos (já se aposentaram e recebem benefícios do órgão público onde serviram);
- Militares das Forças Armadas;
- Trabalhadores de empresas privadas com carteira assinada (CLT), desde que o CPF esteja regular;
- Outros trabalhadores formais incluindo empregados rurais, domésticos e funcionários de microempreendedores individuais (MEI).
“Em todos os casos, devem ser sempre respeitados os critérios, como margem disponível [o porcentual máximo da renda que pode ser consignado; leia mais abaixo] e análise da capacidade de pagamento”, ressalva Fachini.
Quando faz sentido contratar?
Para a especialista do Sistema Ailos, o empréstimo consignado é uma ferramenta financeira que faz sentido quando é utilizada “com propósito”, em certas situações.
“Ele pode ser uma alternativa interessante para ajudar na reorganização financeira, quitando dívidas mais caras, como cartão de crédito ou cheque especial; projetos planejados, como reformas, estudos ou investimentos pessoais; ou emergências, especialmente de saúde ou família. O problema surge quando é usado de forma recorrente ou sem uma avaliação da capacidade de pagamento”, diz Fachini.
Tanabe reconhece que “há momentos na vida em que não é possível esperar”, mas reforça a importância de um bom planejamento antes de contrair essa obrigação financeira.
“Depois de determinar o montante total necessário, é importante verificar se as parcelas poderão ser pagas com tranquilidade, sem comprometer o orçamento familiar. A renda mensal ficará reduzida por um bom tempo, o que é desanimador. Por isso, o consignado não deve se tornar um hábito”, frisa.
A planejadora financeira defende que a prioridade do empréstimo consignado deve ser cobrir gastos com emergências e situações mais graves, e não os desejos de consumo.
“Para os projetos de longo prazo, pode haver créditos mais adequados do que o consignado. Para a compra de um veículo ou imóvel, por exemplo, é possível encontrar créditos específicos com taxas melhores”, compara.
Quanto da renda pode ser comprometido?
A lei estabelece um limite de até 35% da renda líquida mensal, tanto para o assalariado como para o aposentado ou pensionista. No caso de uma renda líquida de R$ 3 mil, por exemplo, as parcelas mensais dos empréstimos não podem ultrapassar R$ 1.050.
É possível, ainda, comprometer mais 5% da renda líquida para pagamento do cartão de crédito consignado, totalizando, portanto, 40%. No caso de quem recebe o BPC/LOAS, porém, a margem para empréstimo consignado está limitada a 30% do benefício.
Mais importante do que os limites legais, na opinião das duas especialistas consultadas pelo VIVA, é avaliar o quanto as parcelas vão afetar o orçamento mensal. “A melhor margem é aquela que o próprio tomador calcula e não se sente sufocado em suas finanças”, define Eliane.
Como contrair um empréstimo consignado de forma responsável?
Aqui vão as dicas de Adriana Fachini, do Sistema Ailos:
- Avalie sua real necessidade e se não há alternativas mais econômicas;
- Compare taxas, prazos, custo total e condições entre instituições;
- Calcule o impacto das parcelas no seu orçamento mensal antes de contratar;
- Evite comprometer o limite máximo permitido e mantenha margem para imprevistos;
- Leia atentamente o contrato e tire dúvidas antes de assinar;
- Prefira instituições sólidas e cooperativas que atuam com foco no relacionamento e não apenas na venda;
- Busque orientação financeira sempre que necessário.
E os conselhos de Tanabee, da Planejar:
- Procure tomar a menor margem possível, com o menor prazo possível, dentro da possibilidade de pagamento das parcelas. Procure sair da dívida do consignado o mais rápidoque puder, para poder planejar outros objetivos com a sua renda;
- Some todas as dívidas para manter um orçamento saudável.
- Para contratar um empréstimo responsável, calcule sua margem, compare as taxas (CET – Custo efetivo total), avalie a real necessidade do crédito e, se possível, busque a ajuda de um planejador financeiro.
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