São Paulo, 26/10/2025 - No ritmo acelerado da vida moderna, onde a aprendizagem contínua se tornou uma meta essencial, um grupo específico vem se destacando: os intercambistas acima dos 50 anos. Com o aumento da expectativa de vida e a busca por experiências enriquecedoras, mais brasileiros têm cruzado fronteiras à procura de novas culturas e conhecimentos.
De olho nessa movimentação, empresas do ramo começaram a criar pacotes exclusivos, que alinham estudo de idiomas com cultura e até formação profissional. A EF Intercâmbios, por exemplo, viu um aumento de 56% na adesão desse público a seus programas no ano passado. Malta, Inglaterra e Estados Unidos são alguns dos destinos que têm capturado atenções.
"Cerca de 10% dos nossos alunos hoje são desse grupo etário, e isso vem de uma questão dos brasileiros especificamente, que valorizam o investimento na educação internacional, mas vai além do idioma, pois a convivência é tão valorizada por esse público quanto aprender uma língua", pontua o diretor nacional da empresa Denis Buzzi Boehm.
Ele destaca que uma das missões da empresa é combater o etarismo que ainda persiste em aparecer quando se trata de consumidores 50+. "Essa faixa etária é muito ativa, com muitos interesses e planos. Buscamos encontrar novas soluções de ofertas que sejam interessantes para eles e para romper o estigma que muitos têm de achar que já passou da hora. A verdade é que sair do Brasil para ter uma experiencia dessas não tem idade".
Boehm diz que, apesar da ampliação da demanda, ainda há um medo desse público, especialmente quando a experiência envolve viajar sozinho. "Muitos querem ir, mas têm medo de não conseguir acompanhar o programa com os mais jovens. Por isso, apesar de valorizarmos a integração entre gerações, também criamos grupos em que os 50+ podem se encontrar com pessoas da mesma faixa de idade em suas viagens, para que eles ganhem coragem e percam o medo inicial".
Quando a barreira é vencida, complementa Boehm, os intercambistas mais velhos se sentem mais confortáveis para interagir com todas as faixas etárias em outros idiomas. "Isso torna a experiência mais rica para todos", observa.
Sandra Aparecida da Costa Silva: "Quando eu decidi fazer a viagem, muita gente falou 'você não está velha para isso?'" - Divulgação
A aposentada Sandra Aparecida da Costa Silva, 65, conta que esse direcionamento a manteve segura para expandir os contatos quando chegou em Malta, onde escolheu estudar inglês em 2023.
"Na minha turma havia pessoas de vários países e idades, eu fui sozinha e você pensa que os jovens vão te evitar, mas você troca experiências, é muito legal. Lá eu tive que me virar para falar e até para comer na rua, foi desafiador, mas muito bom".
Em vez de hotel, Silva quis ficar em uma hospedagem para estudantes e dividiu quarto com uma coreana, que também estava estudando inglês.
"Quando eu decidi fazer a viagem, muita gente falou 'você não está velha para isso?' Tem hora que você acha que é verdade, mas quando você vai, percebe que é uma porta que se abre. A gente deseja isso para os filhos, vê-los crescer, se libertar, e depois você pensa: fiz meu papel, será que posso realizar isso também, será que eu consigo? Agora, me sinto pronta para viajar o mundo todo sozinha".
Cleusa Muncinelli, 61, viajou em maio para Roma, na Itália, e também destaca a experiência positiva. "O melhor foi conhecer pessoas de outros países e aprender um pouco de outras culturas". Na ocasião, além das aulas de idiomas, ela pode fazer passeios a museus, igrejas e até aula de culinária italiana como parte do programa.
Cleusa Muncinelli fala sobre intercâmbio: "O primeiro dia foi como um primeiro dia de aula na infância" - Divulgação
"O primeiro dia foi como um primeiro dia de aula na infância, aquela expectativa enorme. E agora dá vontade de voltar, fazer as tarefas, os trabalhos, interagir com a turma".
Para a filha dela, a influencer Juliana Muncinelli, conhecida como Juzão, a experiência também foi nova. Ela já tinha viajado com a mãe para o exterior, mas foi a primeira vez em que a viu se dedicar a um curso e interagir com outras culturas tão ativamente.
"Os papeis se inverteram naquele momento. Ver a minha mãe indo para a escola, levá-la para tomar sorvete depois da aula, foi engraçado viver essa experiência, eu virei a mãe por uns dias", relatou em entrevista ao Viva.
Busca pelo lifelong learning
Na STB, tradicional empresa do setor de intercâmbio, outro perfil de estudante têm crescido nos últimos dois anos: profissionais 50+ que buscam a experiência como forma de adquirir novas habilidades para se destacar no mercado de trabalho.
Em 2024, esse grupo cresceu 30%, relata a vice-presidente da empresa Christina Bicalho. "É uma mudança comportamental pautada no conceito de lifelong learning, que é exatamente esse aprendizado ao longo da vida, sem restringir a uma idade". Hoje, os 50+ representam 15% dos inscritos na agência.
Bicalho diz que esse grupo é um pouco diferente do perfil de profissionais que passou a buscar intercâmbio para reforçar o inglês e se adaptar a novas dinâmicas de trabalho nos últimos cinco anos. "O profissional brasileiro achava que falava inglês, mas quando começou a ser acessado por empresas internacionais para trabalhar online, começou a ver que o nível não era bom assim, e isso criou uma demanda por experiências que aprimorassem a fluência".
Entre os profissionais mais maduros, o interesse maior tem sido cursos de curta duração em centros de ensino de renome, como UCLA, Barkely, London School e MIT, que oferecem programas de curta duração e com foco no networking internacional dos profissionais.
"Não tem limite de idade, as pessoas estão vivendo mais e a faixa etária acima dos 50 anos vem com melhor poder de compra, uma situação financeira mais estável, e muitos querem mudar o modo de trabalhar ou até mudar de carreira", completa.
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