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Por Claudio Marques
[email protected]São Paulo, 27/05/2025 - Dizer que essa tecnologia veio para ficar e não tem volta se tornou um clichê ultrapassado. Nesse cenário, estar em dia em relação à inteligência artificial é importante para o profissional que deseja avançar na carreira ou se manter relevante para o mercado. E o profissional 50+ tem uma vantagem: sua experiência é apontada como um diferencial em meio aos avanços da tecnologia.
Diferentes pesquisas têm medido o pulso das empresas em relação ao emprego da IA generativa. A 4ª edição do levantamento realizado pela consultoria Bain & Company sobre a adoção dessa ferramenta apontou que 67% das companhias no Brasil consideram a IA uma prioridade estratégica para 2025.
O Relatório de Impacto das Microcredenciais 2025, elaborado pela plataforma de ensino Coursera, apontou que 94% dos empregadores brasileiros estão dispostos a oferecer salários iniciais mais altos a candidatos que possuam alguma certificação em IA.
O profissional 50+, porém, ainda precisa enfrentar a cultura do preconceito no mundo corporativo para se manter relevante. A pesquisa Etarismo 2024, da Catho, mostrou que 40% dos gestores entrevistados demonstraram resistência para contratar ou desenvolver profissionais com mais de 50 anos.
Em uma postura etarista, as companhias, segundo o estudo, rechaçam a contratação desses profissionais, alegando uma possível dificuldade em se adaptar às novas tecnologias, além de um comportamento resistente a mudanças por parte do candidato. O levantamento ouviu 1.400 trabalhadores e 300 recrutadores.
Especialistas rejeitam essa argumentação. E no caso específico da IA, realçam que um grande trunfo para os profissionais 50+ é justamente sua idade, ou seja, a experiência acumulada. “O repertório pode ser um grande diferencial para o 50+. Se souber usar, vai ter algo a seu favor”, diz Mórris Litvak, CEO da Maturi.
Entretanto, como aponta a Maturi, consultoria e plataforma de inclusão 50+, esse contingente compõe, em média, 5% dos colaboradores das empresas, embora represente 27% da população brasileira.
Por sua vez, a consultora de Gestão e Carreiras 50+ Eliane Kreisler aponta competências da geração 50+, que considera importantes para o trato com inteligência artificial.
“IA nada mais é do que uma grande comunicação com a área tecnológica, de dados. E o profissional 50+ se comunica, tem como competência escuta ativa, empatia e resiliência. Tudo isso são fatores importantes quando se fala de IA.”
Segundo Kreisler, são essas características e a vivência que favorecem a realização de perguntas “extremamente” detalhadas, assertivas e com uma visão mais sistêmica para a IA, favorecendo a obtenção de bons resultados. É esse mix de vivência com habilidades que leva Marisa Eboli, especialista em Educação Corporativa na FIA Business School, a dizer: “É o profissional 50+ que vai ajudar quem usa IA”.
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Eboli ressalta que é preciso haver um olhar crítico, analítico, experiente, ao tratar com essa tecnologia, para saber quais informações são possíveis de aproveitar ou não. E o profissional 50+ tem essa capacidade, de acordo com ela.
Esse perfil vale tanto para quem usa quanto para quem faz a programação, pois como lembra Litvak, a IA é “alimentada” por pessoas e, por isso, pode também absorver vieses preconceituosos, etaristas e até informações não confiáveis, caso mal usada.
Kreisler sublinha a necessidade de mudança de mentalidade do profissional 50+, que deve assumir o protagonismo em relação a sua carreira. “Tem que correr atrás”, diz, sinalizando a necessidade de ele se atualizar e procurar o conhecimento e desenvolvimento necessários. “Tem que ser atraente para o mercado, para quebrar barreiras.”
Foi o que fez o consultor de empresas Edilson Botto, de 56 anos. Insatisfeito com o trabalho, decidiu se reinventar e, desde o segundo semestre do ano passado, está cursando a graduação em IA na Universidade de Fortaleza. O estudante, inclusive, está escrevendo um e-book para ensinar como usar a ferramenta.
Na sua opinião, o trabalho que a geração dos 50+ fazia para aprender no colégio, realizando buscas em enciclopédias e preparando resumos para serem entregues ao professor, desenvolveu um esforço de aprendizado que a favorece na relação com a IA.
“A forma como se interage com a IA influencia diretamente no resultado. Então, nós que temos essa capacidade de analisar e elaborar um pensamento com mais facilidade, conseguimos usar essa ferramenta de uma forma muito melhor”, defende.
Botto acredita que a IA está ajudando a eliminar uma barreira, a ideia de que o profissional 50+ não tem mais a mesma energia e agilidade dos colegas mais novos.
“Com a inteligência artificial, conseguimos não só potencializar nossas habilidades, como também ganhar agilidade, velocidade e entregar resultados muito maiores.”
Ele conta que, no mês passado, participou de uma atividade na faculdade para desenvolver um projeto de inovação com um grupo de jovens da geração Z. “Eles conseguiam programar bem, dominavam a tecnologia, mas tinham extrema dificuldade de pegar essas ferramentas e focar no objetivo, conseguir estruturar um pensamento focado para resolver um problema”, explica. Botto, então, distribuiu atividades para cada um deles e deu o direcionamento necessário para a realização do trabalho.
Na sua análise, os jovens têm dificuldade para falar em público e de fazer uma apresentação estruturada. “Com o uso da IA, conseguimos potencializar todas as nossas habilidades”, reforça. A inteligência artificial, diz ele, pode ajudar o profissional 50+ a fazer muito mais coisas do que somente organizar um currículo. Usando um chatbot, o profissional pode, por exemplo, dizer para ela as atividades em que já trabalhou, detalhar funções e pedir para ajudá-lo a fazer uma apresentação.
Ele próprio contou com ajuda da IA. Colocou para ela que queria ser capaz de fazer uma análise de dados e gerar informações. “O que preciso estudar para fazer isso?” Com a resposta desenvolveu um programa de estudos paralelo à faculdade para atingir seu objetivo.
Botto está criando um negócio para desenvolver programas que automatizam operações, como atendimento de clínicas. Continua com sua atividade de consultor, mas diz que está migrando aos poucos para essa área, orientando empresas como e onde podem usar a inteligência artificial.
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