Em Natal promovido pela prefeitura, imigrantes abrigados em SP relatam dificuldades
Marcel Naves/Portal Viva
Por Marcel Naves
23/12/2025 | 10h29 ● Atualizado | 10h31
São Paulo, 23/12/20205 - Os rostos felizes durante a confraternização natalina promovida pela prefeitura de São Paulo escondem diversas histórias, quase todas tristes e comuns entre aqueles que buscam um recomeço longe de casa. Essa é a realidade de grande parte dos refugiados que chegam à capital paulista pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos, grande parte vinda da cidade de Pacaraima (RR).
Dados da ACNUR, agência da Organização das Nações Unidas no Brasil, mostram que essa cidade, localizada ao norte de Roraima, recebe diariamente 300 imigrantes, que chegam em sua maioria em condições precárias.
A chefe do escritório do Acnur em São Paulo, Maria Beatriz Bonna Nogueira ressalta que diante do cenário mundial, onde 123 milhões de pessoas são forçadas a se deslocar, é fundamental a existência de legislações acolhedoras.
“Acho que em São Paulo temos uma realidade pioneira, é o primeiro município que tem uma política municipal para a população de imigrantes refugiados, o que no Brasil é bem diferente, como em Roraima por exemplo”, reconheceu Nogueira.
Mbuanda Miguel, 38, veio para o Brasil na busca por melhores condições para criar os seis filhos, dois que vieram com ela e quatro que ainda permanecem em Moçambique. Ao chegar no País, ela relata que passou muita fome e frio, chegando até a morar na rua por um tempo. “Se não fosse o apoio que encontrei aqui na Vila Reencontro eu não sei o que seria da minha vida, talvez estivesse embaixo de uma ponte qualquer", desabafa Mbuanda.
Políticas Públicas
Para a Secretária Municipal de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, Angela Vidal Gandra Martins, os desafios existentes são imensos a começar pela conscientização.
“É preciso dar segurança jurídica aos que chegam, por isso sempre orientamos aos imigrantes que busquem os seus consulados para que façam seus documentos, pois não adianta estar aqui ilegalmente”, afirmou.
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Vila Reencontro
Uma das iniciativas da Prefeitura de São Paulo para lidar com o problemas são as chamadas Vilas Reencontro. Esses equipamentos de acolhimento provisório são voltados para famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade. Os 11 espaços existentes na cidade atenderam em 2025 mais de 2.600 pessoas, sendo cerca de 22% estrangeiros.
A Secretária Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social - SMDAS, Eliana Gomes, disse que uma das grandes dificuldades para lidar com esta população é justamente a resistência. “Antes o problema era a falta de vagas, mas hoje é a resistência das pessoas em não irem para os serviços”.
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Estrangeiros da Vila
A jovem Asmay, 23, e o marido Abdulah, 42, estão a pouco mais de um ano em uma das Vilas Reencontro. A marroquina e o iraniano deixaram a Turquia fugindo de conflitos e vieram ao Brasil em busca de emprego e oportunidades de estudo, mas a busca resultou em tragédia.
O filho de sete meses do casal morreu após ficar quatro meses internado no Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste da capital paulista. O pequeno Ali sofria de miopatia miotubular, uma doença rara que provoca fraqueza muscular. A criança faleceu enquanto aguardava transferência.
Apesar disso, o casal relatou à nossa reportagem que não irá desistir do Brasil e espera que a justiça seja feita por seu filho. O caso segue judicializado.
Já a angolana Maria Celestina, 47, deixou seu país após ser espancada e baleada pelo marido. Hoje, morando em um dos abrigos da Vila Reencontro busca melhores condições de vida e emprego. Apesar das dificuldades enfrentadas ao chegar aqui, que segundo o próprio relato vão da fome à falta de abrigo, ela se diz grata.
“Eu chamo o Brasil de mãe, e se pudesse chamaria todo mundo pra vir pra cá, apesar que eu acho que iria ficar um pouco apertado e abafado”, brinca.
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Um Natal no Brasil
A reportagem do portal VIVA ouviu os depoimentos de Mbuanda, Asmay e Maria Celestina durante a realização do “Natal Reencontro das Nações”.
O evento, promovido pelas secretarias municipais de Assistência e Desenvolvimento Social e de Relações Internacionais (SMRI), tem como objetivo promover a integração social entre todo os atendidos pela rede socioassistencial da capital paulista, sejam brasileiros ou imigrantes.
As atividades promovidas pela prefeitura seguem até esta terça-feira, 23, e incluem a realização de ceias e a distribuição de presentes entre todos das Vilas Reencontro.
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