Manuela França/Viva
Publicado em 28/10/2025, às 17h43 - Atualizado às 19h35
São Paulo, 28/10/2025 – A crescente digitalização dos serviços públicos e privados deixou ainda mais evidente a necessidade de inclusão da população idosa. Mas esse processo é muito mais amplo do que apenas ensinar a usar tecnologias: é preciso estimular a análise crítica do que se acessa na web, por meio do chamado letramento digital.
O debate foi ampliado na mesa “Políticas públicas de letramento digital para pessoas idosas”, conduzida por Symone Maria Machado Bonfim, doutora e mestre em Ciência Política e especialista em Política de Cuidados e Gênero. Ela desenvolveu pesquisa homônima para evidenciar o papel do poder público, nas esferas federal, estadual e municipal, na promoção de ações de inclusão digital dos mais longevos.
Leia também: Brasil perde ao não assinar convenção de direitos humanos para idosos da OEA
A palestra foi ministrada nesta terça-feira durante o Congresso Internacional Envelhecer com Futuro, durante o 7º Fórum São Paulo da Longevidade.
De acordo com Bonfim, a exclusão digital aprofunda a divisão etária do acesso ao conhecimento.
“O letramento não é só o domínio da tecnologia, e sim o desenvolvimento da capacidade crítica e autônoma, para o idoso desenvolver o pensamento crítico e saber identificar um golpe e uma informação falsa”, diz.
A pesquisa coletou dados e reuniu informações de órgãos públicos, acionando ministérios, secretarias e documentos legislativos em um recorte temporal de 2015 a 2024. Os resultados mostraram que o País ainda está em fase inicial na construção normativa e que as ações e iniciativas voltadas à inclusão e ao letramento digital têm, muitas vezes, caráter temporário, sem refletir em política pública contínua. “O desafio é crescente, uma vez que a saúde já está se digitalizando, junto também das operações bancárias e sistemas públicos integrados como no gov.br”, afirma a especialista.
Na sequência do painel, Nilthon Fernandes de Oliveira Junior, doutor e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, apontou a dificuldade dos portais da defesa civil para comunicar alertas de desastres ambientais em linguagem acessível à população idosa. “Temos uma lei que unifica as informações de intempéries aos portais da defesa civil, mas, na prática, é uma comunicação que acaba sendo verticalizada e não horizontal”, expõe.
A padronização foi regulamentada em 2012 pela lei que instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Com essa premissa, o pesquisador analisou campanhas de alertas ambientais do órgão em 2023 e 2024, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Bahia e Pará, e constatou que, enquanto alguns portais eram mais inclusivos com a população idosa, com peças visuais e participativas, outros acumularam termos técnicos desconhecidos para uma parcela expressiva da população.
“Mesmo com a lei, ainda persiste uma invisibilidade às pessoas idosas nos portais da defesa civil, na comunicação de riscos, envelhecimento, percepção e consumo informacional”, detalha o pesquisador.
Amanhã, é o último dia do 7º Fórum São Paulo da Longevidade, que é realizado no Centro de Exposições do Expo Center Norte. As inscrições são gratuitas e estão abertas no site oficial do evento.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.
Gostou? Compartilhe
Fórum Longevidade