Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Publicado em 17/11/2025, às 13h37 - Atualizado às 13h38
São Paulo, 17/11/2025 – A Polícia Federal (PF), em operação deflagrada com a Controladoria-Geral da União (CGU), cumpriu dez mandados de prisão preventiva de investigados ligados aos desvios dos descontos associativos na folha de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), além de 63 ordens de busca e apreensão em 15 unidades federativas.
Entre os alvos da PF, estão os ex-presidentes do INSS Alessandro Stefanutto e José Carlos Oliveira, que também foi ministro do Trabalho e Previdência Social.
Apesar de os mandados terem sido expedidos na quinta-feira, 13, apenas nove foram executados – o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), Carlos Roberto Ferreira Lopes, segue foragido.
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Em nota pública, a associação negou que o dirigente esteja foragido; afirmou que ele se encontra inacessível durante uma viagem e que se apresentará às autoridades assim que tiver acesso aos autos. “Ressalta-se que sua ausência não decorreu, em nenhum momento, de tentativa de evasão, ocultação ou resistência à atuação das autoridades públicas.”
As prisões foram determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, a pedido da PF. Além dos dez mandados, o relator requisitou o uso de tornozeleira eletrônica pelo ex-ministro da Previdência durante o governo de Jair Bolsonaro, José Carlos Oliveira, que comandou a pasta até dezembro de 2022.
Entretanto, Mendonça negou o pedido da PF para monitoramento eletrônico do deputado federal Euclydes Petterson (Republicanos-MG), outro alvo da operação, seguindo parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) que considera a medida, por ora, desnecessária.
O ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, responsável pela autarquia quando a primeira fase da operação veio a público, recebia propinas mensais que chegaram a R$ 250 mil e utilizava várias empresas de fachada, incluindo uma pizzaria, uma imobiliária e dois escritórios de advocacia.
A PF avalia que sua posição foi decisiva para blindar o esquema e, antes disso, quando ocupava o cargo de procurador-chefe, facilitar Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) do INSS com entidades fraudadoras.
Outro operador interno da fraude, André Paulo Félix Fidelis, ex-diretor de benefícios do INSS, teve a nomeação articulada para proteger o esquema. Fidelis recebeu R$ 3,4 milhões em propina em troca de omissão na fiscalização dos ACTs e também impediu investigações internas.
Carlos Lopes é presidente da Conafer, entidade responsável pelo desvio de 90% do dinheiro recebido pelo INSS ao longo de cinco anos. Segundo a PF, R$ 640,9 milhões de R$ 708 milhões foram repassados a empresas de fachada e contas de operadores financeiros ligados à associação. À frente da entidade, Lopes é apontado pelas investigações como líder e mentor intelectual do esquema criminoso.
Outro mandado foi emitido para o irmão de Lopes, Tiago Abraão Ferreira Lopes, vice-presidente da Conafer e responsável pelo desvio de mais de R$ 11 milhões, além do uso de empresas familiares para lavagem de dinheiro. Tiago tinha acesso direto aos sistemas da Dataprev e do INSS, enviando listas fraudulentas para inclusão de descontos não autorizados.
Antônio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS", é investigado por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e outros crimes correlatos. O empresário, considerado um dos principais articuladores do esquema, já estava preso preventivamente, mas o ministro do STF manteve a custódia com base em novas evidências.
Sua função, de acordo com a PF, era intermediar repasses entre associações beneficiadas pelos descontos e empresas de fachada ligadas ao casal Thaísa Hoffmann Jonasson e Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, por meio das empresas Prospect Consultoria Empresarial Ltda. e Plural Intermediações S.A.
Ele também é acusado de tentar obstruir a Justiça, mantendo contato com Thaísa mesmo após a deflagração da primeira etapa da operação, a fim de efetuar repasses ilícitos e emitir notas fiscais falsas e retroativas para ocultar valores e dificultar o rastreamento financeiro.
Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador-chefe do INSS, teria recebido R$ 5 milhões em propina e atuado para o desbloqueio de R$ 15 milhões da Conafer, contrariando pareceres técnicos.
Esposa de Virgílio, Thaísa Hoffman é apontada como gestora operacional e financeira do núcleo de lavagem de dinheiro. Ela controlava empresas usadas para emitir notas fiscais falsas e simular contratos e continuou realizando movimentações patrimoniais relevantes mesmo após o início das investigações.
Cícero Marcelino de Souza Santos é considerado o braço financeiro da organização criminosa, responsável pela criação e administração de diversas empresas de fachada usadas para receber e repassar os valores desviados.
Vinícius Ramos da Cruz atuava no núcleo financeiro-operacional do golpe, executando transações ilícitas e servindo de intermediário na ocultação de patrimônio. De acordo com as investigações, Cruz foi usado como “laranja” na aquisição de duas aeronaves de luxo, uma delas vendida após a primeira fase da operação.
Samuel Chrisostomo do Bomfim Junior é acusado de movimentar e lavar cerca de R$ 304,9 milhões por meio de uma rede de empresas de fachada, além de gerir uma entidade paralela, a Associação dos Aposentados do Brasil (AAB).
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