Clubes de leitura se ramificam e ganham força com benefícios para saúde

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Além de estimular o cérebro e criar novas conexões, a leitura tem se mostrado essencial no retardamento do envelhecimento - Envato
Além de estimular o cérebro e criar novas conexões, a leitura tem se mostrado essencial no retardamento do envelhecimento
Por Fabiana Holtz fabiana.holtz@viva.com.br

Publicado em 12/10/2025, às 09h00

São Paulo, 12/10/2025 – A proliferação dos clubes do livro e de leitura pelo país ganharam fôlego desde a pandemia, em 2020, quando as pessoas se viram restritas ao lar e os meios de comunicação e formas de trabalho se reconfiguraram. É sabido que a leitura estimula o cérebro a se adaptar e criar novas conexões. Já os clubes, por conceito, são locais onde se realizam reuniões de caráter recreativo, cultural, artístico, social, entre outros. 

Na data em que é celebrado o dia nacional da leitura é preciso reconhecer os benefícios desse hábito, que além de contribuir para a melhora da saúde mental, estimula o raciocínio, a imaginação, novas amizades e o pensamento crítico.

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Entre os clubes de assinatura mais conhecidos do país está a TAG Livros. Criado em 2014, pelos amigos Tomás Susin, Arthur Dambros e Gustavo Lembert (sim, o nome da empresa representa a junção das iniciais dos três), a ideia era incutir nas pessoas o hábito da leitura através do envio de um exemplar por mês. Onze anos depois, o grupo conta com 45 mil assinantes.

Atualmente o público pode escolher entre duas opções de assinatura: a TAG Curadoria, que tem os títulos escolhidos por escritores já consagrados, ou a TAG Inéditos, com a intenção de apresentar novos talentos da escrita nacional e pelo mundo. O negócio deu tão certo que já se desdobrou em parcerias, com o surgimento do Clube Bookster pelo mundo (em colaboração com Pedro Pacífico), que conta com 5 mil assinantes, e o Atlas Feminino, com Marcela Ceribelli.

O Clube do Bookster esgotou suas vagas nesta primeira edição em 2025, mas já tem a segunda temporada confirmada pela TAG Livros para 2026. "Acreditamos muito no impacto da leitura em saúde mental e longevidade. Há inúmeras comprovações científicas, como as apresentadas por Maryanne Wolf em sua obra, mas acompanhamos isso diariamente pelos relatos dos associados, pessoas lutando contra depressão e ansiedade, por exemplo, que encontram nos livros uma forma de lidar melhor com sua realidade e ver o mundo de outra forma", afirma Gustavo Lembert, CEO da TAG. Quando uma pessoa termina um livro, acrescenta Lembert, algo muda dentro dela. E quando compartilha essa leitura com outros, o impacto se multiplica. 

A experiência de leitura foi enriquecida pela TAG com o desenvolvimento de um aplicativo para auxiliar no controle das leituras e afinar o contato com os assinantes. Nele as pessoas encontram outros assinantes para trocar ideias sobre o que estão lendo. Também é possível acessar a agenda de encontros presenciais sobre o livro do mês. As reuniões ocorrem em todo o Brasil.

Os leitores que querem saber mais sobre tema escolhildo têm ainda a opção de ouvir o ‘Papo de Livro’, podcast criado pelo clube para um bate papo pós-leitura sobre o título do mês. E os mais antenados com o universo musical podem até curtir a leitura acompanhados de uma playlist especialmente pensada para a obra do mês que fica disponível nos tocadores de podcast como Spotify, Amazon Music ou Deezer.

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Casa das Flores

O gosto pela leitura ganha um público cada vez mais fiel e consciente de seus benefícios. No interior de São Paulo, em São José do Rio Preto, Lucila Papacosta Conte, escritora e professora de 76 anos, criou há mais de duas décadas o seu grupo de leitura inspirada nas emoções despertadas pelos clássicos. A turma se reúne na ‘Casa das Flores’, um espaço de cultura local idealizado por ela, desde 2002. Hoje são cinco os grupos de leitura ativos na casa, que desde o fim da pandemia mantém apenas encontros presenciais reunindo perto de 60 pessoas ao todo.

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Grupo criado por Lucila se reúne semanalmente na Casa das Flores para ler clássicos da literatura brasileira e mundial
Foto: Divulgação

“Começamos com 20 pessoas, em dois grupos, sempre no presencial. Lemos em voz alta o livro escolhido durante o encontro. Cada membro lê dois, três parágrafos. Sempre um clássico da literatura, mitologia e filosofia”, conta a escritora, considerada um ícone da cultura local. Na visão de Conte, esse é um canto de acolhimento, amor, pertencimento e aconchego. “Tenho certeza que se não fosse pela literatura eu já não estaria aqui”, diz a escritora, que é graduada em Direito e Letras.

Segundo ela, as pessoas também conversam sobre o texto durante a leitura e vão se conhecendo, se expressando. “Sem dúvida, isso vai construindo vínculos. Temos no grupo pessoas que estão aqui desde o início. Muitos pegaram o nosso modelo e montaram grupos paralelos, o que para mim é motivo de orgulho e alegria. O nosso interesse é que a leitura seja distribuída. São sementes que vamos plantando”, afirma.

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Conte destaca que entre os membros do grupo existem pessoas de todas as idades, que vão de 30 a 90 anos. “Temos grupos com professores universitários, donas de casa, professoras aposentadas, funcionários de bancos”, explica.

O local também já abrigou uma escola de escritores. “Isso faz parte de minha rotina há 23 anos. É uma atividade que me dá muita alegria, pois percebo o entusiasmo de todos que passam por aqui. E muitos comentam comigo sobre as transformações que aconteceram ao longo dos anos de participação do grupo. O reflexo no bem-estar de cada um é nítido”, acrescenta.

Ao comentar porque criou um clube de leitura, e não apenas um clube do livro, ela conclui que ‘a nossa voz também transmite uma história’.

‘Temos fome, somos loucas’

A experiência de entrar para um grupo de leitura, iniciada há mais de 15 anos, foi tão marcante e trouxe tantos benefícios para a jornalista Maura Campanili que precisou ser contada em livro. Em 'Temos fome, somos loucas', publicado pela Editora Pitanga em agosto, a jornalista e escritora revela como o Círculo Feminino de Leitura (CFL), integrado por 11 mulheres 50+, se transformou em uma excelente receita para o bem-estar.

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Campanili (de branco, a direita) considera a experiência de participar de um grupo do livro libertadora
Foto tirada por Cláudia Galego, integrante do grupo de leitura

Segundo ela, aos poucos os encontros literários foram se transformando em rituais de amizade, escuta e liberdade. “Na época, os clubes de livro não eram comuns e tivemos que ir inventando nosso próprio jeito de nos reunir. Achávamos que o interesse poderia se perder com o tempo, mas aconteceu exatamente o contrário. Os encontros foram ganhando mais importância e profundidade”, explica.

A experiência também revelou para a jornalista que ler em conjunto é muito mais do que trocar impressões sobre livros: é criar laços de confiança, resiliência e companheirismo. Ao longo do livro, Campanili relata como as leituras de A Menina da Montanha, de Tara Westover, ou Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, de Sophie Kinsella, provocaram debates sobre identidade, extremismo e consumismo, assim como temas sociais e políticos que marcaram a vida brasileira nos últimos anos.

De brinde, a autora ainda reúne uma lista com mais de 180 obras lidas pelo grupo e um guia prático para quem deseja criar seu próprio clube de leitura.

Campanili afirma que ter esse grupo de amigas é libertador. “E, pelos livros, conseguimos também espaço para intimidade e reflexão. O resultado só pode ser bom”, conclui.

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