Rio, 25/05/2025 - Os sucessivos aumentos nos preços dos alimentos elevaram as expectativas de inflação futura do consumidor nos últimos meses. Contudo, o avanço na renda da população ajudou a evitar um pessimismo mais exacerbado, segundo Anna Carolina Gouveia, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Em março, os consumidores previam uma inflação de 6,6% nos 12 meses seguintes, após ter alcançado 6,8% em janeiro. Em abril, houve novo arrefecimento a 6,4%. O resultado, porém, era mais baixo em setembro de 2024, com uma taxa projetada de 6,0%, quando os alimentos ainda começavam o atual ciclo de aumentos. Atualmente, já são oito meses seguidos de encarecimento dos alimentos, segundo a inflação oficial no País.
O indicador de expectativas inflacionárias dos consumidores, com série histórica iniciada em 2005, chegou a registrar uma inflação máxima projetada de 11,4% em dois momentos diferentes, em fevereiro de 2016 e em julho de 2022.
Para Anna Carolina Gouveia, a melhora no indicador de expectativa de inflação dos consumidores em abril pode ser uma calibragem em relação aos meses anteriores de deterioração, diante de uma percepção de que a inflação não entrou em trajetória de crescimento explosiva.
É possível que os consumidores possam ter reavaliado suas expectativas em relação ao início do ano ao perceberem que, apesar de alguma aceleração, a inflação não está em trajetória de crescimento explosiva.
Ainda segundo Gouveia, com o mercado de trabalho ainda forte e as pessoas com mais renda, elas conseguem fazer alguma substituição de itens, o que ajuda a conter um maior pessimismo. "Apesar de não ser ideal, conseguem ajustar a alta dos preços nos seus orçamentos", completou.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulou uma
elevação de 5,53% nos 12 meses encerrados em abril deste ano. No mesmo período, os gastos das famílias com alimentação e bebidas acumularam um avanço de 7,81%.
"O fato de a inflação não ter acelerado para dois dígitos, por exemplo, principalmente alimentos, é o que me parece ajudar mais nessa calibragem em abril", justificou a pesquisadora do Ibre/FGV.
Houve melhora recente também nas perspectivas do consumidor para a
inflação de mais longo prazo, num horizonte de três anos adiante: após um pico de 8,0% de inflação projetada em fevereiro, houve arrefecimento para 7,8% em março, descendo a 7,3% em abril.