Nova York e Brasília, 25/07/2025 - A uma semana da entrada em vigor da
tarifa de 50% ao Brasil, a escalada de tensões com os Estados Unidos preocupa sob o risco de o presidente Donald Trump adotar mais sanções contra o País. As medidas que usou para ameaçar a Colômbia no início do ano são um exemplo do arsenal que o republicano tem em mãos, e que poderia respingar no campo financeiro.
Mas analistas e diplomatas ouvidos pela
Broadcast avaliam que uma eventual tentativa de retirada do Brasil do chamado sistema "SWIFT" seria algo "absurdo" e "extremamente drástico", além de difícil de se concretizar na prática.
Na última sexta-feira, 18, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que os Estados Unidos poderiam impor novas sanções contra o Brasil - inclusive excluindo o País do Swift - em resposta à
decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que determinou o uso de tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e o proibiu de usar redes sociais.
"Eu rezo a Deus para que a elite brasileira pressione Alexandre de Moraes, porque uma das possibilidades que pode chegar a vir é o desligamento do Brasil do sistema Swift", disse Eduardo, em entrevista à
CNN Brasil. "O Trump fez isso com o Irã, fez isso com a Rússia. Se fizer com o Brasil, vai causar uma pancada muito maior do que a 'tarifa-Moraes' de 50%."
Especialistas ponderam, no entanto, que o governo americano não tem autoridade para decidir pela exclusão do Brasil da rede global de informações financeiras, e precisaria de apoio internacional para tal movimento.
"Isso seria um completo absurdo. Comparar o Brasil com países como Rússia ou Irã é injustificável", diz o diretor gerente e economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Marcello Estevão, em entrevista à Broadcast.
O vice-presidente executivo da Americas Society e do Conselho das Américas (AS/COA), Brian Winter, diz que não ouviu ninguém nos EUA além de Eduardo Bolsonaro mencionar a questão do Swift. "Seria uma medida extremamente drástica que poderia até gerar algum tipo de reação de outros países, mas está claro que Trump, quando pressionado, escalará ao máximo possível", diz o brasilianista, que se dedica a explicar o Brasil aos norte-americanos.
O que é SWIFT?
O Swift é um sistema global de mensagens que conecta 11.500 instituições financeiras em mais de 200 países, facilitando transações monetárias entre eles. A cada três dias, o montante que passa pela plataforma é equiparável ao tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, informa em seu site.
Fundado na década de 1970, o Swift é sediado no município de La Hulpe, na Bélgica, a mais de 6 mil quilômetros de Washington. Por isso, o sistema obedece à legislação da União Europeia (UE), e não às decisões dos EUA, explicam fontes, na condição de anonimato.
As próprias sanções mencionadas por Eduardo demonstram esse quadro. Em março de 2022, por exemplo, foi a UE que decidiu remover sete bancos russos do Swift. Em junho do mesmo ano, o bloco europeu foi o responsável por bloquear o acesso de mais um banco da Rússia ao sistema.
"Não consigo imaginar Trump convencendo o Partido Republicano e o Congresso, de forma mais geral - muito menos os europeus, que são aliados importantes e têm relações próximas com o governo Lula - a apoiar uma medida tão extrema", afirma Estevão, do IIF. "Essa hipótese está fora da realidade atual", reforça.
Para Winter, da AS/COA, o manual de ameaças que Trump usou contra a Colômbia, no início do ano, pode ser replicado no caso do Brasil. Além de tarifas, o arsenal usado para pressionar o presidente Gustavo Petro incluía o fim do processamento de vistos para todos os colombianos e sanções pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro americano (OFAC), que poderiam ter dificultado o acesso da Colômbia ao sistema financeiro internacional.
"O que seria problemático é se os EUA dissessem que o Brasil não é um lugar seguro para os americanos investirem, criando restrições financeiras", diz o economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara.
Winter compara a tensão entre os EUA e o Brasil a um jogo de pôquer, com cada lado empurrando suas fichas para o centro da mesa em meio à escalada das tensões nos últimos dias. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recorreu a outro jogo de cartas para responder a Trump: "Eu não sou mineiro, mas eu sou bom de truco. Se ele estiver trucando, ele vai tomar um 'seis'", afirmou Lula, nesta quinta-feira.
Por sua vez, o presidente americano não comentou do Brasil ao longo desta semana. Somente de forma indireta. Trump afirmou na quarta-feira, 23, que "alguns países com quem não estamos nos dando bem pagarão tarifa de 50%". O Brasil foi o único país que recebeu essa alíquota tarifária até o momento.
Na próxima semana, uma comitiva de senadores do Brasil desembarca em Washington para reuniões na capital americana. Uma segunda missão da iniciativa privada também está sendo costurada, além das negociações capitaneadas pelo
vice-presidente Geraldo Alckmin. Já foram 10 reuniões, segundo Lula.