São Paulo, 06/11/2025 - Sem mudar muito o texto, o
Comitê de Política Monetária (Copom) apresentou ontem um comunicado que frustra expectativas de boa parte do mercado e tem potencial de enfraquecer apostas de início do ciclo de cortes de juros (Selic) na primeira reunião do ano que vem, marcada para os dias 27 e 28 de janeiro. Mas talvez não a ponto de fazer com que esta deixe de ser a expectativa da maioria.
Ao mesmo tempo em que reiteram, agora com confiança ainda maior, a estratégia de juros altos por mais tempo, os diretores do Banco Central (BC) também demonstram maior convicção na desaceleração na atividade econômica e reconhecem uma melhora na
trajetória da inflação.
A avaliação dos economistas após a leitura do comunicado é de que a chance de corte dos juros em dezembro - se alguém ainda acreditava nisso - foi praticamente eliminada. Já em relação a janeiro, as previsões de afrouxamento começam a ser questionadas, ainda que não abandonadas.
Parte do mercado esperava que o Copom retirasse, ao menos, o advérbio "bastante" no aviso, que acompanha as decisões de política monetária desde junho, de que a convergência da inflação à meta demanda juros elevados por tempo "bastante prolongado". Isso seria lido como uma sinalização de que o BC não esperaria mais do que março para começar a cortar a Selic, ajudando a reforçar previsões de início de ciclo em janeiro.
Mas não foi o que aconteceu. O Copom não só repetiu o trecho na íntegra como, na sequência de seu comunicado, demonstrou maior convicção na estratégia. O comitê agora avalia "que" - e não mais "se", como anteriormente - manter a Selic atual (15%) por bastante tempo é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta de 3%.
Para Felipe Cima, especialista da Manchester Investimentos, as apostas ao início do ciclo de corte de juros devem se concentrar em março, e não mais em janeiro. "A expectativa era que o 'bastante' saísse e com isso abrisse uma brecha para que a redução da taxa de juros passasse de março para janeiro. Não deve ser o caso, as apostas agora devem se concentrar em março", comentou.
Já o especialista em política monetária do Santander, Marco Caruso, entende que o comunicado não deve alterar o cenário de quem já projetava cortes a partir de janeiro ou março. Mas ele concorda que o início dos cortes em dezembro praticamente saiu da mesa.
Economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese avalia que o Copom jogou um "balde de água fria" em quem esperava qualquer tipo de flexibilidade em seus próximos passos. "O BC avisa que os juros não vão cair em dezembro, e joga o início dos cortes para o ano que vem - o que já vinha sendo precificado por boa parte do mercado", comentou Helena.