Envato Elements
Por Aline Bronzati e Fabiana Holtz, do Broadcast
[email protected]São Paulo e Nova York, 21/05/2025 - A decisão da agência de classificação de risco Moody's de rebaixar a nota de crédito dos Estados Unidos, anunciada na semana passada, elevou o clima de cautela nos mercados globais com relação a maior economia do mundo, mas o que de fato isso significa para a economia real?
Para entender a importância desse anúncio é preciso ter em mente que a nota de crédito (rating) avalia o perfil financeiro de um país. As agências de classificação de risco como a Moody's, Fitch e S&P divulgam análises pontuais detalhando o estado da economia de determinado país e atribuem uma nota (rating) para sinalizar a capacidade dessa nação em quitar suas dívidas.
Com isso em mãos, os investidores têm um diagnóstico para saber se vale a pena seguir investindo ou não em determinado país. Uma boa nota indica uma economia saudável e abre as portas para novos empréstimos com juros menores, enquanto uma nota mais baixa restringe a possibilidade do país tomar novos créditos, que cobram juros mais altos. É semelhante, guardadas as devidas proporções, a ter o seu nome em uma lista de mau pagadores.
Em uma escala que vai entre A, B e C, com diversos degraus em cada uma delas, a Moody's classifica as economias em pagadores de alta qualidade (A), média (B) e inadimplentes (C). Atualmente, o Brasil a nota do Brasil é Ba1.
Internamente, um país com nota de crédito mais baixa enfrenta, entre outros problemas, dificuldades em captar recursos no exterior, além de ter de lidar com a fuga de investidores. Uma economia em desequilíbrio financeiro também pode se ver obrigada a elevar as taxas de juros para empréstimos, visando controlar a alta de preços para o consumidor.
No caso dos Estados Unidos, apesar do rebaixamento de AAA para Aa1 sua classificaçao segue alta, sendo considerada 'grau de investimento'. Ou seja, caiu um degrau na classificação, mas ainda tem um perfil de bom pagador, apesar de dívida pública de US$ 36 trilhões.
A mudança, apesar de elevar a temperatura em um cenário já tenso diante da guerra comercial dos últimos meses, deve ter um impacto limitado para a economia global, dizem analistas.
Em linhas gerais, a notícia respinga no sentimento do mercado já abalado por expectativas de um maior endividamento e inflação nos EUA. A reação, porém, não deve atingir o mercado de títulos do Tesouro do país (os famosos Treasures - títulos da dívida emitidos pelo governo), que ainda são avaliados como os mais seguros do mundo.
Em outro relatório, publicado ontem, a Moody's também afirma que a série de tarifas comerciais que o governo dos EUA alterou e suspendeu neste ano tem consequências negativas para emissores de dívidas em mercados emergentes, como o Brasil, Isso inclui empresas, governos e bancos.
Em meio a atual instabilidade e incerteza, na visão dos analistas, os investidores globais quem tem dinheiro aplicado em títulos públicos dos Estados Unidos vai exigir uma recompensa ainda maior a partir de agora. Nesse contexto, os investidores tendem a buscar ativos mais seguros e com rendimentos previsíveis, o que deve diminuir a procura por países emergentes como o Brasil.
Em 2011, quando a S&P - outra agência de classificação de risco - fez o primeiro rebaixamento das notas de crédito dos EUA, os efeitos da decisão foram limitados. Depois, em 2023, a decisão da Fitch também não trouxe impacto. O Barclays quanto o Bank of America (BofA), não esperam uma venda forçada de Treasuries no mercado na esteira da decisão da Moody's, embora seja negativo para o sentimento dos investidores.
"Embora o rebaixamento da Moody's seja histórico e atraia a atenção, seu impacto no mercado provavelmente será contido", reforça o presidente da Queen’s College e conselheiro econômico-chefe da Allianz, Mohamed El-Erian.
Ao perder o status 'AAA', nota máxima pela escala da Moody's, os Estados Unidos deixam um seleto grupo que inclui a União Europeia, Canadá e Alemanha. A S&P Global Ratings puxou a fila do movimento, rebaixando os EUA em 2011, e foi seguida pela Fitch Ratings, em 2023.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.