Nova York, 15/09/2025 - Mesmo com a inflação em trajetória de queda, as famílias seguem temendo que os preços subam mais do que apontam os índices oficiais. É o que mostra o relatório trimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), órgão que reúne bancos centrais em todo o mundo, a partir de uma pesquisa realizada entre março e abril de 2025 com 31 países - Brasil incluído.
"Tanto em economias avançadas quanto em economias de mercado emergentes, as expectativas de inflação das famílias para os próximos 12 meses estão elevadas, superando consideravelmente as taxas de inflação vigentes no momento da pesquisa", dizem os autores da pesquisa.
Na prática, isso significa que o consumidor teme um avanço de preços superior ao que os próprios índices atuais indicam e também está mais cético do que os próprios analistas de mercado. A pesquisa do BIS apontou diferenças entre os países analisados, com riscos para as perspectivas de inflação modestamente inclinados para cima nas economias desenvolvidas e para baixo nas emergentes.
No estudo, o BIS detectou que
boa parte das famílias acredita ter perdido poder de compra no pós-pandemia, "ainda que os salários, em muitos casos, tenham acompanhado a inflação". Essa percepção distorcida, adverte o organismo, pode manter "efeitos persistentes nas expectativas" e forçar bancos centrais a prolongar
juros elevados para reancorar as expectativas.
Outro achado relevante do BIS é que as famílias geralmente não responsabilizam os bancos centrais pelo aumento da inflação e apoiam sua independência - elas relataram níveis de confiança maiores que os dos governos.
O apoio à autonomia institucional é mais forte em países desenvolvidos do que em emergentes, muitas vezes alvos de críticas políticas, a exemplo do que já ocorreu no Brasil. Vale lembrar que, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump tem feito pressão constante sobre o Federal Reserve (Fed) para baixar os juros.
"A independência permite que os bancos centrais tomem decisões de política monetária com base em considerações econômicas no interesse público de longo prazo", diz o assessor econômico e chefe do Departamento Monetário e Econômico do BIS, Hyun Song Shin, ao comentar o documento, em conversa com jornalistas.
Por outro lado, o levantamento do BIS mostra conhecimento limitado sobre o funcionamento dessas autoridades, enquanto as redes sociais ganham espaço como fonte primária de informação econômica.
"As redes sociais emergem como uma fonte importante, especialmente em economias de mercados emergentes, onde superam canais de notícias como TV, rádio e jornais".
Para o BIS, engajar o público nesses canais tornou-se essencial. "Famílias com maior conhecimento tendem, de fato, a ter expectativas de inflação mais baixas", avaliam os autores da pesquisa. No Brasil, o Banco Central tem ampliado transmissões ao vivo e conteúdos explicativos.
A pesquisa ouviu cerca de mil pessoas por país, representantes da faixa etária de 18 a 70 anos. A partir de 2026, o módulo de expectativas será anual, permitindo comparar tendências de percepção de preços entre nações avançadas e emergentes.
Em síntese, o BIS reforça que, diante de choques pontuais, a batalha contra a inflação não se ganha apenas nos modelos econômicos: passa também por comunicação clara, presença digital e educação financeira - tarefas que, se negligenciadas, podem transformar pressões transitórias em aumento duradouro das expectativas e, por extensão, das taxas de juros.