São Paulo, 18/09/2025 - Sem promover mudanças significativas, o Comitê de Política Monetária (Copom) entregou o que dele se esperava: um comunicado sem grandes emoções, ou até mesmo entediante, como alguns economistas imaginavam, para explica a decisão de manter a taxa Selic em 15%.
O colegiado de diretores do Banco Central (BC) mostrou, ao fim da reunião desta quarta-feira, 17, que segue atento ao mercado de trabalho aquecido e, consequentemente, sem pressa em começar a cortar os juros. Afinal, com o aumento da renda da população empregada pode vir também maior ímpeto ao consumo, o que pode gerar mais inflação. E o remédio contra a alta da inflação na teoria da política econômica é elevar a taxa de juros, para frear o consumo e também a tomada de crédito por famílias e empresas.
Analistas entenderam o comunicado do BC em tom duro - ou "hawkish", no jargão do mercado -, afastando a chance de taxa Selic mais baixa ainda este ano. Agora, faltam apenas mais duas reuniões do Copom: a próxima em novembro, nos dias 4 e 5; e a última do ano, em dezembro, nos dias 9 e 10.
No trecho que atraiu mais atenções, o BC manteve a indicação de que segue disposto a manter os juros altos por período "bastante prolongado", para combater a inflação. Era o que três a cada quatro agentes do mercado financeiro esperavam, conforme mostrava, antes da reunião, uma pesquisa do BTG Pactual. Retirar a indicação seria visto como uma pista de que os juros poderiam começar a cair nos próximos encontros do Copom, reduzindo assim a liberdade de ação do BC.
Também foi confirmada, como esperado, a retirada da menção sobre a pausa no ciclo de alta da Selic, um mero ajuste na comunicação, sem grande importância em relação aos próximos passos do Copom.
Isso mesmo diante do fato de que o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, tenha dado poucas horas antes um refresco ao cortar os juros dos Fed Funds em 0,25 ponto porcentual.
Por outro lado, mesmo com a valorização do real, melhora da inflação corrente e a queda nas expectativas do mercado, o Copom não recuou um triz em seus prognósticos à inflação no cenário de referência. Segue prevendo inflação medida pelo IPCA em 3,4% - portanto, acima da
meta central de 3% - no primeiro trimestre de 2027, onde termina o horizonte relevante da política monetária.
Para o economista do Santander Marco Antonio Caruso, pode ser que o BC tenha revisado sua estimativa ao hiato do produto. Em outras palavras, a diferença entre o crescimento e o potencial da atividade econômica pode ser maior do que a autoridade monetária calculava antes. Se for assim, avalia Caruso, o IPCA estimado para o segundo trimestre de 2027, que passará a ser o horizonte relevante para decisões de política monetária no último trimestre do ano, "dificilmente" estará ao redor da meta de 3%, reduzindo as chances de cortes na Selic ainda em 2025,
Economista-chefe da XP, Caio Megale avalia que o Copom referendou a visão de que dificilmente haverá cortes de juros no curto prazo. "A cabeça do Copom hoje é para cortes para depois de janeiro do ano que vem. Ele está claramente jogando com a possibilidade de pensar na flexibilização da política monetária só no primeiro trimestre de 2026, e não para o curto prazo", comentou Megale.
Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, o comitê preserva em sua comunicação um tom "bem hawkish", sem dar espaço ao debate sobre redução da Selic no curto prazo. Ainda que a Selic esteja em patamar bastante restritivo, Rafaela entende que a possibilidade de corte de juros ainda em 2025 ficou mais distante. "Com expectativas desancoradas e mercado de trabalho robusto, o comitê indica que não deve ter pressa em iniciar a discussão sobre redução na Selic", avalia a economista-chefe do Inter.