Você saberia administrar R$ 1 bi da Mega da Virada? Especialistas explicam
José Cruz/Agência Brasil/Arquivo
Por Fabiana Holtz e Larissa Crippa
redacao@viva.com.brSão Paulo, 29/12/2025 - A Mega da Virada 2025 será sorteada no dia 31 de dezembro e promete entrar para a história com um prêmio estimado em R$ 1 bilhão. Os jogos dessa edição especial da Mega-Sena, da Caixa, podem ser registrados até às 20h da data do sorteio, que está previsto para acontecer às 22h.
Para se ter dimensão do valor, são nove zeros na cifra: R$ 1.000.000.000,00. Em termos práticos, se um trabalhador conseguir guardar um salário mínimo por mês, sem gastar nada, levaria cerca de 51 mil anos para acumular essa quantia.
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O grande motivo é a crença antiga de que o dinheiro nunca vai acabar. E a esta crença soma-se à ausência de preparo para lidar com uma grande quantia de dinheiro".
Primeiro passo é educação financeira
Sem preparo, um prêmio desse porte pode rapidamente se transformar em um problema, já que decisões mal planejadas, gastos impulsivos e falta de estratégia colocam o patrimônio em risco.
Segundo a 17ª edição da pesquisa Observatório Febraban feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), mais da metade da população brasileira (55%) declara ter baixo domínio sobre educação financeira: 40% dizem ter pouco conhecimento e 15% afirmam não entender nada sobre o tema. Esse cenário contribui para o descontrole.
Mas qual o sentido de ir atrás de dinheiro sem saber administrá-lo? Para Denis Veríssimo, mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, buscar acumular patrimônio sem o preparo necessário para administrá-lo é o primeiro passo para que esse dinheiro se perca em pouco tempo.
Quais os erros mais comuns com muito dinheiro?
Segundo Veríssimo, a ausência de noções básicas de educação financeira compromete a capacidade de administrar grandes quantias de dinheiro. Entre os erros mais comuns de quem ganha na loteria estão a compra imediata de bens de alto valor, como imóveis e veículos, que consomem parte relevante do prêmio e geram custos fixos elevados, como impostos, manutenção e seguros.
É preciso ficar atento se o seu consumo não está superando a renda mensal gerada por esses recursos. Comprar uma mansão, carro, iate ou helicóptero, por exemplo, implica em outras despesas futuras importantes como impostos (IPTU, IPVA) e inclusive gastos fixos para manutenção desse bem adquirido.
Entretanto, eu entendo ser ilusório conselhos como: 'não gaste ou sente calmamente e pense'. Desmistificar a economia é falar da vida real. E na vida real, o principal erro não é gastar. O erro é gastar sem limite, sem plano e sem proteção."
Cuidado com os conselheiros de plantão
Saber controlar os impulsos vale tanto para consumo como para a escolha dos investimentos. "Quando descobrem que você ganhou muito dinheiro, sempre surgem pessoas com grandes conselhos. Seja discreto e procure profissionais para administrar essa fortuna. Fuja de conselheiros de plantão", ensina a especialista.
Discrição e profissionalismo
A palavra chave aqui para uma boa gestão é discrição e profissionalismo. Procure alguém que seja isento, independente e qualificado para administrar esse dinheiro.
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Para o economista Denis Veríssimo, os principais riscos surgem quando o novo padrão de gastos não acompanha a capacidade real de geração de renda do patrimônio. Em sua análise, muitos passam a gastar como se o dinheiro fosse inesgotável, assumem compromissos incompatíveis com os rendimentos e fazem investimentos sem conhecimento técnico, correndo riscos desnecessários.
Esse conjunto de decisões, segundo ele, acelera o esgotamento do prêmio. Sem estratégia, o dinheiro pode desaparecer em poucos anos, deixando a pessoa em situação financeira ainda mais vulnerável do que antes.
Ganhar um prêmio é sorte. Manter o dinheiro é estratégia.
Quando a bolada vira problema, não solução
Denis Veríssimo explica que receber uma grande quantia de forma repentina costuma intensificar problemas financeiros já existentes. Isso acontece porque o prêmio é interpretado como riqueza ilimitada, o que leva ao aumento imediato do padrão de vida e ao consumo impulsivo. “Sem planejamento, o patrimônio se esgota e os problemas financeiros retornam, muitas vezes ampliados”, diz.
Nesse cenário, o dinheiro deixa de ser uma solução estrutural e passa a funcionar apenas como um alívio temporário, mascarando a falta de organização financeira.
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Por onde começar?
- Quanto você pode gastar por mês sem acabar com o patrimônio?
- O que é segurança, o que é sonho e o que é impulso?
- Quais decisões são irreversíveis?
Nesse contexto, Veríssimo aponta três passos essenciais para proteger o patrimônio, especialmente no contexto brasileiro de baixa educação financeira. O primeiro é buscar ajuda profissional. “Contratar um planejador financeiro qualificado é fundamental para evitar decisões impulsivas”, afirma.
O segundo passo é criar um orçamento baseado nos rendimentos dos investimentos, e não no valor total do prêmio. Para ele, o ideal é encarar esses rendimentos como um salário mensal, ajustando o padrão de vida a esse limite, já considerando impostos e inflação.
Por fim, o economista defende a definição clara de objetivos. Antes de gastar, é preciso estabelecer prioridades, como moradia, aposentadoria e segurança financeira. “Essas etapas são essenciais para evitar o erro mais comum: gastar como se o dinheiro fosse infinito”, conclui.
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