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Você saberia administrar R$ 1 bi da Mega da Virada? Especialistas explicam

José Cruz/Agência Brasil/Arquivo

Ausência de educação financeira compromete a capacidade de administrar grandes quantias de dinheiro, diz economista - José Cruz/Agência Brasil/Arquivo
Ausência de educação financeira compromete a capacidade de administrar grandes quantias de dinheiro, diz economista

Por Fabiana Holtz e Larissa Crippa

redacao@viva.com.br
29/12/2025 | 15h18 ● Atualizado | 15h19

São Paulo, 29/12/2025 - A Mega da Virada 2025 será sorteada no dia 31 de dezembro e promete entrar para a história com um prêmio estimado em R$ 1 bilhão. Os jogos dessa edição especial da Mega-Sena, da Caixa, podem ser registrados até às 20h da data do sorteio, que está previsto para acontecer às 22h.

Para se ter dimensão do valor, são nove zeros na cifra: R$ 1.000.000.000,00. Em termos práticos, se um trabalhador conseguir guardar um salário mínimo por mês, sem gastar nada, levaria cerca de 51 mil anos para acumular essa quantia.

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A economista Dirlene Silva ressalta que ganhar na Mega-Sena é sorte, mas manter os recursos é estratégia. Foto: Divulgação
A economista Dirlene Silva, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) ligado ao Ministério das Relações Institucionais do Governo Federal, faz um alerta. Estudos apontam que mais da metade das pessoas que recebem grandes prêmios voltam à situação financeira anterior ou até pior em até cinco anos após a conquista.
O grande motivo é a crença antiga de que o dinheiro nunca vai acabar. E a esta crença soma-se à ausência de preparo para lidar com uma grande quantia de dinheiro".

Primeiro passo é educação financeira

Sem preparo, um prêmio desse porte pode rapidamente se transformar em um problema, já que decisões mal planejadas, gastos impulsivos e falta de estratégia colocam o patrimônio em risco.

Segundo a 17ª edição da pesquisa Observatório Febraban feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), mais da metade da população brasileira (55%) declara ter baixo domínio sobre educação financeira: 40% dizem ter pouco conhecimento e 15% afirmam não entender nada sobre o tema. Esse cenário contribui para o descontrole.

Mas qual o sentido de ir atrás de dinheiro sem saber administrá-lo? Para Denis Veríssimo, mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, buscar acumular patrimônio sem o preparo necessário para administrá-lo é o primeiro passo para que esse dinheiro se perca em pouco tempo.

Quais os erros mais comuns com muito dinheiro?

Segundo Veríssimo, a ausência de noções básicas de educação financeira compromete a capacidade de administrar grandes quantias de dinheiro. Entre os erros mais comuns de quem ganha na loteria estão a compra imediata de bens de alto valor, como imóveis e veículos, que consomem parte relevante do prêmio e geram custos fixos elevados, como impostos, manutenção e seguros.

Natalia Szyfman, responsável pela área de estratégia para clientes da Lifetime Asset Management, atenta também para os gastos envolvidos na gestão de patrimônio.
É preciso ficar atento se o seu consumo não está superando a renda mensal gerada por esses recursos. Comprar uma mansão, carro, iate ou helicóptero, por exemplo, implica em outras despesas futuras importantes como impostos (IPTU, IPVA) e inclusive gastos fixos para manutenção desse bem adquirido.
Segundo ela, o maior erro na hora de uma compra de grande vulto é olhar apenas para o valor daquele item. "Isso acontece em geral por conta da visão de curto prazo, que leva a esses equívocos".
De acordo com Veríssimo, o foco de quem recebe um valor milionário deveria ser a preservação do patrimônio ao longo do tempo. “O objetivo da gestão de um patrimônio milionário deve ser garantir renda vitalícia, permitindo retiradas mensais sem comprometer o valor principal e considerando a inflação”, explica.
Silva ressalta que quando um recurso tão grande chega de forma inesperada, ele vem junto com emoções intensas: euforia, medo e sensação de poder infinito. E decisões tomadas no calor da emoção quase nunca são boas decisões financeiras.
Entretanto, eu entendo ser ilusório conselhos como: 'não gaste ou sente calmamente e pense'. Desmistificar a economia é falar da vida real. E na vida real, o principal erro não é gastar. O erro é gastar sem limite, sem plano e sem proteção."

Cuidado com os conselheiros de plantão

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Natalia Szyfman recomenda planejamento e busca de ajuda profissional. Foto: Divulgação Lifetime Asset Management
"O mais difícil é conseguir controlar os impulsos de consumo e ter calma para analisar todos os aspectos do investimento e não apenas a rentabilidade, sendo que  risco e liquidez são tão importantes quanto ela. Por isso é importante ter um bom planejamento", acrescenta Szyfman. 

Saber controlar os impulsos vale tanto para consumo como para a escolha dos investimentos. "Quando descobrem que você ganhou muito dinheiro, sempre surgem pessoas com grandes conselhos. Seja discreto e procure profissionais para administrar essa fortuna. Fuja de conselheiros de plantão", ensina a especialista.

Silva concorda que junto com muito dinheiro aparecem também as promessas de retorno rápido, investimentos “exclusivos” e soluções mágicas. Sua recomendação: estabeleça critérios e não terceirize decisões importantes sem entender o básico. 

Discrição e profissionalismo

A palavra chave aqui para uma boa gestão é discrição e profissionalismo. Procure alguém que seja isento, independente e qualificado para administrar esse dinheiro.

E fique atento a tributação, acrescenta a especialista. "É essencial uma ajuda especializada para entender como essa fortuna será tributada e descobrir quais seriam os melhores investimentos para preservar seu patrimônio. É necessária uma equipe multidisciplinar com advogados, contadores e gestores", recomenda a especialista da Lifetime.

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Para o economista Denis Veríssimo, os principais riscos surgem quando o novo padrão de gastos não acompanha a capacidade real de geração de renda do patrimônio. Em sua análise, muitos passam a gastar como se o dinheiro fosse inesgotável, assumem compromissos incompatíveis com os rendimentos e fazem investimentos sem conhecimento técnico, correndo riscos desnecessários.

Esse conjunto de decisões, segundo ele, acelera o esgotamento do prêmio. Sem estratégia, o dinheiro pode desaparecer em poucos anos, deixando a pessoa em situação financeira ainda mais vulnerável do que antes.

Dirlene Silva reforça que economia não é somente sobre economizar ou investir, é sobretudo sobre escolhas.
Ganhar um prêmio é sorte. Manter o dinheiro é estratégia.

Quando a bolada vira problema, não solução

Denis Veríssimo explica que receber uma grande quantia de forma repentina costuma intensificar problemas financeiros já existentes. Isso acontece porque o prêmio é interpretado como riqueza ilimitada, o que leva ao aumento imediato do padrão de vida e ao consumo impulsivo. “Sem planejamento, o patrimônio se esgota e os problemas financeiros retornam, muitas vezes ampliados”, diz.

Nesse cenário, o dinheiro deixa de ser uma solução estrutural e passa a funcionar apenas como um alívio temporário, mascarando a falta de organização financeira.

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Por onde começar?

Educação financeira não significa se tornar especialista em finanças, acrescenta Dirlene Silva, mas sim entender o essencial:
  1. Quanto você pode gastar por mês sem acabar com o patrimônio?
  2. O que é segurança, o que é sonho e o que é impulso?
  3. Quais decisões são irreversíveis?

Nesse contexto, Veríssimo aponta três passos essenciais para proteger o patrimônio, especialmente no contexto brasileiro de baixa educação financeira. O primeiro é buscar ajuda profissional. “Contratar um planejador financeiro qualificado é fundamental para evitar decisões impulsivas”, afirma.

O segundo passo é criar um orçamento baseado nos rendimentos dos investimentos, e não no valor total do prêmio. Para ele, o ideal é encarar esses rendimentos como um salário mensal, ajustando o padrão de vida a esse limite, já considerando impostos e inflação.

Por fim, o economista defende a definição clara de objetivos. Antes de gastar, é preciso estabelecer prioridades, como moradia, aposentadoria e segurança financeira. “Essas etapas são essenciais para evitar o erro mais comum: gastar como se o dinheiro fosse infinito”, conclui.

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Natália Szyfman, da Lifetime, recomenda a alocação desses recursos em investimentos mais seguros e com liquidez (com resgate de no máximo 1 dia), como CDB de instituições reconhecidas ou fundos de liquidez diária como Tesouro Selic.  "Evite produtos com alto risco e procure separar os recursos em planos de curto, médio e longo prazo".
A especialista recomenda a administração desse patrimônio em três caixinhas. A primeira envolve segurança financeira, pensando em despesas do dia a dia e em uma reserva de emergência. A segunda, de médio prazo, deve contemplar planos como a faculdade dos filhos e viagens uma a duas vezes por ano. No longo prazo é importante considerar estratégias que visam a manutenção do novo padrão de vida alcançado.

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