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São Paulo, 24/10/2025 – O brasileiro costuma ter em mente uma idade prevista para se aposentar, mas curiosamente poucos se preparam financeiramente para isso. Apenas 18% dos brasileiros já começaram a formar uma reserva financeira voltada para a aposentadoria, segundo recente pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Datafolha. E mais, 55% dos entrevistados disseram ter intenção de começar a poupar para esse fim, mas ainda não deram o primeiro passo.
Ter disciplina financeira de fato exige uma mudança de comportamento. E assumir novos hábitos nessa área, importante reforçar, pode trazer um ganho de qualidade de vida e tranquilidade em diversas outras áreas, lembram os planejadores financeiros e economistas.
Felizmente, falar sobre o assunto está deixando de ser tabu, segundo recente pesquisa sobre a relação do brasileiro com o dinheiro, realizada pelo Itaú Unibanco em parceria com o Grupo Consumoteca. O time de Fernanda Moura, chefe de Planejamento Patrimonial na Lifetime Investimentos, realiza de 40 a 45 reuniões por semana sobre gerenciamento financeiro e metade dos clientes que atende – e tem patrimônio acima de R$ 1 milhão – estão acima de 50 anos.
“Tive clientes que perderam o emprego aos 50 anos e que precisaram se reestruturar completamente. Nessa hora o maior custo que percebo é o plano de saúde, que em geral o cliente possuía por intermédio da empresa em que trabalhava”.
Moura menciona um caso familiar como exemplo do forte impacto que a falta de planejamento tem no momento da aposentaria. “Meu pai que é médico, tem 70 anos, trata um câncer, não se planejou financeiramente e agora simplesmente não pode parar de trabalhar”, conta. Somado a esse cenário, que tem se tornado bastante comum, o que se observa também são pessoas que nessa fase da vida além de sustentar os filhos precisam cuidar dos pais.
Bruno Correa, sócio da TAG Investimentos, concorda com Moura, e avalia que a população em geral está buscado entender melhor sobre finanças, mesmo os mais endinheirados, que se preocupam com a dilapidação do patrimônio pelos filhos.
“Atualmente atendemos 106 clientes na faixa acima de 50 anos. A maioria possui filhos e todos estudam ou trabalham e tem demostrado interesse em aprender mais sobre investimentos”.
Correa pondera que seus clientes geralmente possuem consciência financeira, mas não têm tempo ou conhecimento suficiente para olhar para os seus investimentos. “Estão buscando por profissionalização na gestão de suas vidas financeiras para manter seu padrão de vida”.
Em seu trabalho, o gestor financeiro diz que estuda a realidade da família do cliente que o procura, para entender suas necessidades e preocupações. “Com base nisso, traçamos um perfil e procuramos sempre oferecer as melhores opções dentro desse cenário”, afirma. Segundo ele, a maior parte de seus clientes chega ciente de que tem um problema para resolver e disposto buscar soluções.
"E da minha parte, principalmente no início a escuta é a principal ferramenta", explica Correa. Com muita conversa é possível encontrar um caminho viável inclusive para se planejar uma sucessão patrimonial, acrescenta.
Na rotina de Fernanda Moura com seus clientes ela tem percebido um maior interesse dos mais jovens em proporcionar educação financeira para os filhos. Em seu atendimento, conhecido internamente como clínica financeira, ela busca traçar a rotina financeira do cliente para identificar ajustes que possam garantir um futuro mais tranquilo.
Mas do que se trata uma clínica financeira? Por meio de planejamento estratégico e personalizado, o especialista oferece uma análise clara e objetiva para avaliar se o patrimônio atual do cliente tem potencial de perpetuidade. Nesse processo, aponta Moura, é possível identificar ações para proteger e evoluir o estilo de vida com segurança.
Além disso, aponta ela, as instituições financeiras estão chamando atenção para a importância de ter esse conhecimento. “Percebo ainda que quando a pessoa tem a percepção do seu poder de poupar ela consegue ir até mais longe”. A mudança de comportamento em alguns casos é nítida.
“Depois de um ano já percebemos uma mudança de postura, mas tem cliente que eu preciso agendar um encontro de três em três meses. Isso para revisitar o custo de vida, se os ajustes estão funcionando. Sentimos que a pessoa gosta dessa dinâmica”.
Como exemplo ela conta a história de uma cliente que tinha potencial para guardar R$ 50 mil por mês e no ano seguinte ela já tinha conseguido guardar R$ 80 mil por mês. “Tudo é uma questão de consciência financeira. E esse processo pode ser leve, acontece de forma gradual”.
Em outro caso, uma cliente de 67 anos, aposentada com patrimônio de R$ 13 milhões, a procurou ao perceber que a conta do seu orçamento doméstico não estava fechando e seus recursos poderiam se esgotar rapidamente se nada fosse feito.
“Fizemos os cálculos e concluímos que para começar a poupar ela deveria adotar algumas mudanças importantes de comportamento ou ficaria sem nada em 10 anos, no máximo 15 anos”, conta Moura.
Uma particularidade desse caso é que a cliente era a responsável pelo sustento de dois filhos adultos, que não trabalhavam. Apesar da maior consciência da nova geração, conta a especialista, ainda existem muitos casos como o dela, que não se preocuparam em oferecer educação financeira para os filhos e começam a ver seu patrimônio ser dilapidado.
Independente do gênero, raça ou classe social, se você tem R$ 1.000 na poupança ou R$ 500 milhões entre imóveis e mercado de ações, ter consciência sobre como usar o seu dinheiro sempre será sinônimo de independência financeira.
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