São Paulo, 20/10/2025 - Há quem prefira morar em casa e há quem goste mais de apartamento, mas essa tendência tem muito mais a ver com a idade e as condições sociais do que apenas com gosto pessoal. É o que aponta um estudo do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que este ano analisou as preferências habitacionais entre diferentes gerações.
Segundo a análise, entre os mais jovens, nascidos a partir de 1997, o sonho de viver em uma casa ainda habita no imaginário de 75% das pessoas. A tendência diminui com as gerações anteriores: na chamada Geração Y, nascidos entre 1981 e 1996, o desejo cai para 58,1%.
Já entre os mais maduros, especialmente os nascidos entre 1945 e 1964, a taxa cai para 38% e acontece uma inversão de expectativas. Nessa faixa, acontece uma inversão de expectativas, com 46,8% deles desejando morar em apartamentos.
"Atribuímos esse padrão ao chamado ‘efeito de experiência’: quanto mais vivências habitacionais ao longo da vida, maior o reconhecimento das vantagens práticas dos apartamentos, como acessibilidade, segurança e baixa manutenção. E cabe lembrar que esse pensamento reflete as percepções dos entrevistados nas áreas urbanizadas das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil", destacou em nota o urbanista Rafael Kalinoski, doutor e pesquisador da PUCPR, um dos responsáveis pelo estudo.
Do tradicional ao flexível
De um modo mais amplo, a pesquisa mapeou três perfis distintos de aspirações habitacionais, associados a diferentes gerações. Foram ouvidos indivíduos da classe média urbana de diferentes faixas etárias.
O primeiro é o perfil tradicional, mais comum entre os nascidos entre 1945 e 1964, que associa a posse do imóvel à segurança e ao status social. Esse grupo é chamado de Boomers, no jargão internacional das gerações.
O segundo é o perfil pragmático, predominante entre a Geração X, com nascidos entre 1965 e 1984. Para a maioria desse grupo, o imóvel representa proteção do patrimônio familiar e garantia de valorização ao longo do tempo.
Já o terceiro é o perfil flexível, mais presente entre jovens nascidos a partir de 1985, que tendem a priorizar liberdade e experiências de vida, como viagens ou mobilidade, em vez de assumir compromissos de longo prazo com financiamentos imobiliários, e que não veem a propriedade de imóveis como o único caminho para a segurança.
"Embora o aluguel tenha ganhado espaço nos centros urbanos, 90% dos entrevistados afirmaram desejar a casa própria na terceira idade. Para a maioria, o aluguel é uma solução temporária diante das dificuldades econômicas, e não uma escolha definitiva de estilo de vida", afirma Kalinoski.
Ele diz ainda que os padrões observados desafiam "narrativas simplistas" de uma suposta ‘geração aluguel’. "Há uma série de fatores individuais, sociais, temporais e espaciais, que, somados às condições econômicas, mudanças políticas e circunstâncias pessoais, ajudam a explicar o desejo pela casa própria”, observa.
"Não estarem presos a uma propriedade permite que explorem oportunidades educacionais, profissionais e pessoais sem as restrições que a aquisição de uma casa própria e suas dívidas associadas podem impor. Mas os jovens podem abraçar esse ideal não porque realmente o prefiram, mas porque veem a aquisição de uma casa própria como inatingível", conclui Kalinoski.