EUA acusam Brasil por concorrência desigual, PIX e rua 25 de Março

Paulo Pinto/Fotos Públicas

Até a rua 25 de Março é citada na peça de acusação dos EUA ao Brasil sobre práticas comerciais consideradas injustas - Paulo Pinto/Fotos Públicas
Até a rua 25 de Março é citada na peça de acusação dos EUA ao Brasil sobre práticas comerciais consideradas injustas

Por Pedro Lima, da Broadcast

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Publicado em 17/07/2025, às 11h32

São Paulo, 17/07/2025 - O governo dos Estados Unidos, por ordem direta do presidente Donald Trump, abriu uma investigação contra o Brasil por práticas comerciais que considera "injustas ou discriminatórias" e que "restringem ou oneram o comércio" com empresas americanas. O processo da Seção 301 foi iniciado formalmente na terça-feira e será publicado amanhã, sexta-feira, no Federal Register, o diário oficial americano.

A Seção 301 da Lei do Comércio dos EUA prevê a adoção pelo governo de retaliações comerciais caso julgue qualquer ato, política ou prática injusta de um governo estrangeiro em relação ao comércio do país.

Entre os principais pontos, o documento assinado pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) acusa o Brasil de conceder tarifas preferenciais à Índia e ao México, mas não aos EUA, criando um ambiente de concorrência desigual.

Segundo a investigação, "o Brasil aplica tarifas mais baixas apenas a determinados grandes parceiros comerciais em setores específicos", enquanto mantém tarifas elevadas para produtos americanos. Como exemplo, cita-se que veículos do México entram no Brasil sem tarifas, enquanto similares dos EUA pagam entre 14% e 35%.

O Brasil também é acusado de enfraquecer o combate à corrupção. O documento menciona "acordos opacos de leniência com empresas corruptas" e críticas a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que anularam condenações por lavagem de dinheiro em "um caso altamente divulgado".

Rua 25 de março e agro

Outro foco é a proteção à propriedade intelectual. O governo americano afirma que a rua 25 de Março, em São Paulo, "permanece há décadas como um dos maiores mercados de produtos falsificados", e que não há punições duradouras para coibir essas práticas.

O acesso ao mercado de etanol também é alvo de críticas. Após anos de comércio praticamente livre, "o Brasil abandonou essa abordagem mutuamente benéfica" e voltou a impor tarifas, o que teria derrubado as exportações americanas de US$ 761 milhões em 2018 para US$ 53 milhões em 2024.

A investigação ainda aponta que produtores brasileiros de soja e milho utilizam "terras ilegalmente desmatadas", o que geraria uma vantagem competitiva injusta frente aos agricultores americanos. A prática estaria ligada a "corrupção sistêmica e uso de documentos fraudulentos", permitindo que madeira e produtos agrícolas ilegais cheguem ao mercado dos EUA.

Pix e medicamentos

O Escritório do Representante Comercial americano (USTR) afirma que atos e políticas brasileiras prejudicam empresas americanas de tecnologia, restringem a liberdade de expressão e impõem barreiras à inovação.
Segundo o texto, decisões do STF e ordens judiciais "secretas" afetam diretamente plataformas dos EUA. "Cortes brasileiras emitiram ordens secretas instruindo empresas americanas de redes sociais a censurar milhares de postagens e desativar contas de dezenas de críticos políticos, incluindo cidadãos dos EUA, por discursos legais em solo americano". Para o governo dos EUA, essa postura pode "aumentar significativamente o risco de dano econômico" às empresas e "restringir a liberdade de expressão, inclusive política". 
Outro ponto sensível é o favorecimento a soluções locais. O texto aponta que o Brasil adota "práticas injustas" ao "favorecer serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo", o Pix - que não foi citado nominalmente -, em detrimento de concorrentes internacionais.
O USTR também critica o regime de proteção de dados brasileiro, alegando que o País impõe "restrições excessivamente amplas à transferência de dados pessoas para fora do Brasil", o que dificultaria o fornecimento de serviços digitais e elevaria custos de compliance para empresas americanas.
Por fim, os EUA questionam a morosidade na concessão de patentes, especialmente no setor farmacêutico. Segundo o documento, o tempo médio de análise é de quase sete anos, chegando a 9,5 anos em medicamentos aprovados entre 2020 e 2024, o que "compromete a vigência da patente" e desestimula a inovação.
Na semana passada, o Broadcast apurou que o governo brasileiro estaria criando um grupo para avaliar de que forma o País poderia retaliar as tarifas de 50% anunciadas pelos EUA, incluindo a possibilidade da antecipação do fim de patentes de medicamentos americanos.

A USTR informa que fará uma audiência pública em 3 de setembro e, se necessário, em 4 de setembro.

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