São Paulo, 05/11/2025 - O Ministério da Saúde confirmou nesta quarta-feira que vai ampliar o fornecimento de insulina glargina no País ainda este ano, via Sistema Único de Saúde (SUS). O medicamento é uma versão sintética análoga à insulina humana e é indicado para o tratamento de pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2.
A expansão se deve a uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) firmada este ano entre o Ministério da Saúde com a Bio-Manguinhos/Fiocruz, a empresa brasileira Biomm e a farmacêutica chinesa Gan & Lee. A previsão inicial é produzir mais de 100 milhões de frascos do medicamento ao ano. Até então, esse tipo de produto era fabricado apenas exterior.
"Essa parceria prevê a transferência de tecnologia entre a farmacêutica Gan & Lee e a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). Com capacidade própria de fabricação, o País fortalece o Complexo Ecônomico-Industrial da Saúde e reduz a dependência externa do sistema de saúde brasileiro", disse o Ministério em nota ao Viva.
A parceria também incluiu um contrato de fornecimento com a Biomm de aproximadamente R$ 131 milhões, referente às primeiras entregas do medicamento. Segundo o Ministério da Saúde, a estimativa de entrega é de 6,8 milhões de unidades ainda este ano.
O CEO da farmacêutica Biomm, Heraldo Marchesini, disse em entrevista ao Viva que a parceria marca "o início do processo de substituição da insulina humana pela insulina glargina no Brasil", seguindo uma tendência já consolidada em mercados internacionais. "A insulina glargina oferece maior segurança aos pacientes em comparação à insulina humana NPH, sendo atualmente a insulina basal mais utilizada no mundo", poderou. O objetivo é que a parceria tenha duração de 10 anos.
Vai ser a primeira vez que o SUS vai fornecer esse insumo, que é mais seguro para pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2", observa o executivo.
Fábrica da Biomm, em Nova Lima (MG) será responsável pela produção da insulina glargina na parceria com o Ministério da Saúde - Phillipe Guimaraes/Biomm
A expectativa da empresa é atingir 30% do mercado após as entregas dos primeiros 12 meses, com projeção de alcançar os 85% de participação global nos anos seguintes.
Na parceria assinada, a empresa chinesa Gan&Lee se compromete a transferir a tecnologia de fabricação da matéria-prima para a Bio-Manguinhos, que passará a fabricar o insumo nacionalmente, utilizando a fábrica da Biomm, em Nova Lima (MG).
Marchesini afirmou ainda que a distribuição já está pronta para ser iniciada, uma vez que a produção do insumo estava sendo reforçada desde o início do ano para suprir a nova demanda.
Em nota, a vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz, Priscila Ferraz, disse que a PDP tem papel estratégico:
"Esta parceria concretiza não apenas uma estratégia de produção nacional de um medicamento essencial e de crescente demanda do SUS, a insulina glargina, mas representa incorporação de capacidade tecnológica e industrial no Complexo Econômico – Industrial da Saúde (CEIS), posicionando o Brasil de forma diferenciada na produção de biossimilares para atendimento às necessidades de saúde pública da população."
De acordo com a coordenadora do departamento de saúde pública da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Karla Melo, a glargina é uma insulina basal sintética que age para manter a glicemia normal no espaço entre as refeições e enquanto seu usuário dorme, graças a sua ação de longa duração.
Atualmente, o item é oferecido somente para tratamento em pessoas com diabetes tipo 1, mas apenas àqueles que apresentam maior sensibilidade à insulina de origem humana. Com a ampliação do Ministério da Saúde, o medicamento também chegará a pacientes com o tipo 2 da doença.
"Quem se beneficia mais da substituição da insulina humana pelo análogo de ação prolongada são justamente as pessoas mais idosas e com mais tempo de diagnóstico porque elas são mais sensíveis na ação da insulina humana, assim com pessoas com índice de massa corpórea (IMC) menor que 25, porque apresentam mais hipoglicemia", esclarece Melo.
Faltam canetas para aplicação de insulina humana
Ainda de acordo com a representante da SBD, a nova distribuição de insulina sintética também pode ajudar a reduzir um "problema grande na administração das insulinas humanas", que tem sido causado pela falta de canetas para a aplicaçao do insumo.
Isso porque, diferentemente da insulina glargina, que será distribuída com aplicador, a insulina regular disponível no SUS precisa ser aplicada com uma caneta reutilizável.
"Foram adquiridos muitos refis da insulina NPH pelo Ministério da Saúde, mas eles devem ser inseridos em canetas de administração permanentes. O problema é que não tem canetas no Brasil para colocar esses refis, e as que têm não chegam a todos os Estados e municípios. O número que chega hoje é pequeno para a quantidade de pacientes. Isso também é um motivo para o crescimento dos análogos", observa Karla Melo.
Em setembro, o Ministério da Saúde anunciou a compra de 321,4 mil canetas desse tipo para aplicação de insulina NPH e regular, com validade de três anos após o primeiro uso. Somente em 2025, a Pasta diz que já foram entregues mais de 2,1 milhões de unidades do item.
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