Divulgação Atitus Educação
Publicado em 05/05/2025, às 12h31
São Paulo, 05/05/2025 - Em um cenário onde a humanização da saúde ganha cada vez mais espaço, um ensaio clínico randomizado inédito no Brasil chama a atenção por investigar o uso de cães como aliados no combate à ansiedade e ao medo de crianças durante atendimentos odontológicos. Conduzida pelo programa de doutorado em Odontologia da Atitus Educação, instituição de ensino superior com unidades em Porto Alegre e Passo Fundo (RS), a pesquisa avalia os efeitos da Terapia Assistida por Animais (TAA) sobre parâmetros objetivos e subjetivos da criança durante atendimentos odontopediátricos.
A estrela do projeto é Campeira, cachorra da raça Collie treinada para participar das consultas de crianças de 5 a 12 anos que apresentam medo em consultas com dentistas. O objetivo da pesquisa é comparar atendimentos realizados com e sem a presença do animal, analisando indicadores como ansiedade, percepção da dor, sinais vitais e até a qualidade de vida relacionada à saúde bucal. A proposta tem potencial para transformar práticas na odontopediatria, ao trazer para esse campo os benefícios já reconhecidos da TAA em áreas como medicina e fisioterapia.
“Queremos validar cientificamente se a presença de um cão pode humanizar o atendimento odontológico, diminuindo a ansiedade e o medo infantil”, explica Bernardo Antonio Agostini, professor da instituição e um dos orientadores do estudo. A iniciativa é liderada pelas doutorandas Juliane Taufer, odontopediatra, e Juliana Sebem, médica veterinária, com orientação de Agostini e Fernanda Ruffo Ortiz.
Uma das frentes do estudo é o cuidado com o bem-estar da cadela, que participa dos atendimentos em ambiente controlado e sob acompanhamento veterinário. “Ela está sempre tranquila, procura as crianças para interagir e parece gostar de estar ali”, acrescenta Sebem. A raça Collie é conhecida pelo seu alto potencial de aprendizado.
Em análises iniciais, o grupo já observou que crianças que inicialmente demonstram resistência ao atendimento mudam de comportamento ao interagir com Campeira. “Elas se sentem mais confiantes e colaborativas. O medo cede espaço à curiosidade e ao carinho”, relata a médica veterinária. Os resultados finais estão previstos para serem divulgados até o fim de 2025 e podem abrir caminho para a implementação da TAA como uma ferramenta complementar no atendimento odontológico infantil em todo o País.
Segundo estudo publicado este semestre no periódico Complementary Therapies in Clinical Practice, a Terapia Assistida por Animais surgiu na década de 1970, com pesquisas iniciais na década de 1980, e cresceu em reconhecimento e aplicação clínica nas últimas décadas. Ele se baseia na companhia humano-animal de longa data e tem sido cada vez mais integrada à prática terapêutica para fornecer apoio às pessoas com dificuldade de adesão aos tratamentos convencionais.
O estudo traz um levantamento de 12 temas relacionados a esse tipo de terapia, com benefícios que ajudam desde crianças até pessoas 60+, especialmente em casos de demência. Os pesquisadores afirmam que, embora mais regulamentos e processos de padronização precisem ser estabelecidos, os resultados gerais demonstram que os animais ajudam a regular as emoções, o aprendizado e a melhorar a relação dos pacientes com o tratamento médico, aumentando a adesão.
O estudo sugere ainda que a TAA se presta a diferentes modelos terapêuticos, configurações e grupos de pacientes, mas o papel do animal permanece semelhante em todos os casos, pontuando que os animais não devem ser vistos como ferramentas de tratamento nem co-terapeutas, mas sim como auxílio para oferecer benefícios terapêuticos por meio de sua presença natural no espaço.
No Brasil, a TAA é regulamentada pela Lei Federal 13.830, de 2019, que reconhece a terapia com cavalos (equoterapia) em todo o território nacional. Já a utilização de outros animais, como a cinoterapia, que é feita com cães treinados, é regulada diretamente pelos Estados.
"Nossa pesquisa vem para avaliar e atestar a comprovação científica dessa prática no ambiente odontológico para atendimento infantil. Em caso de sua devida comprovação, poderemos fornecer subsídios para que novas regulamentações sobre seu uso venham a acontecer em âmbito público e privado. Até o momento, seu uso fica a caráter de pesquisas científicas."
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