Pesquisadores alertam sobre dependência química entre pessoas idosas
Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brSão Paulo, 16/10/2025 - Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão chamando a atenção para um fenômeno preocupante e ainda pouco discutido: o aumento da dependência química entre pessoas com mais de 60 anos.
A questão foi abordada em uma Carta ao Editor publicada no periódico científico World Journal of Psychiatry, na qual os especialistas alertam que o uso de álcool, maconha, analgésicos, tranquilizantes e outros medicamentos vem crescendo de forma alarmante nessa faixa etária.
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O texto, intitulado Empoderando adultos mais velhos: aprimorando a alfabetização sobre dependência química para lidar com vulnerabilidades específicas, foi assinado pelo psicólogo Kae Leopoldo, professor do Instituto de Psicologia da USP, e pelo psiquiatra João Maurício Castaldelli Maia, professor da Faculdade de Medicina da USP.
O conceito de letramento em dependência química se refere à capacidade de compreender informações, reconhecer riscos e tomar decisões conscientes sobre o uso de substâncias.
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Segundo os pesquisadores, muitos idosos não recebem orientações adequadas sobre o perigo de misturar remédios com álcool ou sobre o uso de drogas terapêuticas, como a maconha medicinal.
Essa falta de informação aumenta o risco de dependência e agrava problemas de saúde física e mental.
Os autores destacam que a educação em saúde pode ser uma ferramenta poderosa para reduzir vulnerabilidades e promover o envelhecimento saudável, especialmente num contexto de rápido crescimento da população idosa.
Perigos do isolamento social
Entre os estudos analisados pelos pesquisadores, um trabalho realizado por cientistas da Universidade de Huzhou, na China, revelou a relação entre isolamento social e sofrimento psicológico em idosos pré-frágeis, pessoas que apresentam:
- Perda de peso;
- Lentidão;
- Fraqueza muscular.
A pesquisa concluiu que o isolamento social diminui a alfabetização em saúde, o que aumenta o sofrimento mental e pode levar ao consumo de substâncias químicas como forma de enfrentamento emocional.
Crescimento do uso de cannabis entre idosos
O estudo avaliou mais de 30 mil citações e 134 pesquisas científicas, concluindo que, embora a substância seja usada com fins medicinais, seus efeitos em idosos ainda são pouco compreendidos e muitas vezes perigosos.
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Alterações fisiológicas e cognitivas relacionadas à idade tornam o organismo mais sensível à droga, elevando os riscos de depressão, ansiedade, quedas, acidentes e comprometimento da memória.
Os pesquisadores ressaltam que os possíveis benefícios terapêuticos da cannabis são limitados e inconsistentes, e que o uso sem acompanhamento médico pode trazer mais prejuízos do que vantagens.
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O especialistas defendem campanhas educativas adaptadas ao público idoso, com foco em três eixos principais:
- 1. Conscientizar sobre interações perigosas entre medicamentos, álcool e outras drogas;
- 2. Promover o uso responsável de substâncias terapêuticas, reforçando que a abstinência é a opção mais segura em grande parte dos casos;
- 3. Criar ambientes acolhedores e sem julgamentos, onde idosos possam buscar orientação e apoio psicológico.
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Os autores reforçam que fortalecer o letramento em dependência química não é apenas uma questão de informação, mas de autonomia, dignidade e cuidado social.
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