PMEs são maioria nos planos de saúde, mas corporações reúnem 40% dos beneficiários

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Estudo sobre planos de saúde mostra distribuição de contratos e beneficiários por setor econômico; maioria é de empresas com até quatro funcionários - Adobe Stock
Estudo sobre planos de saúde mostra distribuição de contratos e beneficiários por setor econômico; maioria é de empresas com até quatro funcionários
Por Bianca Bibiano bianca.bibiano@viva.com.br

Publicado em 08/09/2025, às 11h16

São Paulo, 08/09/2025 - A saúde privada no Brasil é marcada por uma forte presença dos planos do tipo coletivos empresariais, modalidade contratada por empresas para oferecer cobertura médico e hospitalar a seus empregados e, muitas vezes, também a seus dependentes.

Um novo estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) a partir de dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mostra que desde o início dos anos 2000 esse tipo de contrato é a principal forma de acesso à saúde suplementar no Brasil, reunindo 71% dos vínculos em planos médico-hospitalares, o equivalente a cerca de 37 milhões de beneficiários em 2024.

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Reprodução: “Estrutura e Dinâmica dos Contratantes de Planos Coletivos Empresariais no Brasil”/IESS/2025

Ao todo, mais de 2,3 milhões de empresas mantinham planos coletivos empresariais médico-hospitalares, sendo 88% delas com no máximo quatro titulares. Quando consideradas também as faixas de cinco a 19 titulares, observa-se que mais de 95% dos contratos estão associados a empresas de micro e pequeno porte.

O estudo menciona que esses dados representam salões de beleza, escritórios de advocacia e contabilidade, consultórios médicos e odontológicos, padarias, prestadores de serviços técnicos, entre outros, que contratam planos de saúde para um grupo restrito, muitas vezes apenas os sócios ou uma pequena equipe.

Contudo, os dados sobre beneficiários revelam uma dinâmica oposta. Planos com mais de 1.000 titularidades representam apenas 0,1% dos contratantes, mas concentram mais de 40% das vidas cobertas.

Esse grupo contratante inclui grandes conglomerados empresariais, como bancos, redes hospitalares, operadoras logísticas, multinacionais industriais e empresas de energia e telecomunicações, com milhares de empregados distribuídos nacionalmente. "Ainda que sejam numericamente minoritárias, essas organizações exercem papel estrutural na sustentabilidade do setor", pondera o estudo.

Para o superintendente executivo do IESS, José Cechin, essa pulverização é positiva para o acesso, mas desafia operadoras e os próprios contratantes para o desenvolvimento de estratégias de cuidado à saúde.

Quando olhamos que 0,1% das empresas concentram mais de 40% dos beneficiários, é bastante factível pensar em programas de cuidado e promoção à saúde. Por outro lado, 95% dos contratos estão concentrados em empresas de até 19 beneficiários, o que traz muita complexidade nessa frente".

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Segmentos com maior contratação de planos de saúde

O setor de Serviços abriga 1,33 milhão de contratantes (57,6% do total) e responde por 20,57 milhões de beneficiários (55%). A Indústria, com 203,1 mil empresas (8,8%), cobre 9,54 milhões de beneficiários (25,5%), evidenciando maior densidade de vínculos por contrato.

Já o Comércio aparece com 661,4 mil contratantes (28,6%) e 5,67 milhões de beneficiários (15,2%), enquanto a Construção soma 98,2 mil empresas (4,2%) e 1,32 milhão de beneficiários (3,5%). A Agropecuária, por sua vez, registra 17,3 mil contratantes (0,8%) e 313 mil beneficiários (0,8%).

Segundo Cechin, esse é um retrato de como os contratos coletivos estão diretamente associados à dinâmica do mercado de trabalho formal.

"Os serviços asseguram a maior base contratual, mas é na indústria que observamos a maior densidade de beneficiários por empresa, refletindo estruturas mais organizadas de benefícios e ligadas ao emprego formal. Já setores como comércio, construção e agropecuária, fortemente compostos por pequenos empregadores, tendem a apresentar coberturas mais restritas em número de vidas."

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Utilizando uma metodologia da ANS, que agrupa as atividades econômicas em grandes setores a partir das seções da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE), o estudo também detalha os segmentos específicos da economia que concentram o maior número de contratos coletivos empresariais. Essas sete divisões somam aproximadamente metade de todos os contratos empresariais de planos médico-hospitalares no País.

  • Comércio varejista: 461,4 mil contratantes (19,9% do total) e 3,13 milhões de beneficiários (8,4%);
  • Serviços de escritório e apoio administrativo: 176,7 mil empresas (7,6%) e 1,55 milhão de beneficiários(4,1%);
  • Atividades de atenção à saúde humana: 119,8 mil contratantes (5,2%) e 1,63 milhão de beneficiários (4,3%);
  • Setor de alimentação: 110,3 mil empresas (4,8%) e 675 mil beneficiários (1,7%);
  • Educação: 107,1 mil contratantes (4,6%) e 1,25 milhão de beneficiários (3,3%);
  • Comércio por atacado, exceto veículos automotores e motocicletas: 102,8 mil contratantes (4,4%) e 1,85 milhão de beneficiários (4,9%); e
  • Outras atividades de serviços pessoais: 99,9 mil contratantes (4,3%) e 287 mil beneficiários (0,8%).

Cechin comenta que a diversidade desses segmentos reforça a pulverização do mercado. "Atividades como comércio varejista, alimentação e serviços administrativos mostram que os contratos coletivos empresariais estão enraizados no cotidiano dos pequenos negócios do Brasil", analisa.

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