Hepatites virais matam 1,3 milhão por ano; veja como se prevenir

Foto: Envato Elements

Por Joyce Canele e Beatriz Duranzi

redacao@viva.com.br
Publicado em 29/07/2025, às 10h18

São Paulo, 29/07/2025 - O mês de julho é dedicado à conscientização sobre as hepatites virais, doenças silenciosas que seguem fazendo vítimas em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas infecções já são a segunda principal causa de morte entre as doenças infecciosas, com cerca de 1,3 milhão de óbitos por ano, ultrapassando até mesmo a tuberculose e o HIV. 

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Estima-se que atualmente 254 milhões de pessoas no mundo vivam com hepatite B e 50 milhões com hepatite C. Os vírus B e C respondem por aproximadamente 80% dos casos de câncer de fígado no mundo. 

Até 2030, a estratégia global prevê eliminar a hepatite como problema de saúde pública, com foco em ampliar testagem, vacinas e tratamentos. 

No Brasil, o enfrentamento das hepatites B e C é considerado prioridade em saúde pública. Como parte desse esforço, o Ministério da Saúde instituiu em 2024 o Programa Brasil Saudável, que estabelece como meta a eliminação das hepatites virais até 2030.

O que é hepatite?

É uma inflamação que afeta especialmente o fígado, geralmente causada pelo consumo excessivo de álcool ou por outras toxinas, como alguns medicamentos. Entre os cinco tipos de hepatite (A, B, C, D e E), as versões B e C são as mais preocupantes por sua evolução silenciosa.

Elas podem passar anos sem manifestar sintomas, enquanto provocam inflamações progressivas no fígado. Sem diagnóstico, o quadro pode evoluir para cirrose ou até câncer de fígado.

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Por isso, o acesso a exames e a informação é fundamental. Embora a hepatite A seja geralmente benigna e autolimitada, as formas crônicas de hepatite causam danos permanentes e, em muitos casos, irreversíveis.

Hepatite C

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Cor amarelada na pele e nos olhos é um dos sintomas de hepatite C - Foto: Envato Elements

Em especial, tem chamado a atenção por seu avanço global. Hoje, é considerada a maior epidemia da humanidade, com incidência cinco vezes maior que a da AIDS.

No Brasil, os dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais apontam que, entre os casos notificados entre 2020 e 2023, 40,6% são de hepatite C. Ainda assim, estima-se que cerca de 520 mil brasileiros tenham a doença sem diagnóstico ou tratamento.

Sintomas mais comuns 

A hepatite pode se manifestar de forma discreta ou intensa, dependendo da causa e da evolução do quadro. Entre os sinais mais frequentes estão a coloração amarelada da pele e dos olhos,alterações na cor das fezes, que podem ficar claras ou acinzentadas, e urina escura. Também é comum surgir dor na parte superior do abdômen, febre leve e persistente, além de perda de apetite.

Outros sintomas incluem náuseas, tonturas, sensação constante de cansaço, inchaço abdominal e, em alguns casos, dores nas articulações.

Muitas pessoas com hepatite B ou C são assintomáticas por anos, o que dificulta a detecção precoce. 

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Nas hepatites virais, esses sintomas geralmente aparecem entre 15 e 45 dias após a infecção. Já quando a inflamação no fígado é causada por uso prolongado de álcool, medicamentos ou doenças autoimunes, os sinais podem surgir aos poucos, conforme o dano hepático se agrava.

Mitos comuns, como acreditar que a hepatite ocorre apenas por álcool ou contagia pelo toque casual, atrasam o diagnóstico e aumentam o estigma. O esclarecimento desses equívocos é crucial para salvar vidas e estimular a adesão ao tratamento. 

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Tipos de hepatite: quem são os agentes e como ocorrem as transmissões?

As hepatites virais incluem cinco tipos principais:

  • Hepatite A: transmitida por água ou alimentos contaminados, pode causar hepatite aguda, geralmente resolvida sem tratamento. Existe vacina eficaz.
  • Hepatite B (HBV): transmitida por sangue, fluidos corporais ou de mãe para filho no parto. Cerca de 296 milhões de pessoas viviam com infecção crônica em 2019, resultando em cerca de 820.000 mortes devido à cirrose ou câncer hepático, segundo o Ministério da Saúde
  • Hepatite C (HCV): transmitida por contato com sangue infectado, sem vacina disponível. Pode evoluir para infecção crônica e levar a cirrose ou câncer. Atualmente, o tratamento com antivirais pode curar a maioria dos casos. 
  • Hepatite D (HDV): depende da presença do HBV para se replicar, aumenta o risco de evolução para cirrose em pessoas coinfectadas. Tratamentos como interferon e bulevirtide estão disponíveis, mas a eficácia é limitada. 
  • Hepatite E: geralmente adquirida por água contaminada, pode ser grave em gestantes, mas costuma não cronificar. 

Prevenção e triagem: como se proteger?

vacina aplicada no braço
A vacinação ainda é o modo mais eficaz de prevenção / Foto: Adobe Stock

A vacinação continua sendo uma ferramenta essencial. No Brasil, vacinas contra as hepatites A e B estão disponíveis no SUS. 

A vacina contra HBV é considerada 98–100% eficaz quando administrada corretamente, com duas a três doses, idealmente já nas primeiras 24 horas de vida do bebê. 

Recomenda-se teste de HBV ao menos uma vez na vida para adultos, com repetição para populações de risco (gestantes, profissionais de saúde, usuários de drogas injetáveis e viajantes). 

Para hepatite C, não existe vacina, mas evitar práticas de risco como compartilhamento de agulhas e itens pessoais contaminados é fundamental para conter a disseminação do vírus. 

Tratamento: como vivem os portadores hoje

  • Hepatite A geralmente se resolve com repouso e suporte clínico. 
  • HBV crônica pode ser controlada com antivirais orais como tenofovir ou entecavir, que retardam a progressão para cirrose ou câncer. Na maioria dos casos, o tratamento é contínuo. 
  • HCV tem cura possível por meio de antivirais de ação direta, com duração de 8 a 12 semanas em geral.
  • HDV tem tratamento limitado, com baixa resposta clínica.

Novas tecnologias estão contribuindo para reverter esse cenário. A Roche Diagnóstica lançou recentemente o teste HCV Duo, que reduz em até quatro semanas a janela imunológica para detecção do vírus da hepatite C.

O exame realiza uma detecção dupla, identificando simultaneamente anticorpos e antígenos do vírus HCV, o que permite diagnósticos mais precoces e precisos. A análise é feita com uma única amostra de sangue e os resultados são processados automaticamente, possibilitando maior agilidade nos laboratórios.

Neste Julho Amarelo, a mensagem é clara: hepatites virais são perigosas, silenciosas e evitáveis. O diagnóstico precoce pode salvar vidas. 

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