Paula Bulka Durães/Viva
Ao lado da gerontóloga Sandra Regina Gomes, ex-coordenadora de Políticas Públicas para Pessoas Idosas na Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, os dois estudiosos debateram a diversidade do envelhecer no País, marcada pela ampla desigualdade social, que permeia questões de raça, gênero e território.
O painel fez parte "Direitos das Pessoas Idosas: Avanços e Desafios no Brasil" da programação do Sesc São Paulo, no último dia do 7º Fórum São Paulo da Longevidade, realizado no Centro de Exposições do Expo Center Norte.
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De acordo com o estudo “Envelhecimento, Cuidado e Raça”, de coautoria de Paz, pessoas negras apresentam piores índices de envelhecimento ativo no Brasil em comparação às brancas, com menor acesso à mobilidade, saúde, inclusão digital, oportunidades de trabalho, segurança financeira e lazer.
A pesquisa utiliza o conceito de “acúmulo de desigualdades” para se referir à velhice da população negra, que sofre discriminações e exclusões ao longo da vida. “Renda é uma chave essencial para se alcançar a autonomia na velhice. Uma vida marcada pelas discrepâncias financeiras, culturais e sociais resulta em um envelhecer mais vulnerável”, detalha o sociólogo.
Paz destaca uma das conclusões do estudo, que mostrou que a expectativa de vida de quem mora na Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, é 20 anos menor do que a de um habitante do bairro nobre Moema, na zona sul da capital paulista.
A gerontóloga Sandra Regina Gomes, doutoranda da Universidade de Brasília (UnB), reforçou a pluralidade da velhice, apesar dos avanços da legislação brasileira. “Temos que dialogar com os pares quando falamos sobre a velhice, com os ribeirinhos, com os quilombolas. Afinal, qual é a cara do Brasil que envelhece?”
A Política Nacional de Cuidados, sancionada em dezembro do ano passado, marcou, para os pesquisadores, uma nova etapa de reconhecimento das desigualdades do envelhecer. A lei estabelece diretrizes de cuidado para quem é cuidado, mas também para quem cuida. Contudo, a discussão não pode ficar apenas no entendimento jurídico, provoca Gomes.
“Temos a Política Nacional de Cuidados e temos o plano, que é como vamos aplicar. Todos os governadores e prefeitos precisam conhecer o plano para colocar uma dotação orçamentária em cima disso, e a cobrança começa pela mobilização popular.”
Com avanços e retrocessos, o envelhecer no Brasil é uma pauta política de direitos, porém apartidária, defende a gerontóloga. Na sequência, o sociólogo Huri Paz faz uma provocação: “Em 2026, temos a oportunidade de eleger governantes e parlamentares que pensam em políticas públicas eficazes para a população idosa marginalizada”.
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O pesquisador recorda, por exemplo, que a discussão da habitação para a população idosa fica travada enquanto não houver financiamento disponível para os mais longevos. Da mesma forma, os cuidadores deveriam receber um auxílio financeiro, a exemplo do Benefício de Prestação Continuada (BPC), hoje restrito às pessoas de baixa renda com deficiência ou com mais de 65 anos.
“Precisamos debater quem é que vai pagar essa conta, de onde vai sair o financiamento público para dar vazão a política de cuidados e tantas outras que abraçam os mais velhos”, aponta.
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