O abandono de quem depende de energia elétrica para viver
Foto: Marcello Casal JR/ABr
Por Marcel Naves
19/12/2025 | 13h13
São Paulo, 19/12/2025 - No início do mês, um ciclone extratropical provocou um apagão que se estendeu por dias, deixando mais de 2 milhões de consumidores sem energia elétrica na Grande São Paulo. O drama de quem ficou sem luz se agravou sobretudo entre idosos e pessoas acamadas.
Durante cinco dias ininterruptos, a administradora de empresas Joyce A. Gitahy acompanhou a sogra, de 97 anos, que mora em uma casa no bairro do Butantã, próximo à Universidade de São Paulo (USP). Diagnosticada com enfisema pulmonar, ela utiliza um aparelho auditivo cuja bateria precisa ser carregada periodicamente e se locomove apenas com o auxílio de uma cadeira de rodas elétrica.
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Durante o período sem energia, a idosa permaneceu confinada no apartamento e com severas restrições de movimento, para evitar uma possível crise de falta de ar. Os alimentos armazenados na geladeira estragaram e não havia água quente para o banho. Apesar da gravidade da situação, Joyce Gitahy afirma que, mesmo após sucessivos contatos, não obteve retorno da Enel.
“Para amenizar a situação, ficamos na casa dela o tempo todo, ajudando na alimentação, prevenindo quedas durante a noite e lidando com o risco do uso de velas. Já passamos por falta de energia antes, mas nunca por tantos dias assim”, contou a administradora ao VIVA.
Situação recorrente
Em outubro do ano passado, o pai da nutricionista Renata Safiotti, após passar meses hospitalizado, retornou para casa necessitando de cuidados médicos contínuos. Ele respirava com o auxílio de um aparelho e recebia alimentação por meio de uma bomba de infusão — equipamento responsável pela introdução de nutrientes diretamente no trato digestivo do paciente.
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Após oito horas sem luz e diante da autonomia de até 12 horas das baterias dos equipamentos
hospitalares, a família decidiu comprar um gerador doméstico movido a diesel, que manteve apenas o respirador em funcionamento. Safiotti recorda que, depois de três dias nessas condições — e somente após a veiculação do caso em uma emissora de televisão — a Enel se prontificou a resolver o problema.
“Só depois da reportagem a Enel providenciou um gerador capaz de fornecer energia elétrica para a casa toda. Isso ocorreu pela manhã, e à noite eles fizeram a religação da luz apenas na região da casa do meu pai”, lembrou a nutricionista.
A infraestrutura da cidade
Questionada, a Prefeitura de São Paulo não informou quantas solicitações foram feitas e atendidas pelo telefone 156 durante o apagão. Por meio desse canal, o cidadão pode obter informações e registrar pedidos relacionados a praticamente todos os serviços oferecidos pelos órgãos e entidades municipais.
Em nota, a prefeitura ressaltou que, no âmbito do programa Melhor em Casa, em situações emergenciais, a equipe multiprofissional de Atenção Domiciliar (Emad) entra em contato, por telefone ou pessoalmente, com todos os pacientes para verificar se as necessidades estão sendo atendidas. Caso necessário, a equipe se reúne para uma ação efetiva, que pode incluir a remoção do paciente para uma unidade de saúde ou o carregamento de baterias e aparelhos nobreaks para uso domiciliar, que sustentam a bateria por algumas horas.
O comunicado esclareceu ainda que as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os hospitais municipais dispõem de geradores de energia, garantindo a continuidade da assistência em casos de interrupção no fornecimento elétrico. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), a abertura de chamados e os protocolos são monitorados para identificar a previsão de restabelecimento da energia.
Enel
Procurada, a Enel informou apenas que, para esses casos, disponibiliza o cadastro de clientes vitais, no qual, mediante o fornecimento de informações pessoais, o consumidor pode contar com atendimento preferencial.
O serviço pode ser acessado no endereço: https://www.enel.com.br/pt-saopaulo/Para_Voce/cadastro-de-clientes-vitais.html
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