Tosse e falta de ar não podem ser normalizadas, alertam especialistas

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Sintomas de tosse e falta de ar não fazem parte da vida e devem ser sempre avaliados com cuidado por profissionais de saúde
Por Bianca Bibiano bianca.bibiano@viva.com.br

Publicado em 30/07/2025, às 14h24

São Paulo, 30/07/2025 - Dentre os mitos do envelhecimento, um dos mais propagados é a normalização da tosse e da falta de ar. Quem nunca ouviu ou até mesmo usou a expressão "tosse de velho"? Além de revelar um profundo etarismo e preconceito com idosos, a afirmação é sobretudo prejudicial para a saúde. De acordo com especialistas em pneumologia ouvidos pelo Viva, esses dois sintomas não fazem parte da vida e devem ser avaliados com cuidado por profissionais de saúde.

Roberto Stirbulov, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), diz que a tosse e a falta de ar podem revelar desde doenças respiratórias crônicas até quadros infecciosos e alergias, podendo causar até mesmo um ataque pulmonar, que tem potencial de mortalidade três vezes maior que um infarto.

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Roberto Stirbulov, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro da SBPT (Crédito: Junior Rosa)

Em evento da SBPT nesta semana, Stirbulov explicou que uma das condições de saúde mais graves reveladas por esses sintomas é a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), apontada por estudos internacionais como a terceira causa de morte no mundo.

Ela leva à inflamação e à ruptura dos alvéolos pulmonares (também conhecida como enfisema) e é erroneamente confundida com outros problemas respiratórios, como asma, pneumonia, bronquite e até mesmo gripe. "A DPOC é uma inflamação progressiva e sistêmica, que pode levar a outros problemas de saúde como depressão, osteoporose, obesidade e sedentarismo, dentre outros".

O médico destaca que esse quadro ainda tem pouca atenção do setor de saúde, embora tenha ganhado mais destaque após a pandemia de covid-19. Anualmente, afeta mais de 40 mil pessoas no Brasil ao ano, com custo estimado de R$ 103 milhões ao Sistema único de Saúde (SUS). 

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"É uma doença que tem impacto grande na previdência social, com mais de 20 mil pessoas afastadas pelo INSS, sendo 90% dos benefícios em caráter permanente". Citando dados de uma pesquisa de 2024, Stirbulov pontua que cerca de 60% dos diagnosticados com a doença se aposentam por invalidez.

Falta de diagnóstico é um fator de risco

O principal desafio no diagnóstico desses casos é a falta de acesso a um exame chamado espirometria, que pode identificar a capacidade pulmonar dos pacientes. Segundo Ricardo Amorim, presidente da SBPT, o aparelho utilizado nesse exame tem custo relativamente baixo (cerca de R$ 10 mil), mas ainda é pouco acessível na maioria dos municípios brasileiros, sendo boa parte disponível apenas nos centros urbanos. Nesse sentido, ele destaca a necessidade de expandir o acesso ao diagnóstico e também alerta para os riscos da normalização dos sintomas na sociedade e por profissionais de saúde.

"Sintomas respiratórios não são normais. Tosse não é normal. Com o agravo das doenças respiratórias crônicas, infelizmente teremos um cenário futuro no qual as pessoas vão viver mais tempo, mas pior."

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Ataque pulmonar mata mais que ataque cardíaco

Os casos graves de tosse em DPOC podem levar a uma crise chamada pelos médicos de exacerbação ou ataque pulmonar. Segundo Roberto Stirbulov, esse tipo de ataque acarreta mortalidade até três vezes maior do que um ataque cardíaco. "Ele piora o prognóstico do paciente, impacta na vida de modo prolongado e causa um declínio acelerado da função pulmonar". 

A DPOC pode impor grandes restrições à vida diária. O médico cita pesquisas mostrando que 57% dos diagnosticados enfrentam dificuldade em realizar atividades físicas, 41% dificuldades de dormir, 39% de realizar tarefas domésticas, 38% de manter relação sexual e 32% de realizar atividades familiares.

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O médico destaca ainda que esses ataques estão vinculados à maior parte dos custos de gestão de cuidados da DPOC. "O ataque pulmonar causa aumento de hospitalizações, mais dias de internação em UTI [Unidade de Terapia Intensiva], comprometimento do estado de saúde, piora das comorbidades, predisposição a novos ataques e aumento da mortalidade. Contudo, ainda é subdimensionado".

Ele conclui destacando que há medicações disponíveis no sistema de saúde público e que o principal desafio ainda é a falta de diagnóstico correto e a descontinuidade no tratamento, frequentemente interrompido pelos próprios pacientes quando os sintomas diminuem.

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