Publicado em 24/10/2025, às 17h35 - Atualizado às 17h36
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São Paulo, 24/10/2025 - A Caixa Econômica Federal anunciou que deve lançar a sua própria plataforma de apostas online até o final de novembro. A informação é do presidente da instituição financeira, Carlos Antônio Vieira, que falou sobre o assunto em entrevista à Money Times. A “bet da Caixa” irá funcionar nos canais digitais e casas lotéricas e a estimativa de faturamento gira entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões para 2026.
Segundo o executivo, o plano é melhorar a arrecadação diante da queda na receita das loterias convencionais. Procurada pela reportagem, até o momento a Caixa não enviou pronunciamento oficial com mais detalhes sobre o lançamento da plataforma.
Na visão de Jezriel Francis, idealizador do aplicativo gratuito Aposta Zero, a notícia acende um alerta sobre o avanço e naturalização dessas plataformas de jogos online no Brasil, que tem se transformado em um problema de saúde pública.
Não estamos falando só de negócios ou arrecadação: estamos falando de uma doença reconhecida pela OMS, que cresce de forma silenciosa e devastadora. Quando até um banco público decide lucrar com esse mercado, é preciso que o debate sobre saúde mental, regulação e responsabilidade se intensifique.
O gestor comercial e especialista em e-commerce atua voluntariamente com prevenção e acolhimento de pessoas com compulsão por apostas. Na plataforma digital criada por Francis os interessados em buscar ajuda encontram apoio para recuperação, atendimento psicológico e rede de apoio.
De acordo com dados apurados pelo Aposta Zero, 67% dos apostadores desenvolvem vício em menos de um ano e 94% escondem o problema da família. A perda média por jogador é estimada em R$ 2.847 por mês.
Vivemos uma pandemia econômica silenciosa, diz Garbe Foto: Divulgação
Longe de ser um lazer inocente, Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie considera que o avanço das plataformas de apostas online no Brasil já deixou de ser um fenômeno marginal. Ele recorda que o mercado das bets já movimenta cifras gigantescas e produz efeitos diretos sobre o consumo, o endividamento e o equilíbrio financeiro das famílias.
Para se ter uma dimensão dessa indústria, em 2024, Garbe aponta que as transferências via Pix para casas de apostas chegaram a R$ 21 bilhões por mês. Os números são do Banco Central (BC).
Na visão do professor, os números apontam para uma pandemia econômica silenciosa. "Essas casas movimentam um volume colossal de dinheiro que não cria riqueza nova, não gera produção e não retorna integralmente à economia doméstica", acrescenta ele.
Nos últimos meses, o Viva tem produzido uma série de matérias sobre a dependência em apostas, incluindo aspectos econômicos, sociais e de saúde. Caso você esteja enfrentando dificuldades relacionadas ao jogo ou conheça alguém nessa situação, busque ajuda. Se você busca indicações de instituições que oferecem esse suporte gratuitamente e caminhos para identificar o problema clique aqui.
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