Consórcio cresce diante de juros altos e com viés de planejamento financeiro

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Consórcio permite ao consumidor planejar a compra de bens sem pagar juros - apenas uma taxa de administração - Envato
Consórcio permite ao consumidor planejar a compra de bens sem pagar juros - apenas uma taxa de administração
Por Alessandra Taraborelli [email protected]

Publicado em 28/07/2025, às 09h30

São Paulo, 28/07/2025 - O segmento de consórcio movimentou mais de R$ 222,39 milhões no primeiro semestre do ano, um crescimento de 30,5% sobre o mesmo período de 2024. As vendas cresceram 17,1%, para 2,46 milhões de cotas, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).

Uma das razões para o crescimento do mercado de consórcios é a alta de juros dos financiamentos tradicionais, que acompanha a taxa Selic, atualmente no maior nível em quase 20 anos. Por sua vez, o consórcio é uma modalidade de crédito que não cobra juros, e sim uma taxa de administração. 

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É uma forma de driblar o crédito caro, desde que o consumidor possa esperar para adquirir o bem, como explica o professor de Finanças da Faculdade Belavista, Fernando Chertman.

"Quando a Selic está em alta, os juros cobrados em financiamentos tradicionais também sobem, tornando o custo total muito maior para aqueles que precisam se utilizar de crédito bancário para aquisição de algum bem."

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Para poder comparar os custos, o consumidor precisa calcular o Custo Efetivo Total (CET). Para isso, é necessário somar todos os custos de uma operação de crédito, incluindo juros, taxas, tarifas, seguros e impostos e depois dividir pelo valor principal do empréstimo ou financiamento. Para facilitar essa operação e escolher a melhor opção, é possível consultar ferramentas online de cálculo e simuladores oferecidos por órgãos de proteção ao consumidor, como o Procon ou instituições financeiras.

Embora seja um produto popular, muitas pessoas ainda não entendem como ele funciona e acreditam que consórcio seja um tipo de investimento.

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Como funciona um consórcio?

O consórcio é um sistema de compra parcelada e programada de bens ou serviços, onde um grupo de pessoas se une para formar uma poupança em comum. Mensalmente, os participantes contribuem com parcelas, e as contemplações - entrega da carta de crédito - são feitas por sorteio ou lance.

Os tipos mais comuns de consórcios são para quem deseja comprar um imóvel ou veículo daqui a alguns anos; e profissionais liberais que precisam renovar equipamentos, veículos ou expandir seus negócios.

O consórcio não cobra juros, apenas taxa de administração, fundo de reserva e seguro (que podem ser opcional ou obrigatório).

Sobre a contemplação, não há garantia de prazo. Muitos grupos duram 8 a 12 anos, e só é possível antecipar com sorteio ou lance para obter a carta de crédito, o que exige planejamento. 

Para Lúcia*, o consórcio foi uma opção positiva que ajudou a conquistar o sonho da casa própria. Ela fez consórcio imobiliário em um grande banco, contribuindo por cerca de oito anos. Quatro anos antes do grupo ser encerrado, ela retirou o dinheiro através de lance e usou para dar a entrada no imóvel escolhido. “Financeiramente, acredito que compensou porque eu não sou uma pessoa com disciplina para poupar. Vi no consórcio a única forma de conseguir concretizar esse objetivo”, afirma.

Chertman concorda com ela: “Do ponto de vista individual, o consórcio permite ao consumidor planejar a compra de bens sem pagar juros - apenas uma taxa de administração. Isso representa economia relevante no longo prazo. Além disso, promove disciplina financeira, pois o participante precisa manter os pagamentos em dia para se manter no grupo, e reduz o risco de inadimplência, pois as compras são mais alinhadas à capacidade de pagamento."

O professor aponta como vantagem o planejamento financeiro de médio e longo prazo, uma espécie de poupança programada, já que o consórcio força o participante a reservar mensalmente um valor, com um objetivo claro e concreto.

Por outro lado, a imprevisibilidade sobre o momento de contemplação do consórcio pode ser um ponto negativo para algumas pessoas. Ou seja, o consumidor pode não ser contemplado no momento desejado. “Por isso, é indicado para quem tem flexibilidade de tempo, mas quer garantir o poder de compra no futuro”, explica o professor.

Além disso, o bem pode se valorizar acima da correção da carta de crédito; ou pode haver desistência de outros membros, o que acaba atrasando o fundo comum.

Atenção aos contratos

Assim como todo contrato, antes de assinar é necessário ler todas as cláusulas e, se ficar alguma dúvida, tentar sanar com a empresa. Se o consumidor não estiver convencido, vale contatar um advogado. Veja algumas dicas do professor de Finanças da Faculdade Belavista, Fernando Chertman, antes de entrar em um consórcio:

  • Verifique se a administradora é autorizada pelo Banco Central;
  • Veja se há cláusulas sobre taxa administrativas, multa por desistência, regras de contemplação, reajustes e prazo do grupo;
  • Avalie sua capacidade de manter as parcelas ao longo de vários anos;
  • Planeje uma reserva de emergência para não comprometer seu orçamento em caso de imprevistos;
  • Verifique se a empresa está registrada no Banco Central;
  • Pesquise a reputação da administradora no Reclame Aqui, redes sociais e portais de defesa do consumidor;
  • Observe o volume de grupos ativos, tempo de mercado, taxa de inadimplência e se há auditoria externa dos fundos;
  • Prefira empresas ligadas a bancos ou montadoras conhecidas, que têm mais respaldo financeiro.

*preferiu falar sob a condição de anonimato

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