Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Por Por Fabiana Holtz e equipe Broadcast
[email protected]São Paulo, 17/06/2025 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide amanhã se mantém a taxa básica de juros, a Selic, no maior patamar em quase 20 anos ou se segue a rota de alta, encarecendo ainda mais a tomada de financiamentos. Uma parte do mercado acredita na manutenção em 14,75% ao ano, enquanto outros apostam em uma elevação para 15% ao ano. Importante ressaltar que a Selic está no maior nível desde julho de 2006 e que qualquer ajuste nela tem repercussão no custo do crédito, preço dos alimentos e dos serviços, na taxa de câmbio, decisões de investimentos e nos rendimentos das aplicações financeiras.
Exemplo do impacto direto desse ambiente de Selic mais alta no custo do crédito, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), a demanda por financiamento imobiliário via Poupança caiu 6,2% em março. A retração foi puxada pelo financiamento à construção, que despencou 48,7%.
A taxa de juros é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC para o controle da inflação, cujo o indicador de referência é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Segundo o relatório Focus, pesquisa semanal do BC realizada com centenas de instituições financeiras, a média das projeções para o IPCA de 2025 caiu de 5,44% para 5,25%. A projeção, porém, ainda está 0,75 ponto porcentual acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano, de 4,50%.
A leitura do mercado é de que o BC na gestão Gabriel Galípolo tem compromisso com a meta de inflação e tem trabalhado para alcançá-la. E segundo os economistas, neste momento o controle das expectativas é mais importante do que a decisão em si.
Os analistas do Citi avaliam que sob uma perspectiva de inflação aproximadamente inalterada em relação à reunião anterior, o Copom está “mais propenso a manter a taxa Selic”. Para reforçar sua análise, a casa menciona ainda a ênfase dada pela autoridade monetária em ter 'precauções extras' ao ajustar a política monetária em um cenário mundial altamente incerto.
A manutenção também é a aposta do UBS BB, que estima que amanhã será marcado o fim do ciclo de alta de juros no Brasil. Ao justificar sua análise, os analistas apontam que o BC afirmou que "o comitê seguirá vigilante". Desde 2019, depois que esta frase foi usada, o encontro seguinte do Copom nunca terminou com uma mudança na Selic, acrescenta o UBS BB.
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, acredita na manutenção e em uma decisão unânime entre os diretores. Isso deve sinalizar, segundo ele, que a taxa de juros permanecerá no patamar atual pelo tempo que for necessário.
O time do BTG Pactual já prevê uma elevação de 0,25 ponto porcentual para a Selic. Essa seria, na visão do banco, uma última alta dentro do ciclo de aperto monetário e teria como objetivo fortalecer a credibilidade do BC.
O BTG, no entanto, reconhece que há argumentos consistentes tanto para a elevação quanto para a manutenção da taxa Selic. "No entanto, avaliamos que o Copom deverá aproveitar este momento para reforçar seu compromisso com a convergência da inflação à meta", destaca o banco. Sua perspectiva é de que o Copom mantenha a ênfase em "cautela e flexibilidade".
O economista-chefe para Brasil do banco inglês Barclays, Roberto Secemski, também espera por um aumento de 0,25 ponto na Selic. Mas, na avaliação dele, o BC provavelmente está mais preocupado em afastar qualquer precificação de cortes no futuro próximo.
Na semana passada, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, defendeu a manutenção da Selic. De acordo com ele, a inflação medida pelo IPCA de maio indica que pode ter se atingido o pico. "Aparentemente, penso, a inflação em 12 meses pode ter atingido o pico, refletindo a apreciação mais recente do câmbio, queda dos preços das commodities no mercado internacional, fruto da guerra comercial, e melhora mais perceptível das condições de oferta dos alimentos".
A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) espera pela manutenção da Selic em 14,75% até o fim de 2025, embora tenha reduzido sua projeção para o IPCA neste ano de 5,6% para 5,3%.
"Apesar das perspectivas de queda da inflação, o índice de preços ainda está longe do centro da meta, a atividade econômica segue aquecida e o cenário externo ainda reflete incertezas, deixando pouco espaço para a redução da taxa de juros neste ano", explica Fernando Honorato, coordenador do grupo consultivo.
A grande pergunta agora, afirmam os analistas, é a partir de quando o BC dará início a um ciclo de redução da taxa básica de juros. Na avaliação do UBS BB, isso não deve ocorrer antes de abril de 2026. Um cenário alternativo seria de um corte em março, com maior probabilidade do que em junho, destacam os analistas.
Já os analistas do Itaú dizem não ver abertura para um corte da Selic neste ano, com um início de reduções do juro básico apenas no início de 2026 – o que deve levar a Selic para 12,75% ao final do ano que vem.
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