Criação menor de emprego esconde sinais de mercado de trabalho forte

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Dado reforça a tese de que o mercado de trabalho é o principal empecilho para o Copom do BC cortar juros - Envato
Dado reforça a tese de que o mercado de trabalho é o principal empecilho para o Copom do BC cortar juros

Por Caroline Aragaki, Anna Scabello e Francisco Carlos de Assis, da Broadcast

redacao@viva.com.br
Publicado em 14/08/2025, às 13h29
São Paulo, 14/08/2025 - A criação de empregos menor que a esperada mostrada pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em junho esconde um mercado de trabalho aquecido. Segundo especialistas ouvidos pela Broadcast, os números também mostram retomada no crescimento salarial e recorde de desligamentos voluntários no acumulado em 12 meses - um indicativo de que as pessoas estão migrando do emprego atual para outro com melhores condições.
Sob esta perspectiva, o Caged soma-se à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua para reforçar a tese de que o mercado de trabalho é o principal empecilho para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortar juros. A Pnad mostrou taxa de desemprego na mínima histórica, além de rendimento médio e massa de rendimento recordes.
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O próprio presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira, 11, que a autarquia enxerga resiliência no mercado de trabalho. Dias antes, na sexta-feira (8), o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, havia dito que "o mercado de trabalho segue dinâmico, tanto na parte de rendimentos quanto na parte de contratação".
"Acho que o mercado de trabalho é o principal 'calcanhar de Aquiles' do BC, o ponto de maior desconforto para a autoridade monetária, principalmente quando olhamos os rendimentos", afirma a sócia e economista da Buysidebrazil, Andrea Damico.
Os rendimentos do Caged representam os salários do fluxo dos admitidos e desligados. Segundo a pesquisa de junho, o salário médio real de admissão foi de R$ 2.278,37, uma alta de 1,09% em relação a maio, e de 1,28% frente a junho de 2024. Já o salário médio real de desligamento foi de R$ 2.376,20, avanço de 1,73% na margem e de 0,71% anualmente.
Já na Pnad, o rendimento médio mensal real habitual chegou a R$ 3.477 no trimestre encerrado em junho, e a massa de rendimento real habitual (a soma das remunerações de todos os trabalhadores) atingiu R$ 351,2 bilhões. Ambos recorde.
O economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, prevê crescimento real de 3% na comparação interanual para o rendimento médio do trabalho pela Pnad, que traça um cenário de maior aperto das condições do mercado de trabalho brasileiro, resultando, consequentemente, no custo unitário do trabalho mais alto, ou seja, maior pressão de custo para as empresas.
O avanço dos rendimentos, tanto formais quanto informais, está atrelado a um salário mínimo que cresce acima da inflação, o que é muito benéfico para quem recebe de um a dois salários mínimos, aponta o economista Bruno Imaizumi, da 4intelligence. "Pelo lado fiscal, é negativo do ponto de vista de avanço das despesas com Previdência e outros benefícios, mas, para o mercado de trabalho, esse aquecimento do salário mínimo acaba sendo benéfico", explica.
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Foto: Reprodução 4 intelligence

Demissão voluntária

O head de macroeconomia da Kínitro Capital, João Savignon, destaca que os pedidos de demissão voluntária também mostram o mercado de trabalho ainda forte. Segundo ele, em junho foram registrados 720.284 desligamentos a pedido, alta anual de 6,8%. No acumulado em 12 meses, inclusive, os desligamentos bateram recorde, chegando a 8,9 milhões.
"É um sinal claro de aperto [no mercado de trabalho], pois mostra que a pessoa pede demissão porque arranjou um emprego melhor. É um dado que provavelmente vai seguir nesses níveis entre quatro e seis meses à frente ainda", diz, explicando que a projeção considera a taxa de desemprego baixa.
Segundo o economista do C6 Bank Heliezer Jacob, o número elevado de pedidos de demissão voluntária "quer dizer que as pessoas estão saindo voluntariamente do trabalho com convicção de que conseguem arranjar outro emprego", o que reforça o mercado de trabalho aquecido.
A ata da última reunião de política monetária do Copom apontou, inclusive, que "tanto do ponto de vista de renda, com ganhos reais consistentemente acima da produtividade, como do emprego, com redução expressiva da taxa de desemprego para níveis historicamente baixos, o mercado de trabalho tem dado bastante suporte ao consumo e à renda".
Considerando a comunicação do BC, além de Pnad batendo mínima e dados de rendimento crescendo mais do que a produtividade, parece que não há muito espaço para cortar juros no curto prazo, avalia o professor e economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Se o mercado de trabalho está muito apertado, com a taxa de desemprego baixa e rendimentos altos, pode estar acontecendo uma pressão inflacionária no setor de serviços principalmente, o que dificulta o controle da inflação", afirma.

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