Foto: Envato Elements
Por Fabiana Holtz, Sergio Caldas e Carolina Maingué Pires, do Broadcat
[email protected]São Paulo, 12/05/2025 - Os EUA e a China anunciaram nesta segunda-feira que chegaram a um acordo para suspender a maior parte das tarifas sobre produtos um do outro por um período de 90 dias, enquanto outras negociações comerciais continuam.
Os EUA disseram que reduzirão as chamadas tarifas "recíprocas" sobre produtos chineses de 125% para 10%. A China, por sua vez, disse que diminuirá suas tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%.
Tarifas dos EUA relacionadas à questão do fentanil e outras medidas continuarão em vigor. O fentanil é um analgésico utilizado como medicação para a dor que também pode ser utilizado combinado a outros medicamentos para a anestesia.
Os dois países disseram que "estabelecerão um mecanismo para dar continuidade às discussões sobre as relações econômicas e comerciais".
O anúncio conclui dois dias de negociações intensas na Suíça, que tiveram o objetivo de aliviar as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
Desde que iniciou seu segundo mandato, o presidente dos EUA, Donald Trump, aplicou tarifas de 145% a produtos chineses, enquanto Pequim retaliou com tarifação de 125% às importações dos EUA.
De acordo com estudo feito pela Nexus Pesquisa e Inteligência de Dados, antecipado ao Broadcast, sete dos dez produtos mais importados pelo Brasil, em valores, são comprados de um ou dois países, com maior concentração dos Estados Unidos.
Para Marcelo Tokarski, CEO da Nexus, a dependência de poucos fornecedores, localizados especialmente nos Estados Unidos, sugere um cenário em que mudanças nas tarifas de importação teriam um impacto significativo na balança comercial do país. Por exemplo, no caso de o Brasil impor taxas maiores aos produtos norte-americanos como possível medida de retaliação ao tarifaço de Donald Trump.
Em 2024, os dez produtos mais importados representaram 16,6% do que o Brasil comprou de outros países. Todos os itens com mais de 60% vindos de apenas um ou dois países foram considerados com alta concentração de origem.
Por enquanto, o governo brasileiro tem colocado eventuais retaliações como última alternativa na relação com os americanos. Nos dados gerais da balança, os EUA são o segundo lugar em origem e destino das importações e exportações brasileiras, respectivamente. A liderança é da China nas duas situações. Foram comprados US$ 63,6 bilhões dos chineses no ano passado, contra US$ 40,7 bilhões dos americanos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
No contexto atual, especialistas consideram que o Brasil passa a ser visto por grandes mercados como uma opção estável e segura para a importação de alimentos, como soja, por exemplo. Outra oportunidade está em saber aproveitar o momento para ganhar ainda mais espaço no mercado asiático.
De fato, o Brasil tem buscado estreitar suas relações tanto com a União Europeia, quanto na Ásia nos últimos anos, o que pode começar a render bons frutos agora, em um momento de incertezas e diante dos temores de uma recessão global.
Na avaliação do ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, as oportunidades abertas em mercados que vão retaliar as barreiras comerciais dos Estados Unidos devem impulsionar a produção de grãos no Brasil. Por outro lado, ponderou, os produtos brasileiros podem encontrar mais obstáculos num mundo com mais barreiras ao comércio, não apenas nos Estados Unidos.
Em recente fórum realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Barral, que hoje trabalha como consultor, projetou que até 2030 o Brasil vai responder por 60% da produção global de soja, aproveitando-se das retaliações aos Estados Unidos. Já a produção brasileira de milho deve subir para 90 milhões de toneladas no mesmo período, na esteira do consumo gerado pelo aumento da renda em economias como Índia e mercados asiáticos.
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