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São Paulo, 11/09/2025 - As tarifas comerciais dos Estados Unidos estão redesenhando cadeias de suprimento globais, intensificando tensões geopolíticas e aumentando a incerteza em todo o mundo. Nesse cenários, setores como tecnologia da informação e indústria farmacêutica se mantêm resilientes, enquanto outros, como automotivo, agronegócio, eletrônicos e construção, enfrentam forte pressão sobre a rentabilidade devido a custos crescentes, volatilidade no mercado, e políticas comerciais cada vez mais protecionistas.
É o que aponta a mais recente análise Sector Atlas 2025: Trade War is a sector war after all, realizada pelos economistas da Allianz Research, divisão de pesquisa macroeconômica da empresa de seguro de crédito Allianz Trade.
A análise aponta a América Latina como a região mais arriscada para a economia, enquanto a Ásia se mostra relativamente mais segura, reforçando o cenário de incerteza e disparidades regionais para os próximos trimestres.
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O estudo classifica os principais setores da economia em quatro principais níveis de risco: baixo para setores com fundamentos sólidos, perspectiva muito favorável ou muito boa; sensível para aqueles com fragilidades estruturais, perspectiva desfavorável ou muito ruim; médio para os que têm sinais de fragilidade e possível desaceleração; ou alto risco para os setores com crise iminente ou já reconhecida.
Considerando esses parâmetros, o relatório analisa o setor farmacêutico como o único de risco baixo no Brasil, enquanto os setores têxtil e de produtos químicos são avaliados com risco alto. Dentre as principais forças do setor, os economistas citam a força da indústria, com vasta gama de produtos, forte presença no mercado e baixa fragmentação.
Dentre as tendências que influenciam positivamente o setor, a análise aponta o aumento no lançamento de medicamentos inovadores para obesidade e diabetes, que gerou aumentou a demanda e a receita para as principais farmacêuticas, "formando um oligopólio emergente pronto expansão rápida e contínua".
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As tecnologias de Inteligência Artificial (IA) também foram mencionadas como propulsoras, especialmente por desempenharem um papel crescente na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) do setor farmacêutico, automatizando ensaios clínicos e acelerando a descoberta, o desenvolvimento e a comercialização de medicamentos. Segundo a análise, "isso melhorará a eficiência em toda a cadeia de produção e poderá reduzir o tempo de lançamento de novos tratamentos no mercado".
Nesse sentido, os economistas da Allianz Trade acreditam que no longo prazo o pilar principal para a indústria continuar relevante é a inovação. "Hoje, ainda existem centenas de doenças que não podem ser totalmente prevenidas ou curadas, o que significa que há muito espaço para exploração científica e potencial de crescimento. Fusões e Aquisições (M&A) são, por exemplo, uma maneira eficiente e comum na indústria de gerar maiores sinergias e impulsionar a inovação. Portanto, podemos esperar que essa estratégia seja fortemente utilizada nos próximos anos", aponta a empresa.
Embora os tratamentos para obesidade ganhem destaque, o relatório afirma que a oncologia continuará sendo o foco de pesquisa e desenvolvimento (P&D), pois ainda é a principal fonte de renda para as farmacêuticas.
O documento cita que existem atualmente cerca de 16.000 medicamentos em desenvolvimento relacionados ao câncer. A imunologia aparece em segundo lugar, com 5.775 medicamentos em desenvolvimento, enquanto o diabetes é o terceiro, com cerca de 1.400.
O robusto fluxo de caixa que sustenta essa inovação contínua e o aumento das taxas de doenças crônicas que impulsionam a demanda constante por novos medicamentos também influenciam o crescimento do setor, assim como a melhora no acesso à saúde, especialmente em mercados emergentes, que expande a base de clientes. A criação de novos medicamentos patenteados também foi apontada como ponto forte, já que eles oferecem poder de precificação e permitem margens mais altas em comparação aos genéricos.
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Ainda assim, o relatório diz que o número de patentes expirando aumentará, intensificando a concorrência com os fabricantes de genéricos. "Como as patentes geralmente duram cerca de 20 anos, o investimento contínuo em P&D e inovação é crucial para que as empresas de medicamentos de marca mantenham a exclusividade de mercado. A introdução de alternativas genéricas pode reduzir a receita de medicamentos de marca em 70-80%", pontua.
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