Prosperidade além do dinheiro: o que realmente significa viver bem?

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Prosperar vai muito além de simplesmente estar feliz ou confortável

Por Beatriz Duranzi

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Publicado em 12/05/2025, às 13h39 - Atualizado às 13h39

Durante séculos, embora cada cultura tenha sua visão particular sobre a resposta para uma vida boa e plena, há um ponto comum entre elas: prosperar vai muito além de simplesmente estar feliz ou confortável.

Viver bem é um estado amplo e complexo, que abrange o bem-estar emocional, a saúde, o propósito de vida, os vínculos sociais e a estabilidade material.

Essas são justamente as bases do Estudo Global de Prosperidade, uma pesquisa internacional em larga escala que está ajudando a redefinir o conceito de prosperidade para o século 21. O levantamento é conduzido por uma rede interdisciplinar de mais de 40 pesquisadores, com o apoio da Gallup Inc., e já ouviu mais de 200 mil pessoas em 22 países.

Uma nova abordagem sobre o bem-estar

Longe de se limitar à ideia de riqueza ou sucesso individual, o estudo parte de uma visão mais abrangente de prosperidade, inspirada na “eudaimonia” de Aristóteles, mas atualizada por décadas de pesquisas científicas sobre saúde mental e qualidade de vida. A premissa é clara: prosperidade não é apenas como você se sente por dentro, mas também como está a sua vida como um todo, incluindo o lugar onde vive, as pessoas com quem convive e os recursos aos quais tem acesso.

A pesquisa identifica seis dimensões fundamentais para avaliar uma vida próspera:

  • Felicidade e satisfação com a vida
  • Saúde física e mental
  • Significado e propósito
  • Caráter e virtude
  • Relacionamentos sociais próximos
  • Estabilidade financeira e material

Essas dimensões são mensuradas com base em uma escala de 0 a 10, e os participantes respondem a perguntas detalhadas sobre suas rotinas, emoções, conexões sociais e experiências de vida, inclusive traumas na infância e envolvimento com a espiritualidade.

O que os dados revelam?

A primeira rodada de resultados revela alguns achados surpreendentes. Ao contrário do que indicavam estudos anteriores, que sugeriam um pico de bem-estar na juventude seguido de uma queda na meia-idade, os jovens adultos de hoje estão enfrentando níveis mais altos de ansiedade, insegurança econômica e falta de sentido. Isso está rompendo o padrão tradicional da curva em “U” do bem-estar.

Pessoas casadas, bem como aquelas com vínculos empregatícios (formais ou autônomos), tendem a reportar níveis mais altos de apoio social, propósito e satisfação. Já a participação regular em atividades religiosas se mostrou consistentemente associada a maiores níveis de felicidade, sentido de vida e conexão social, até mesmo em sociedades laicas, como a Suécia.

Essa relação entre religiosidade e prosperidade se explica, segundo os pesquisadores, por quatro elementos principais: pertencimento (rede de apoio), vínculo espiritual, práticas de comportamento ético e crenças positivas (como perdão e esperança). 

Curiosamente, pessoas religiosas também relataram mais dor física ou sofrimento emocional, o que pode estar relacionado ao papel dessas comunidades como suporte em momentos difíceis.

Outro aspecto importante destacado pela pesquisa é a influência da infância. Embora experiências adversas possam deixar marcas, muitas pessoas conseguem transformar esses desafios em força e propósito ao longo da vida adulta. 

Em países como Estados Unidos e Argentina, inclusive, há indícios de que a superação de dificuldades na infância pode estar ligada ao desenvolvimento de maior resiliência emocional.

Onde se vive melhor?

A análise entre os países revelou que Indonésia, México e Filipinas aparecem entre os países com os níveis mais altos de prosperidade, especialmente em aspectos como propósito, espiritualidade e relacionamentos comunitários. Esses países, apesar de terem menor renda per capita, demonstram que conexões humanas e valores culturais fortes são grandes motores do bem-estar.

Já em lugares como Japão e Turquia, os índices foram mais baixos. No Japão, por exemplo, o estresse no ambiente de trabalho e a solidão parecem comprometer o bem-estar emocional, apesar da estabilidade econômica. Na Turquia, a instabilidade política e financeira tem prejudicado o senso de segurança da população.

Uma constatação intrigante do estudo foi que países mais ricos não são, necessariamente, os mais prósperos. Estados Unidos e Suécia, por exemplo, apresentam bons resultados em segurança financeira, mas pontuam abaixo da média em sentido de vida e vínculos sociais. Isso sugere que o crescimento econômico, por si só, pode não ser suficiente para garantir uma vida plena.

Caminhos para o futuro

O estudo não busca impor uma definição universal de prosperidade, mas sim oferecer uma base sólida para entender como ela se manifesta em diferentes culturas. A uniformidade no questionário aplicado nos 22 países permite comparações globais, mas os próprios pesquisadores reconhecem a necessidade de aprofundar o olhar local sobre o tema, por meio de investigações mais sensíveis às particularidades de cada sociedade.

Em última análise, a pesquisa reforça uma verdade simples, mas poderosa: a vida boa não é apenas uma soma de conquistas individuais, mas o resultado de um equilíbrio entre bem-estar pessoal, conexões sociais, significado e segurança. E, talvez, prosperar seja menos sobre ter e mais sobre pertencer, contribuir e crescer juntos.

Palavras-chave estudo prosperidade saúde

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