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Aids em idosos dispara 441% e mostra invisibilidade da vida sexual dos 60+

Foto: Freepik

São fatores para o aumento dos casos a baixa adesão ao uso de preservativos e a popularização dos medicamentos contra a disfunção erétil - Foto: Freepik
São fatores para o aumento dos casos a baixa adesão ao uso de preservativos e a popularização dos medicamentos contra a disfunção erétil
Emanuele Almeida
Por Emanuele Almeida

Publicado em 01/12/2025, às 15h27

São Paulo, 01/12/2025 – Quase não se fala mais sobre Aids. Mas fato é que os casos estão aumentando e principalmente entre pessoas idosas. Dados do Boletim Epidemiológico sobre HIV/Aids do Ministério da Saúde revelam que houve um aumento de 441% no número de diagnósticos de Aids em pessoas com 60 anos ou mais entre 2012 e 2022. Esta é a única faixa etária que mostrou aumento no número de óbitos nesse período.

Entre 2011 e 2021, foram registrados mais de 12 mil diagnósticos de HIV em pessoas com 60 anos ou mais, além de 24.809 casos de AIDS e 14.773 mortes nesse grupo.

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Segundo o geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Leonardo Oliva, alguns fatores explicam esse aumento no número de casos na população idosa. Entre eles, estão a baixa adesão ao uso de preservativos e a popularização dos medicamentos contra a disfunção erétil, que prolongou a vida sexual de muitos homens e, por outro lado, aumentou a exposição dessas pessoas a relações sexuais desprotegidas.

Outro motivo elencado por ele é a mudança no perfil de relacionamento das pessoas idosas:

Os divórcios, a viuvez e o uso de aplicativos de relacionamento aumentaram a frequência de novas parcerias, muitas sem o cuidado preventivo adequado. Além disso, a menor lubrificação vaginal e anal, a maior fragilidade das mucosas e a imunossenescência são condições que facilitam a infecção pelo HIV.”

Invisibilidade da vida sexual dos mais velhos

O presidente da SBGG também alerta que, apesar do aumento do número de testes, a prática entre os idosos está longe do ideal. Oliva argumenta que quando surgem sintomas como perda de peso, o HIV é pouco cogitado pelos médicos, que sugerem principalmente hipóteses como câncer ou outras doenças.

Ele reforça que a ideia de que a pessoa idosa não tem mais vida sexual ativa prejudica a prevenção e atrasa o diagnóstico. Além disso, ele aponta que as campanhas voltadas para o Dezembro Vermelho, mês dedicado ao combate ao HIV/Aids, também devem dialogar com a população com 60 anos ou mais, que, por sua vez, ainda recebe pouca atenção nas ações de prevenção.

“A invisibilidade da pessoa idosa contribui diretamente para o aumento dos casos. É preciso derrubar mitos e tabus, falar abertamente sobre vida sexual nessa fase da vida e ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento”, atesta.

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Prevenção para além da camisinha

O também médico geriatra e doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com atuação nas áreas de sexualidade e envelhecimento, Milton Crenitte, relembra que, muitas vezes, a política de prevenção foi baseada em apenas um método, a camisinha, que é ineficaz para controlar as infecções por si só.

"Então, o que a gente tem que entender é que o método de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis não é único e, sim, singular para cada pessoa. Tem que ser adaptado ao contexto de cada um", explica.

Leonardo Oliva acrescenta que é essencial garantir a adesão à terapia antirretroviral (TARV), que trata as infecções oportunistas, e manter o acompanhamento médico. "Outro ponto que não pode ser esquecido é a saúde mental desses pacientes, que frequentemente enfrentam estigma, baixa autoestima e sofrimento emocional”, ressalta.

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Crenitte ressalta que é preciso inserir nas consultas com esse grupo conversas sobre sexualidade e prevenção.

"Lembrando que monogamia não é um método de prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). E que, se nós não olharmos para todas as pessoas como vulneráveis a qualquer IST e não as testar e não conversar sobre estratégias de prevenção, os casos de infecções só vão aumentar", conclui.

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