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Apesar de estar na moda, jejum intermitente pode prejudicar saúde de idosos

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Jejum intermitente em idosos pode intensificar a perda de massa muscular e causar outros danos à saúde - Adobe Stock
Jejum intermitente em idosos pode intensificar a perda de massa muscular e causar outros danos à saúde
Por Emanuele Almeida

14/12/2025 | 09h11

São Paulo, 14/12/2025 - O jejum intermitente é um método de organização alimentar que intercala períodos programados sem ingestão calórica com 'janelas' de alimentação. Famoso entre aqueles que buscam emagrecer e melhorar a saúde, o método pode prejudicar, em vez de ajudar, especialmente em algumas faixas etárias, como a dos idosos.

O nutricionista Thyago Nishino, com pós-graduação em nutrição esportiva pela Universidade de São Paulo (USP), explica que a adesão ao jejum intermitente por pessoas idosas pode intensificar a perda de massa muscular, um fator que já é mais frequente com o envelhecimento.

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José Rodrigo Pauli, professor de pós-graduação em ciências da nutrição, esporte e metabolismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acrescenta que a adesão ao método de alimentação pode acarretar deficiência de proteínas e na densidade óssea desse grupo.

Outros riscos elencados pelos especialistas são:

  • Hipoglicemia: Pessoas idosas podem fazer uso de medicamentos, como insulina ou hipoglicemiantes orais, que podem ter seus efeitos alterados no corpo caso a pessoa esteja em jejum;
  • Uso de medicamentos: A falta de ingestão de alimentos pode prejudicar a absorção de remédios pelo corpo e aumentar o risco de irritação gástrica;
  • Desidratação: A percepção de sede pode ser menor no idoso, e alguns confundem jejum com restrição de líquidos, o que não é recomendado;
  • Imunidade: A prática em idosos com baixo peso pode levar à imunossupressão, tornando-os mais vulneráveis a infecções como gripes e covid-19.
“Em razão disso, a maioria dos idosos não é uma boa candidata para jejum intermitente, a menos que exista indicação bem específica e acompanhamento próximo”, explica o especialista.

O professor da Unicamp detalha que alguns tipos de jejum intermitente podem oferecer riscos a idosos, principalmente os mais prolongados, com mais de 24 horas de interrupção na ingestão de alimentos.

Em relação às pesquisas sobre o tema, ainda há um caminho a ser percorrido para entender os benefícios do método a longo prazo. Um estudo deste ano, publicado no British Medical Journal (BMJ), avaliou que as principais modalidades de jejum mais restritivas, incluindo o intermitente, quando comparadas com a dieta tradicional — de restrição calórica e com a alimentação mais “livre” —, funcionam, mas não tanto, mantendo uma perda semelhante a médio prazo.

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Os autores da pesquisa ressaltam que, embora o jejum intermitente seja uma alternativa popular, são necessários estudos mais longos para confirmar esses achados.

Pauli reforça dizendo que os estudos existentes feitos em humanos para comprovar a eficácia contínua do jejum intermitente têm um curto período de acompanhamento e poucos se concentram no envelhecimento. “Estudar os impactos do jejum na longevidade demandaria muito tempo, décadas para ser mensurado. Portanto, essa é uma limitação importante e que precisa ser considerada”, explica.

Sendo assim, os especialistas apontam que qualquer mudança na dieta de uma pessoa idosa deve ser recomendada e supervisionada por um profissional médico e da nutrição.

Como funciona o jejum intermitente

A prática pode consistir em diferentes tipos de intervalos, como 16 horas de jejum por 8 horas de ingestão de alimentos, ou até mesmo 14 horas de jejum por 10 horas de ingestão. Outros modelos são jejum em dias alternados ou cinco dias de alimentação regular com dois dias de restrição calórica severa.

“A ideia central é reduzir o período diário ou semanal de ingestão de energia, potencializando mecanismos metabólicos como a melhora da sensibilidade à insulina e o aumento da oxidação de gordura”, elenca Nishino.

O jejum pode ser indicado em alguns contextos por profissionais de saúde, como para pessoas que estão com excesso de peso e têm dificuldade de controlar o volume alimentar.

Outras situações elencadas pelo profissional são:

  • Pessoas que buscam melhorar a sensibilidade à insulina (ex.: pré-diabetes, em casos indicados por médicos e nutricionistas);
  • Indivíduos que se sentem bem naturalmente com menos refeições;
  • Pessoas que desejam uma estratégia simples para reduzir calorias sem contar porções.

“É importante ressaltar que jejum não é obrigatório para emagrecer; é apenas uma ferramenta entre muitas”, aponta Nishino, que também reforça a importância do acompanhamento com especialista para adaptar a prática ao corpo e rotina de cada pessoa. 

Pauli, da Unicamp, relata que estudos feitos, principalmente em animais como macacos, demonstraram benefícios iniciais do jejum intermitente, como melhoria na glicemia e insulinemia, menor quantidade de gordura corporal e redução da inflamação crônica, por exemplo.

Para adotar o jejum intermitente, algumas práticas podem contribuir. Pauli aponta que, dentre elas, estão diminuir lentamente o intervalo de tempo para se alimentar, ou seja, aumentar aos poucos o tempo que ficará sem se alimentar. Outro ponto importante é manter a hidratação.

“Se você usa medicação, continue com o uso habitual. Tomar bebidas como água ou chá não adiciona calorias e deve ser mantido. Se você precisa se alimentar para tomar sua medicação, veja com seu médico um plano alimentar e de jejum que permita isso”, completa o especialista da Unicamp.

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