Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brSão Paulo, 28/07/2025 - Uma proteína presente na saliva do carrapato Amblyomma sculptum, transmissor da febre maculosa brasileira, pode abrir caminho para novos tratamentos anti-inflamatórios e estratégias de prevenção da doença.
Batizada de Amblyostatin-1, a molécula foi identificada por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) como capaz de modular a resposta imune e reduzir inflamações em testes laboratoriais com animais.
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O estudo, publicado no periódico Frontiers in Immunology e conduzido em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a Czech Academy of Sciences e o National Institutes of Health (NIH), foi financiado pela FAPESP e pelo CNPq.
A pesquisa foi liderada pelo imunologista Anderson de Sá-Nunes e teve como primeiro autor o biólogo Wilson Santos Molari, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Imunologia do ICB-USP.
De acordo com os pesquisadores, a descoberta ajuda a explicar como o carrapato consegue driblar as defesas do corpo humano e favorecer a infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa. A doença é grave, tem letalidade alta, cerca de 34% entre 2013 e 2023, segundo dados da Agência Brasil, e é de notificação obrigatória no país.
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A Amblyostatin-1 pertence à família das cistatinas, proteínas conhecidas por inibir enzimas chamadas catepsinas, que desempenham papéis fundamentais na ativação de células imunológicas e em processos inflamatórios. O estudo mostrou que a molécula atua de forma seletiva sobre catepsinas S e L, reduzindo a ativação de células dendríticas e a inflamação em modelos de inflamação cutânea.
Outro aspecto relevante é que a proteína praticamente não induziu a produção de anticorpos nos animais testados, o que indica baixa imunogenicidade. Isso significa que o corpo não a reconhece como uma ameaça, permitindo seu uso contínuo sem que perca eficácia. Segundo Sá-Nunes:
Essa característica faz da Amblyostatin-1 um antígeno silencioso, ou seja, uma molécula que o organismo não reconhece como uma ameaça”.
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Os cientistas acreditam que a proteína pode servir de base para o desenvolvimento de medicamentos destinados ao controle de doenças inflamatórias crônicas e, futuramente, para terapias que ajudem a prevenir ou tratar a febre maculosa.
Além de fornecer novas perspectivas para o tratamento da doença, a pesquisa também lança luz sobre os mecanismos biológicos usados pelos carrapatos para se alimentar e transmitir patógenos sem serem combatidos imediatamente pelo sistema imune.
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