Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
[email protected]Uma condição oftalmológica historicamente mais comum em pessoas mais velhas está se tornando uma preocupação crescente entre jovens adultos: a síndrome do olho seco. Caracterizada por falhas na produção ou na qualidade das lágrimas, a doença compromete a lubrificação dos olhos, causando desconforto, inflamação e impacto direto na qualidade de vida.
Um novo estudo conduzido por cientistas da Aston University, no Reino Unido, apontou que 90% dos jovens entre 18 e 25 anos apresentaram ao menos um sinal clínico da doença. Os dados acenderam um alerta na comunidade médica, uma vez que os olhos jovens, teoricamente mais saudáveis, estão sendo afetados de maneira crescente por fatores comportamentais, principalmente o uso prolongado de dispositivos digitais.
A pesquisa, que serve de alerta para quem tem filhos, netos ou trabalha com jovens, acompanhou durante um ano um grupo de 50 jovens adultos. Ao final do estudo, mais da metade (56%) já havia recebido diagnóstico clínico da síndrome do olho seco. A grande maioria dos participantes, mesmo os assintomáticos, apresentavam alterações oculares que indicam risco elevado de evolução da doença.
Segundo os autores do estudo, um dos principais fatores associados à piora do quadro foi a exposição prolongada às telas. Em média, os participantes passavam cerca de oito horas por dia em frente a computadores, celulares e tablets, tempo suficiente para alterar o padrão natural de piscadas.
Com isso, as piscadas se tornavam menos frequentes e incompletas, dificultando a distribuição uniforme das lágrimas sobre a superfície ocular e acelerando sua evaporação.
Essa mudança no comportamento ocular reduz a eficácia do filme lacrimal, camada protetora que cobre o olho, e favorece o surgimento de sintomas como ardência, vermelhidão, visão embaçada, fotofobia e sensação de areia nos olhos.
Mesmo exposições moderadas, entre duas e seis horas diárias, já mostraram impacto significativo nos olhos das pessoas analisadas. Esses dados consolidam a preocupação dos especialistas, que vêm se referindo ao problema como uma "epidemia comportamental" impulsionada pelos hábitos digitais da sociedade atual.
Uma das maiores armadilhas da síndrome do olho seco é que muitos casos evoluem de forma silenciosa. Os sintomas iniciais podem ser leves ou mesmo inexistentes, fazendo com que o diagnóstico aconteça apenas quando a condição já está avançada e começa a interferir na rotina, desde o uso de computadores até a prática de atividades ao ar livre.
O estudo reforça a importância da detecção precoce, especialmente em grupos de risco. Isso inclui não só adultos jovens expostos a telas, mas também crianças, adolescentes, mulheres, usuários de lentes de contato, pessoas que passaram por cirurgias oculares ou que fazem uso de medicamentos como antidepressivos e anti-histamínicos.
Embora ainda não exista cura definitiva, a síndrome do olho seco pode ser controlada com o tratamento adequado e mudanças no estilo de vida. Uma das principais recomendações dos especialistas é adotar a regra do "20-20-20": a cada 20 minutos diante de uma tela, olhar para algo a 6 metros de distância por 20 segundos. A medida ajuda a manter o equilíbrio do filme lacrimal e estimula o piscar natural.
Outras estratégias preventivas incluem:
O controle da síndrome envolve uma abordagem personalizada, que pode incluir colírios lubrificantes, anti-inflamatórios, suplementos alimentares, além de orientações comportamentais. O objetivo é aliviar os sintomas e evitar que a inflamação cause danos permanentes à superfície ocular.
Por se tratar de uma doença crônica e multifatorial, o tratamento exige acompanhamento contínuo. Em muitos casos, os pacientes precisam ajustar as terapias ao longo do tempo para manter os sintomas sob controle.
A síndrome do olho seco deixou de ser uma preocupação exclusiva de quem já passou dos 60 anos. Os olhos dos jovens estão sofrendo os efeitos de um estilo de vida cada vez mais digital, e silenciosamente, essa condição está se tornando uma das grandes queixas da saúde ocular moderna.
Com um número crescente de casos, o alerta é claro: é preciso repensar os hábitos de uso de telas e cuidar da saúde ocular desde cedo.
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