Dermatologistas explicam riscos e cuidados do câncer de pele neste verão
Envato
Por Bianca Bibiano
23/12/2025 | 16h08
São Paulo, 23/12/2025 - Além da chegada do verão, o mês de dezembro marca a campanha nacional de prevenção ao câncer de pele, conhecida como Dezembro Laranja, período em que especialistas reforçam a importância dos cuidados preventivos e do diagnóstico precoce. Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de pele representa cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no País, configurando-se como o tipo mais frequente entre os brasileiros.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) projeta um cenário ainda mais preocupante, com estimativa de que mais de 220 mil novos casos sejam descobertos entre janeiro e dezembro deste ano. “O câncer de pele é uma doença que pode ser evitada na maioria dos casos, desde que as pessoas adotem medidas preventivas adequadas e mantenham o hábito de observar regularmente sua pele", explica a dermatologista Ana Carolina Sumam, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Principais tipos de câncer de pele
Ana Carolina Sumam esclarece que existem diferentes tipos de câncer de pele, sendo os mais comuns o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma. "O carcinoma basocelular é o mais frequente e menos agressivo, geralmente aparecendo como pequenas lesões brilhantes ou feridas que não cicatrizam. Já o carcinoma espinocelular pode se manifestar como manchas vermelhas descamativas ou feridas que crescem rapidamente", detalha a médica.
O melanoma, embora menos comum, representa o tipo mais agressivo da doença. "O melanoma pode surgir em pintas já existentes ou aparecer como novas lesões escuras na pele. É fundamental estar atento à regra do ABCDE: assimetria, bordas irregulares, coloração variada, diâmetro maior que 6mm e evolução ou mudanças na lesão", orienta a especialista.
Prevenção
Em entrevista ao VIVA, a médica Alba Clausen, dermatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destacou a importância da proteção solar contínua para prevenir o câncer de pele. Segundo Clausen, a radiação ultravioleta, associada à exposição solar ao longo da vida, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa doença. Por isso, ela enfatiza que o uso do protetor solar é essencial, mesmo em dias nublados, nas partes expostas do corpo.
"O filtro solar deve ter, no mínimo, fator de proteção 30 e é importante que os produtos possuam referência ao protetor PPD, conforme a determinação da Organização Mundial de Saúde", explica. Para pessoas de pele clara, a dermatologista recomenda aumentar esse fator de proteção.
Além do uso de protetores solares, Clausen sugere o uso de roupas com proteção, especialmente para crianças, e destaca que, apesar de populares, vitaminas não oferecem fator de proteção solar, ressaltando que apenas protetores solares usados na pele são eficazes nesse sentido.
Ela tranquiliza que, quando o câncer de pele é diagnosticado precocemente, há grandes chances de cura. "Embora a palavra 'câncer' possa assustar, é crucial que o paciente receba acolhimento e que o médico mostre que existem soluções eficazes. Quanto mais rápida a ação, melhor o seguimento", afirma.
A especialista também menciona que as pessoas idosas, especialmente aquelas que passaram mais tempo expostas ao sol ao longo da vida, devem estar especialmente atentas. Ela lembra ainda que os protetores solares evoluíram ao longo dos anos e que hoje existem diversas opções disponíveis e de textura mais leve à venda, diferente das versões antigas, que eram mais cremosas.
Sinais de alerta e autoexame
A identificação antecipada dos sinais suspeitos é um determinante para o sucesso do tratamento. Ana Carolina Sumam destaca os principais indicadores que devem motivar uma consulta dermatológica imediata:
"Qualquer ferida que não cicatriza em até quatro semanas, pintas que mudam de cor, formato ou tamanho, lesões que sangram facilmente ou coçam persistentemente são sinais de alerta que não podem ser ignorados".
Esse diagnóstico precoce permanece como o fator mais importante para o prognóstico favorável do câncer de pele.
Por isso, ambas especialistas ressaltam que o autoexame mensal deve fazer parte da rotina de cuidados pessoais. "A recomendação é que as pessoas façam o autoexame sempre no mesmo dia do mês, preferencialmente após o banho, em local bem iluminado e com auxílio de um espelho, olhando as manchas na pele", orienta Sumam.
A médica destaca também a importância das consultas preventivas anuais, especialmente para pessoas com fatores de risco elevados. "Indivíduos de pele clara, com histórico familiar de câncer de pele, muitas pintas ou que sofreram queimaduras solares na infância devem manter acompanhamento dermatológico regular", alerta a profissional.
No consultório, a lesão pode ser avaliada em detalhes e, se necessário, receberá indicação para ser retirada cirurgicamente. Em alguns casos, o procedimento é feito pelo próprio médico.
Pressão sobre o SUS e os planos de saúde
De acordo com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), entre 2015 e 2024, os registros de câncer de pele entre beneficiários de planos de saúde mais que triplicaram, com aumento acumulado de 307,1% na taxa de casos por 100 mil beneficiários.
"O início do verão reforça a atualidade desse debate. Os dados analisados refletem um fenômeno mais amplo, associado ao envelhecimento da população, ao efeito cumulativo da exposição solar – também uma consequência das mudanças climáticas –, à necessidade de diagnóstico cada vez mais precoce e à adoção de ações que estimulem a prevenção", afirma José Cechin, superintendente executivo do IESS.
Diante do crescimento da doença entre beneficiários, o estudo aponta aumento relevante da pressão sobre a rede assistencial. A relação de casos por prestador de serviço de saúde cresceu 73,3% ao longo da série histórica, indicando maior concentração da demanda sobre a rede credenciada, especialmente dermatologistas e profissionais envolvidos no tratamento oncológico. "Espera-se que o mesmo efeito esteja ocorrendo no Sistema Único de Saúde", observa Cechin.
A análise por faixa etária mostra que o avanço da doença é fortemente impulsionado pelo envelhecimento. Segundo a pesquisa, beneficiários com 60 anos ou mais apresentaram as maiores taxas em todos os anos analisados, alcançando 108,6 casos por 100 mil beneficiários em 2024, quase quatro vezes maior do que o patamar observado em 2015. Entre adultos de 40 a 59 anos, o crescimento também foi expressivo, enquanto a população com menos de 40 anos manteve taxas mais baixas.
A Planisa, consultoria especializada em gestão de custos na saúde, analisou dados de 2024 da Plataforma DRG Brasil e identificou 17.728 internações por câncer de pele não melanoma no País. O volume representa 0,58% do total de 3.045.348 altas registradas no período.
Do total de internações, 11.901 ocorreram no Sistema Único de Saúde (SUS), que registrou 10.710 diárias e média de 0,9 dia de internação. Na saúde suplementar, foram 5.827 internações, com 3.471 diárias e permanência média de 0,59 dia.
O diretor de serviços da Planisa e especialista em custos hospitalares, Marcelo Carnielo, explica que a baixa permanência não diminui o impacto financeiro acumulado. “O câncer de pele não melanoma costuma exigir internações rápidas, mas é muito frequente. Quando somamos esses atendimentos ao longo do ano, percebemos o peso sobre equipe, sala cirúrgica, materiais e todo o preparo pré e pós-operatório”, afirma.
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