São Paulo, 17/11/2025 - O câncer de próstata segue como o tipo mais frequente entre os homens brasileiros, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Embora a campanha conhecida como Novembro Azul concentre esforços na prevenção e no diagnóstico precoce, médicos alertam que muitos homens permanecem receosos não apenas dessa doença, mas sobretudo de seus efeitos na vida sexual.
Segundo os especialistas ouvidos pelo VIVA, os tratamentos evoluíram de forma expressiva, a ponto de reduzir significativamente os riscos de impotência e incontinência urinária. Ao mesmo tempo, surgiram terapias menos invasivas, mais precisas e com foco em preservar a qualidade de vida.
Há casos, ainda, em que o tratamento não envolve procedimento cirúrgico, podendo ser tratado com acompanhamento clínico para evitar a evolução da doença, como observa o médico urologista Carlo Passerotti, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
" A combinação entre hábitos saudáveis, diagnóstico preciso e acompanhamento médico regular é o caminho mais eficaz para reduzir as mortes por câncer de próstata. A genética a gente não muda, mas o comportamento, sim. O estilo de vida é o fator que está nas nossas mãos."
Sintomas iniciais e a importância do diagnóstico precoce
Inicialmente, o câncer de prósta pode não apresentar sintomas, mas, segundo o Ministério da Saúde, os sinais mais comuns são: dificuldade de urinar, demora em começar e terminar de urinar, diminuição do jato ou sangue na urina, aumento na frequência urinária durante o dia ou à noite e disfunção erétil.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve registrar quase 72 mil novos casos dessa doença este ano - número que reforça a necessidade de rastreamento anual, especialmente a partir dos 50 anos.
O toque retal, ainda cercado de tabus, continua indispensável mesmo com o avanço dos exames, explica o médico Ariê Carneiro, uro-oncologista do Einstein Hospital Israelita.
Segundo o médico, esse rastreamento é feito através do exame Antígeno Prostático Específico (PSA) e do toque retal, e deve ser anual. "Tem o mito do toque retal, muitos pacientes sentem-se desconfortáveis, mas ele é importante, porque alguns tumores, principalmente os mais agressivos, não alteram o exame de PSA, mas aparecem no exame de toque precocemente", destaca.
Ele frisa que a melhor forma de evitar complicações é com o dignóstico precoce.
"O exame de toque retal é um exame rápido, indolor e também não afeta em nada a moral dos pacientes, e deve ser realizado como uma forma de cuidado à saúde."
Já Carlo Passerotti destaca que, embora o toque retal continue indispensável, a ressonância magnética multiparamétrica pode, no futuro, substituir parte das avaliações invasivas, desde que o acesso ao exame se amplie. Atualmente, esse tipo de exame só é solicitado no Sistema Único de Saúde (SUS) ou nos planos privados após um dos exames anteriores apresentar alteração, sendo indicada também uma biópsia.
Segundo dados da Planisa, gestora de custos para tratamentos de saúde, os números do setor público e privado apontam que os procedimentos para tratamento de câncer de próstata têm valores médios que variam de R$ 8.865 a R$ 10.779, a depender da rede hospitalar. Apenas no primeiro semestre deste ano, a empresa identificou 951 procedimentos realizados, incluindo cirurgias e outras técnicas.
Impacto do câncer de próstata na vida sexual
Historicamente, o maior temor entre os homens que recebem o diagnóstico é a perda da função sexual. Mas os especialistas explicam que esse cenário mudou nos últimos anos.
"A maioria dos pacientes retoma a ereção e a continência após a cirurgia robótica", afirma o uro-oncologista Ariê Carneiro. Ele reforça que a experiência da equipe cirúrgica, o estágio do tumor e o tratamento precoce são determinantes para preservar a função sexual.
Quando há dificuldades de ereção no pós-operatório, ele diz que existe um "arsenal terapêutico", que inclui medicamentos como tadalafila e sildenafila, géis intracavernosos, injeções penianas e, em último caso, próteses maleáveis ou infláveis. "Hoje é muito difícil que um paciente bem acompanhado fique sem vida sexual", completa o médico.
Passerotti completa destacando que o impacto do estilo de vida na evolução do câncer também influencia a saúde sexual. "Obesidade, sedentarismo e dieta rica em gorduras levam a tumores mais agressivos", diz. Nesse sentido, ele pontua que 30% dos pacientes não têm uma função sexual satisfatória após os 70 anos, especialmente por causa de diabetes, hipertensão ou por fatores da idade.
Ao mesmo tempo, ele menciona que estudos recentes, conduzidos nos Estados Unidos e na Suécia, mostram que, entre homens com risco genético elevado, até 36% das mortes precocespoderiam ser evitadas com hábitos saudáveis.
"O homem que tem um tumor de próstata de diagnóstica bem no início, tem vários fatores positivos no tratamento, ele poderá utilizar hormônio depois e dificilmente terá disfunção sexual. Mas quem econtra o tumor em estágio avançado, tem vários fatores negativos que podem complicar a parte sexual", esclarece Passerotti.
Tratamentos variam conforme a agressividade do tumor
Após detectado o câncer, a escolha da conduta terapêutica vai depender do estágio e da agressividade da doença. De acordo com Carneiro, tumores iniciais e de baixo risco nem sempre precisam de tratamento imediato. Nessas situações, opta-se pela vigilância ativa, com monitoramento contínuo e intervenção apenas se houver progressão.
Já tumores intermediários ou agressivos demandam terapias como radioterapia e cirurgia. Em paralelo, tecnologias minimamente invasivas - conhecidas como terapias focais, como HIFU, crioterapia e eletroporação - tratam apenas a área comprometida da próstata, preservando melhor áreas adjacentes do tecido e reduzindo o risco de incontinência e impotência.
"É um tratamento ambulatorial, com recuperação rápida e muito pouco risco de complicações. É uma alternativa para pacientes com diagnóstico inicial", explica o médico.
Técnicas menos invasivas
Em alguns casos, o exame preventivo de próstata encontra não um câncer maligno, mas uma hiperplasia prostática benigna (HPB). Nesses casos, também existem atualmente tratamentos com técnicas menos invasivas, mais seguras e eficazes, capazes de reduzir a dor, o tempo de recuperação e o impacto dos tratamentos sobre a qualidade de vida dos pacientes, explica o médico Harley de Nicola, especialista na saúde do homem e superintendente médico da FIDI, fundação especializada em diagnóstico por imagem.
"Dentro desse cenário, a ablação por radiofrequência da próstata guiada por ultrassom desponta como uma inovação que está transformando o manejo da HPB e, em alguns casos selecionados, do câncer de próstata", explicou em artigo enviado ao VIVA.
Segundo o médico, trata-se de um procedimento minimamente invasivo que utiliza ondas de radiofrequência para gerar calor e eliminar as células doentes da próstata, preservando o tecido saudável. O procedimento é ambulatorial, e a alta ocorre poucas horas depois, sem necessidade de internação prolongada.
"Um estudo recente mostrou a redução de 79,1% dos sintomas urinários, diminuição de 36,9% no volume prostático e queda de 54,7% nos níveis de PSA. Além disso, 96% dos pacientes puderam interromper o uso de medicamentos para o tratamento, confirmando a eficácia e a segurança da técnica", destaca.
Entre as principais vantagens estão a ausência de cortes, a preservação do tecido saudável, a recuperação rápida e o baixo risco de complicações como disfunção erétil e incontinência. "Estudos internacionais apontam resultados encorajadores em termos de controle da doença e preservação funcional. Essa abordagem abre novas perspectivas para homens que buscam opções menos invasivas e com menor impacto no cotidiano", pontua.
Cirurgias mais precisas e acesso ampliado
No que diz respeito aos tratamentos mais invasivos, a cirurgia mais comum no tratamento do câncer de próstata é a prostatectomia radical, que pode ser realizada por técnica aberta, videolaparoscópica ou robótica. Esta última se consolida como padrão ouro por apresentar melhor preservação da função erétil e continência urinária.
Porém, ressalta Carneiro, a segurança do procedimento depende da equipe que opera o equipamento. Quando realizada com sucesso, os riscos para a saúde sexual do homem são menos que 5%. A cirurgia robótica está disponível em poucos centros do SUS, mas novas regulamentações devem ampliar o acesso a partir de 2026.
Isso porque, no final de setembro, o Ministério da Saúde publicou uma portaria informando que vai incorporar a
prostatectomia radical assistida por robô para o tratamento de pacientes com câncer de próstata clinicamente localizado ou localmente avançado no
sistema público. Carneiro acredita que em breve a decisão se estenda também aos planos de saúde suplementar.
Como funciona a reposição hormonal após o tratamento?
Outro fator que deve ser observado no tratamento do câncer de próstata são os hormônios, especialmente a testosterona. Segundo a endocrinologista Fernanda Parra, o nível desse hormônio cai 1% ao ano após os 30 anos de idade, e quando a cirurgia para retirada da próstata acontece, os valores são reduzidos pela metade, exigindo uma fonte externa de reposição.
Entre urologistas e cirurgiões, a recomendação é fazer a reposição hormonal apenas após seis meses a um ano depois da cirurgia. Já Parra explica que o tratamento poderia ser iniciado antes, mas ainda há barreiras. "Muitos médicos não aceitam começar a reposição hormonal logo após a cirurgia, tem o mito de que vai causar outros pontos de câncer, mas inúmeros estudos que negam isso e excluem essa possibilidade", pondera.
Mesmo com benefícios, ela destaca que
a reposição deve ser feita com cuidado, pois nem todos os casos requerem testosterona extra. "A testosterona é essencial, mas ela não atua sozinha. Cortisol,
insulina, hormônio do crescimento, hormônios da tireoide e até a vitamina D têm papéis fundamentais no metabolismo, na energia, na disposição e até na
saúde mental do homem”, afirma a médica.
Nesse sentido, ela diz que desequilíbrios hormonais podem se manifestar de formas sutis, como cansaço constante, queda da libido, ganho de peso, perda de massa muscular e alterações de humor, sintomas que muitas vezes são atribuídos apenas ao envelhecimento.
"É comum que o homem busque tratamento apenas para repor testosterona, quando o problema pode estar em outro eixo hormonal. Por isso, o diagnóstico deve ser completo e individualizado", explica., e completa
"Os homens, em geral, procuram o médico tarde demais. Quando sentem sintomas urinários ou dores, muitas vezes o câncer já está avançado. [...] O Novembro Azul é uma ótima oportunidade para o homem olhar para si de forma integral. Cuidar da alimentação, praticar atividade física e fazer acompanhamento médico regular são atitudes que melhoram não só a saúde hormonal, mas também a vitalidade e a longevidade."