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Diagnóstico de câncer de mama não é sentença de morte, dizem pacientes

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Apesar do medo e de todas as questões que envolvem esse diagnóstico, também surge a vontade de vencer - Envato
Apesar do medo e de todas as questões que envolvem esse diagnóstico, também surge a vontade de vencer

São Paulo, 16/10/2025 - Receber um diagnóstico de câncer de mama não é uma informação fácil de assimilar. Em instantes, a pessoa vê a vida passar pelos seus olhos, surge o medo de morrer, as dúvidas sobre o tratamento e a insegurança de não se reconhecer mais. Apesar do medo e de todas as questões que envolvem esse diagnóstico, também surge a vontade de vencer. Foi isso que aconteceu com Gilmara dos Santos e com Ana Maria de Oliveira, duas mulheres que enfrentaram essa doença de frente.

Em comum, Gilmara e Ana têm o fato de fazerem seus exames preventivos todos os anos e terem descoberto a doença no início. A mastologista Alice Francisco, concorda que além do diagnóstico  precoce, a atividade física também contribui para que a doença seja eliminada.

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O principal fator para a doença atingir mulheres mais jovens é o estilo de vida, incluindo a má alimentação, sobrepeso e sedentarismo, sendo a obesidade um dos maiores vilões."
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 A mastologista Alice Francisco reforça que além do diagnóstico  precoce, atividade física contribui para a cura - Arquivo pessoal

Além disso, a médica aponta a falta de informação e acesso como os principais desafios para o diagnóstico precoce do câncer de mama no sistema de saúde pública. Ela ressalta que, embora existam mamógrafos na rede pública de saúde, a distribuição é desigual no País, causando demora no acesso aos exames e tratamentos, com muitas mulheres levando meses para conseguir o atendimento.

No final de setembro, o Ministério da Saúde anunciou uma medida para garantir o acesso a mamografia no SUS a mulheres de 40 a 49 anos mesmo sem sinais ou sintomas de câncer. Essa faixa etária concentra 23% dos casos da doença. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, haverá atendimento móvel em 22 Estados pelo  programa Agora Tem Especialistas.

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As mamografias no SUS em pacientes com menos de 50 anos representam 30% do total, equivalente a mais de 1 milhão de mulheres em 2024. Para as mais velhas, foi ampliada a idade limite para o rastreamento ativo, de 69 anos para até 74 anos. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, quase 60% dos casos da doença estão concentrados na faixa entre 50 e 74 anos.

A mastologista destaca os significativos avanços no diagnóstico e no tratamento do câncer de mama. “Houve uma melhoria nos métodos de diagnóstico e exames de imagem, facilitando a biópsia e a detecção de lesões muito pequena. Também houve progressos nas técnicas cirúrgicas, que agora permitem reconstrução e simetrização mamária, e o desenvolvimento de novas medicações que aumentam as taxas de sobrevida e cura”, afirma.

"A detecção precoce pela mamografia continua sendo a melhor ferramenta, pois não há vacina para a prevenção."

Ana Francisco aconselha o cuidado com o estilo de vida para prevenir vários tipos de câncer, embora seja o de mama o que mais mata, e encoraja mulheres a fazerem suas rotinas anuais, conhecerem seus corpos e acreditarem na possibilidade de cura, confiando na equipe médica.

Depoimentos

Gilmara dos Santos, 48 anos, jornalista, tinha acabado de passar por um processo de acolhimento e morte do seu pai. Ela, que realizava seus exames anualmente, desde os 20 anos, em 2019, adiou para cuidar do pai, que logo veio a falecer de câncer.  Na ocasião, a própria médica sugeriu que ela priorizasse os cuidados ao pai. 

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A intuição falou mais alto e ela, que já estava com os pedidos para os exames em mãos, decidiu realizá-los.

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Gilmara Santos contou com o apoio do seu marido, Paulo da Silva, no enfrentamento da doença - Arquivo pessoal

Ao ver os resultados, em pleno dia do seu aniversário, foi surpreendida com o diagnóstico. Havia uma calcificação diferente na mama esquerda e a médica solicitou uma mamotomia – uma espécie de biópsia.

Ela conta que o marido, Paulo da Silva, pegou o resultado, era véspera do feriado do dia 20 de novembro, e como ela estava atarefada disse que veria depois. Antes de sair para encontrar com amigos, ela fotografou o laudo e enviou para a médica, sem olhar.

Ao voltar para casa, recebeu a mensagem: "Gil,  realmente o exame não era o que eu esperava. Você tem que procurar um mastologista e já começar o tratamento".

Ela leu e pensou: "Mastologista? É câncer? Eu vou morrer?", então não dormiu mais, começou a procurar tudo sobre o tema na internet e entrou em grupos de Facebook. O pai tinha acabado de morrer, há 45 dias. Após buscar hospital e médico para entender melhor sobre a sua doença, ela contou para as irmãs e, só depois para a mãe.

Um pequeno grande problema

Os médicos concluíram que era um "Carcinoma in situ" - significa que células cancerosas foram encontradas apenas no local onde se originaram, sem se espalhar para os tecidos vizinhos. Por ser pequeno, provavelmente não seria necessário fazer quimioterapia.

Gilmara fez a cirurgia em janeiro de 2020 e, após a biópsia, descobriu que o câncer era extremamente agressivo. Se tivesse demorado para fazer os exames, talvez tivesse que fazer a mastectomia total.

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Embora o nódulo fosse pequeno, o fato de ser um câncer agressivo levou os médicos a optarem por mais uma cirurgia para ampliar o corte e limpar uma área maior, embora ela estivesse se recuperando de uma infecção pós-cirúrgica. Nesse ínterim, chegava a Covid-19 e o  hospital teria de cancelar todas as cirurgias eletivas. Era preciso tomar a decisão logo. Após a segunda cirurgia, iniciou o tratamento com  radioterapia. "Eu fiz 15 sessões de radioterapia, tomei cinco anos de medicação e agora está tudo bem, graças a Deus,” comemora.  

Silva, o marido, disse que foram vários momentos difíceis desde a descoberta do câncer. “Você fica muito abalado, é a pessoa que está do seu lado, mexe muito com a gente. É uma guerra, você fica se questionando como vai ser o processo, se realmente vai ter cura. É muito difícil. A gente acreditava muito, mas câncer assusta”, relata.

Qualidade de vida

Ana Maria de Oliveira, 57 anos, professora aposentada, conta que sempre se cuidou, além de fazer atividade física, fazia seus exames anualmente. Em 2020, em meio à pandemia do coronavírus e o ‘lockdown’, foi surpreendida pela informação que tinha um nódulo no seio. Ela conta que todos os anos fazia seus exames no mês de julho, e naquele ano ficou na dúvida se devia fazer, em razão do confinamento que o País vivia. O marido a incentivou a fazer e, mesmo não tendo o seu médico disponível, consultou outro especialista.

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Ana Maria de Oliveira recorreu ao hospital público Guilherme Álvaro, em Santos, pois seu plano não cobria mastologia - Arquivo pessoal

Na ultrassonagrafia de mamas, o médico comentou sobre o nódulo no lado esquerdo, que ela não sabia que tinha. Ele mandou investigar. "Eu fiz e refiz os exames e não falei nada para o meu marido e meu filho. Quando eu abri o exame no carro, ao lado do meu marido, ele percebeu que tinha algo", relembra.

A partir daí, a professora aposentada diz que começou a correr contra o tempo para marcar novos médicos e exames. “Fui fazendo todo aquele processo até ter certeza do diagnóstico".

Na ocasião, o plano de saúde não cobria mastologista. Ela encontrou o hospital público Guilherme Álvaro, em Santos, litoral paulista. Ana Maria conta que a dúvida se o encaminhamento seria para quimioterapia ou cirurgia direto foi um dos piores momentos.

“Eu chorava, porque que eu não queria fazer a quimioterapia. Em momento nenhum achei que eu ia morrer. Só que eu tenho meu cabelo longo e pratico atividade física, então achei que a quimio ia atrapalhar”, lembra.

Depois de passar pelo médico e sua equipe, todos avaliaram que o nódulo era pequeno. A cirurgia foi marcada para o dia 1º de dezembro, e não foi necessário fazer quimioterapia.

“Como sou corredora amadora e cuido alimentação, fui muito elogiada, porque foi uma cirurgia fácil, eu não tinha muita gordura no local do nódulo”, lembra. Durante o tratamento, fez 19 sessões de radioterapia.

Além do câncer em comum, e do apoio da família, Gilmara e Ana concordam que os exames preventivos foram essenciais para a cura.

Ana também pode contar com o apoio do seu companheiro. “Meu marido foi daqueles que ficou ali do meu lado em todos os momentos, dando apoio. Às vezes a gente vê casos em que o marido se afasta, isso é muito triste. Eu sou uma pessoa muito abençoada”, comemora.

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