Tomou vacina e teve reação adversa? Saiba por que isso acontece e o que fazer
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São Paulo, 02/12/2025 - Recentemente, uma leitora do VIVA enviou uma mensagem para nossa reportagem contando que tomou vacina contra herpes-zóster e sentiu muita dor, além de ficar com o braço rígido por alguns dias. Ela queria saber se esse tipo de reação é normal e o que fazer quando isso acontece. Para esclarecer melhor o tema, conversamos com três especialistas, que destacam a seguir as principais questões em relação a essa e a outras vacinas. Confira:
Por que as vacinas causam efeitos colaterais?
Segundo a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, professora da Unisinos e líder do Núcleo de Pesquisa em Mudanças Climáticas e Saúde Única, cada organismo reage de uma forma diferente às vacinas. "Muito dessa resposta vem da ativação do sistema imunológico em produzir uma resposta inflamatória controlada, estudada e segura para 'ensinar' às defesas do corpo de como reconhecer e combater o patógeno", explica.
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E é aí que entram as diferenças entre indivíduos. "Algumas pessoas podem fazer uma resposta que vai envolver febre, dor de cabeça, dor no corpo, enquanto outras podem não ter sinais e sintomas tão percebidos. Mas não quer dizer que a vacina 'não reagiu' só porque alguém não teve reação ou a reação foi percebida de forma menor comparado a outro indivíduo".
Os sintomas também podem variar de acordo com a via de administração, pois a resposta pode ser diferente entre as pessoas, e incluem ainda vermelhidão, inchaço no local, mal estar e até irritabilidade.
A biomédica explica que nos estudos de imunogenicidade é demonstrada a porcentagem de participantes com a presença de anticorpos específicos após a vacinação, independente dos sinais e sintomas que foram sentidos.
Além disso, de acordo com a médica Maria Isabel de Moraes-Pinto, coordenadora de vacinas da Dasa, as vacinas passam por etapas rigorosas de desenvolvimento e testes antes de serem disponibilizadas, que garantem segurança e eficácia. "Ainda assim, como qualquer medicamento, podem causar algumas reações após a aplicação, na grande maioria das vezes, leves e esperadas."
Para além dos estudos pré-clínicos e clínicos, as vacinas passam por análise e aprovação pelas agências regulatórias, como a Anvisa e, mesmo após serem liberadas, ficam submetidas a um sistema de 'farmacovigilância' realizado pelas autoridades de saúde para monitorar o uso na população, complementa Fontes-Dutra.
Até que ponto os efeitos colaterais são considerados normais?
De acordo com Moraes-Pinto, as reações são, em geral, um reflexo do próprio funcionamento do organismo, que inicia uma resposta imunológica ao entrar em contato com os componentes da vacina.
"Em algumas vacinas, como a meningocócica B, a formação de um pequeno nódulo também é considerada normal e pode persistir por algumas semanas até regredir completamente", exemplifica.
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No caso específico da vacina contra herpes-zóster, a médica Rosane Orth Argenta, sócia-fundadora e CEO da Saúde Livre Vacinas, observa que o efeito colateral da dor intensa relatado pela leitora pode ser causado por conta da presença de um adjuvante cujo objetivo é amplificar o efeito de imunogenicidade, ou seja, garantindo a proteção prevista.
"É importante saber que, por maior que seja o desconforto de uma vacina, ele passará em 24 horas ou, em casos mais raros, em 48 horas. Além disso, o efeito adverso é muito menor do que o problema que a doença causa."
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A especialista exemplifica que a herpes-zóster pode provocar uma nevralgia persistente, causando um desconforto severo. "Há quem descreva esse desconforto comparando-o a um choque elétrico, enquanto outras pessoas relatam que, quando deitam na cama, é como se ela estivesse coberta por arame, machucando".
O que fazer se tiver reações?
Argenta diz que, quando acontecem as reações adversas, recomenda-se que o paciente procure prioritariamente o serviço de saúde onde a vacina foi aplicada. "Eles indicarão uma medicação para alívio do sintoma ou vão informar se há necessidade de relatar o efeito colateral para a indústria ou para a vigilância sanitária, além de esclarecer se é necessário buscar uma ajuda médica", pontua. Quando há necessidade, o próprio serviço de saúde pode fazer a notificação à vigilância sanitária.
O objetivo será "investigar se trata de algo que poderia estar associado à vacinação ou se não é outra coisa acontecendo em paralelo, por exemplo, uma doença que está se manifestando e que coincidiu com o momento em que a pessoa se vacinou", como complementa Fontes-Dutra.
Sinais de alerta
A médica Maria Isabel de Moraes-Pinto aponta alguns sinais de alerta relacionados à vacinação que podem representar casos mais graves:
"Se a febre persistir por mais de três dias, se o local da aplicação apresentar aumento importante de dor ou vermelhidão, ou se a pessoa vacinada estiver muito abatida, é recomendável procurar avaliação médica", explica. E completa: "Reações alérgicas imediatas, como inchaço nos lábios, dificuldade para respirar ou lesões de pele que aparecem poucos minutos após a vacinação são raras, mas exigem atendimento imediato".
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"Eventos adversos graves são muito incomuns. Quando ocorrem, são acompanhados de perto pela equipe de saúde e notificados aos órgãos competentes, o que contribui para o monitoramento contínuo da segurança das vacinas no País."
Caso não seja possível reportar o efeito adverso ao serviço de saúde que aplicou a vacina, uma possibilidade é fazer um registo na plataforma oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O sistema, chamado de VigiMed, permite preencher um formulário indicando os efeitos adversos relacionados também a medicamentos. Para acessar, não é preciso de cadastro prévio, mas é necessário informar dados detalhados do medicamento ou vacina em questão.
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Como amenizar a dor e outros efeitos da vacinação?
Moraes-Pinto diz que os cuidados em casa são simples e suficientes para a maioria das situações. "Uma compressa fria pode aliviar o desconforto no local da aplicação, assim como antitérmicos recomendados para controlar a febre."
Existem ainda compressas comercializadas em farmácias, que também são indicadas para alívio da dor em adultos e crianças. "É importante reforçar que esses eventos adversos não interferem na proteção oferecida pela vacina e não significam que ocorrerão nas próximas doses. Pelo contrário: eles fazem parte do processo natural de adaptação do corpo e costumam ser passageiros. Por isso, na maior parte das vezes, não há motivo para interromper o calendário vacinal", conclui.
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