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São Paulo, 25/07/2028 - Estimular o cuidado centrado na funcionalidade e na qualidade de vida deve ser um dos pilares de atendimento de saúde à pessoa idosa. É o que defendeu a médica geriatra Alessandra Tieppo, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), durante palestra no primeiro dia do 3º Congresso de Medicina Geral da Associação Médica Brasileira (AMB).
De acordo com a especialista, o primeiro ponto da reflexão de cuidado com pessoas idosas parte da necessidade de compreender o envelhecimento e a abordagem geriátrica de forma ampla, estimulando um cuidado centrado na funcionalidade e na qualidade de vida do idoso, e não nas doenças.
"Cada indivíduo envelhece de forma única, o que torna a abordagem padronizada da medicina insuficiente."
Durante a mesa de debate, o também geriatra Eduardo Canteiro-Cruz, diretor administrativo da SBGG, observou que idade cronológica e idade biológica não são sempre compatíveis. "Não há pessoa tipicamente velha. As populações idosas são caracterizadas por grande diversidade de heterogeneidade". Por isso, defende que o foco do atendimento médico do paciente idoso deve observar a idade funcional do paciente.
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Nesse sentido, Tieppo destacou o que existem oito mitos do envelhecimento comuns e que são propagados até mesmo em atendimentos médicos. Ela defende que é preciso derrubá-los para uma abordagem mais ampla de saúde.
"A avaliação global é necessária porque pessoas da mesma idade podem ter perfis totalmente diferentes. Um senhor de 80 anos pode fazer maratona e outro, na mesma idade, ser completamente acamado. Mas o estereótipo do idoso ainda é recorrente, mesmo entre médicos."
Fato: A depressão não é parte natural do envelhecimento. Sentimentos de tristeza prolongada, apatia ou perda de interesse merecem atenção e tratamento adequado. O risco é subestimar sinais de transtornos mentais e deixar o idoso sem suporte.
Fato: Envelhecer não significa, obrigatoriamente, desenvolver déficits cognitivos significativos. Pequenas falhas de memória podem acontecer, mas a demência é uma doença, não uma consequência inevitável da idade. Estímulo cognitivo, sono de qualidade, boa alimentação e controle de doenças crônicas ajudam a preservar a função cerebral.
Fato: A prática de exercícios físicos é altamente recomendada em todas as idades, inclusive na velhice. Os benefícios vão desde o controle de doenças crônicas até a prevenção de quedas e melhora da autonomia. A prescrição deve ser individualizada, mas é o sedentarismo que representa risco real.
Fato: A perda involuntária de urina é comum, mas nunca deve ser considerada “normal” ou ignorada. Há diversas causas tratáveis (como infecções, medicamentos, problemas musculares e neurológicos) e abordagens terapêuticas eficazes.
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Fato: Com o envelhecimento, há mudanças no metabolismo, mas isso não significa que a alimentação deva ser mais restrita. Ao contrário, muitos idosos desenvolvem deficiências nutricionais e precisam de uma dieta rica em proteínas, vitaminas e minerais. A desnutrição é um problema grave e muitas vezes negligenciado.
Fato: Nenhuma dor deve ser considerada “natural”. Dor crônica em idosos tem impacto direto na mobilidade, no humor, no sono e na qualidade de vida. Deve sempre ser investigada e tratada de forma adequada.
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Fato: Essa visão etarista (discriminatória por idade) ainda aparece na prática clínica. O tratamento no idoso deve ser baseado em critérios de funcionalidade, prognóstico individual e qualidade de vida, e não apenas na idade cronológica. Muitas vezes, intervenções simples trazem grandes benefícios.
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Fato: O cérebro do idoso é capaz de aprender e se adaptar durante toda a vida, é a chamada neuroplasticidade. Com estímulo, motivação e oportunidades adequadas, idosos podem aprender idiomas, tecnologias, habilidades novas e até voltar a estudar.
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