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São Paulo, 08/07/2025 - Com a chegada do inverno, muitas pessoas relatam mudanças no humor, sensação de desânimo e até mesmo sintomas de depressão. A professora de psicologia da UniCesumar, Isla Gonçalves, explica que esses fenômenos não são apenas coincidências sazonais, mas sim resultado de alterações fisiológicas e comportamentais provocadas pela estação mais fria do ano.
“Do ponto de vista da produção hormonal, a falta da luz do sol provoca a produção de cortisol, o hormônio do estresse”, afirma Gonçalves. “Isso causa uma sensação de desânimo e tristeza quase sempre sem causa aparente, acometendo as pessoas de forma quase involuntária”.
Segundo a especialista, além do impacto hormonal, o comportamento humano também se transforma no inverno. As pessoas tendem a buscar atividades mais introspectivas e acolhedoras, que naturalmente incentivam a reflexão e o resgate de emoções passadas.
“As atividades escolhidas no inverno geralmente são menos dinâmicas. Bebidas quentes, séries, e momentos de aconchego remetem as pessoas a lembranças e sentimentos que podem reforçar tristezas”, pontua Gonçalves. “Isso sedimenta o que chamamos de Depressão Sazonal, influenciada por estímulos característicos do frio”.
Alguns grupos são mais vulneráveis à depressão durante o inverno, especialmente aqueles que já demonstram dificuldades em lidar racionalmente com suas emoções. Para essas pessoas, o clima frio pode ser o gatilho que intensifica sensações latentes.
“São pessoas vulneráveis aos seus sentimentos, que no verão se distraem com mais facilidade. Mas esses sentimentos tristes são recorrentes e fazem parte de sua forma de estar no mundo”.
A depressão sazonal não surge de forma abrupta, de acordo com a psicóloga. Os sintomas se instalam aos poucos, tornando o diagnóstico um desafio. Entre os sinais mais comuns estão alterações no sono, apatia, irritabilidade e dificuldades nos relacionamentos e na produtividade. “Ela vai invadindo sorrateiramente, um pouquinho a cada dia. Desânimo, falta de empatia, lentidão e confusão na percepção são sinais importantes”, alerta a psicóloga. “Esses sintomas comprometem o ambiente ao redor, especialmente para quem precisa continuar estudando e trabalhando”.
O momento certo de procurar ajuda profissional, de acordo com a especialista, é quando os impactos da condição começam a interferir diretamente na vida social, profissional e afetiva da pessoa. Nessas horas, o apoio da rede familiar e social é essencial. “A ajuda precisa ser buscada quando há prejuízos físicos e emocionais, como perda de emprego, conflitos familiares, isolamento e até ideias suicidas”, enfatiza. “É um trabalho de formiguinha entre amigos, família e profissionais de saúde mental”.
No frio, o coração deve ser cuidado não apenas no sentido metafórico. As baixas temperaturas do inverno aumentam em 30% o risco de infarto, segundo dados do Instituto Nacional de Cardiologia, principalmente em pessoas que apresentam fatores de risco.
Os índices de Acidente Vascular Cerebral (AVC) também se intensificam nesse período, podendo apresentar crescimento de até 20%. A dissecção da aorta também aumenta em até 5%, pois sua camada interna pode se romper ou sofrer descolamento.
Segundo Paola Smanio, head da cardiologia do Fleury Medicina e Saúde, isso ocorre porque as reações do organismo às baixas temperaturas levam à necessidade de algumas adaptações no sistema cardiovascular, que trabalha mais para manter seu equilíbrio. Os idosos e pessoas que já têm doenças cardiovasculares são os que estão em maior risco.
A vasoconstrição das artérias coronárias pode levar a uma menor oferta de fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco e, em situações em que haja maior demanda, como atividade física ou estresse quando a oferta pode ser insuficiente, levando a sintomas de dor no peito ou falta de ar. No caso da vasoconstrição pode ocorrer aumento da pressão nas placas de gordura obstrutivas já existentes, promovendo a sua ruptura e, assim, angina, infarto do miocárdio e, até mesmo, morte súbita. O mesmo pode ocorrer nas artérias cerebrais e ocasionar o AVC, informa a médica.
Outro fator que demanda atenção em relação às doenças cardiovasculares e o frio é a ocorrência mais frequente das infecções respiratórias, que também podem aumentar o risco de acometimento cardiovascular.
Entre os sintomas mais comuns do infarto estão: dor no peito, falta de ar, náuseas, dor no braço esquerdo, dores nas costas, no pescoço e região do estômago. Estes sintomas podem iniciar após esforço ou situações de estresse e, até mesmo, em repouso.
A dor pode ser em aperto, opressão, queimação e ter uma difícil caracterização. Em subgrupos como diabéticos e idosos, o infarto pode evoluir de forma silenciosa. O fato é que qualquer sintoma deve ser investigado”, explica a cardiologista.
Durante o inverno, as pessoas tendem a se exercitar menos, ingerem menos líquidos e consomem alimentos mais gordurosos e calóricos, hábitos que também aumentam os riscos de doenças do sistema cardiovascular.
Smanio deixa o alerta que, nesta ou em qualquer época do ano, a busca contínua por hábitos de vida saudáveis é essencial. A realização de consultas médicas periódicas e exames cardiológicos preventivos também são capazes de identificar fatores de risco, como colesterol elevado, hipertensão arterial e diabetes. Vale ressaltar a importância desses exames independentemente da faixa etária para quem for realizar atividade física desportiva.
Os exames de diagnóstico indicados são desde os mais simples, como o eletrocardiograma, teste de esforço ou ergométrico, até os de imagem, como a cintilografia miocárdica, para complementar a investigação e, também, para as pessoas que têm dificuldade ou impossibilidade de realizar o exercício físico na esteira ou bicicleta ergométrica, sendo necessário uso de estresse farmacológico. No caso de palpitações, arritmias e desmaios, um teste poissível é o holter, que pode ser realizado por 24 horas ou até sete dias, dependendo da necessidade do paciente e da recomendação do médico.
Outra forma de investigar a presença de obstruções nas artérias do coração de forma não invasiva é a angiotomografia computadorizada das artérias coronárias, que permite avaliar a presença e a magnitude das obstruções das coronárias quando presentes. Já a cintilografia é um método diagnóstico não-invasivo funcional que avalia a repercussão das obstruções na irrigação do miocárdio (músculo do coração).
A ressonância magnética cardíaca também é um exame não-invasivo de grande importância para investigar a função cardíaca, alterações estruturais, viabilidade do músculo cardíaco e definir a causa de muitas doenças cardiológicas. “A medicina personalizada e preventiva, seja de rotina para diagnóstico ou acompanhamento, é a melhor opção para todas as pessoas”, conclui a cardiologista.
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