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São Paulo, 27/06/2025 - O frio intenso e as mudanças bruscas de temperatura afetam negativamente a imunidade, facilitando a replicação de mais vírus respiratórios, como a influenza e o rinovírus. Ao mesmo tempo, acabamos ficando cada vez mais em ambientes fechados e mal ventilados, o que eleva o risco de contaminação. Nesse cenário, especialistas apontam que a vacinação é considerada a principal maneira de aumentar a imunidade do sistema respiratório, especialmente entre pessoas idosas.
Segundo a geriatra Maisa Kairalla, presidente da Comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatra e Gerontologia (SBGG), o aumento de mais de 150% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) registrado ano passado teve como causa direta a queda na taxa vacinal, fato que vem se repetindo em algumas localidades nesta temporada de outono e inverno. "É bastante preocupante. E essa queda da vacinação ocorreu em um momento em que as pessoas voltaram a se aglomerar, o que agrava ainda mais a situação".
De acordo com a especialista, é preciso um trabalho coletivo para conter o aumento de casos de doenças respiratórias. Ela destaca que, além das campanhas já existentes, os médicos também precisam encontrar maneiras mais simples para que as pessoas entendam a importância da vacinação e os sérios riscos da gripe, uma vez que a população tende a tratar a doença como uma “simples gripezinha”.
“É importante ficar claro que gripe não é resfriado. Os resfriados são outros vírus e a gripe não é ‘simples’ de tratar como o resfriado. A gripe é grave e provoca o aumento da incidência de internações hospitalares, inclusive problemas cardiovasculares e infecções bacterianas”, ressalta. Ela afirma que outra medida necessária é as pessoas controlarem os fatores de risco, como a glicose e as doenças cardíacas por meio de atividade física. “Isso aumenta a imunidade das pessoas, assim como a higiene pessoal".
Durante o envelhecimento, o sistema imunológico passa por um processo chamado imunossenescência, que provoca alterações profundas na capacidade de defesa do organismo, como explica Sheila Homsani, diretora médica de vacinas na biofarmacêutica Sanofi. "Essas mudanças começam a ter impacto clínico significativo geralmente a partir dos 60 anos, embora alguns efeitos possam ser notados já por volta dos 50, especialmente em pessoas com comorbidades. Como consequência, os idosos ficam mais suscetíveis a infecções respiratórias como gripe, pneumonia e COVID-19, além de responderem menos intensamente à vacinação".
Ela explica que as vacinas previnem cerca de 3,5 milhões de morte por ano em todo o mundo, se mostrando uma das intervenções de saúde mais eficazes. "De maneira geral, elas atuam preparando o organismo para se defender de agentes infecciosos, seja estimulando diretamente o sistema imunológico, como no caso das vacinas, ou oferecendo proteção imediata por meio de anticorpos prontos, como nos imunizantes passivos".
Essa proteção é especialmente relevante em grupos mais vulneráveis, como os idosos. "Por passarem pelo processo de imunossenescência, eles apresentam maior risco de desenvolver complicações graves a partir de infecções evitáveis. Além disso, para esse grupo em específico, a hospitalização impacta negativamente a funcionalidade, com recuperação incompleta mesmo após 30 dias da alta. Isso tudo torna as vacinas essenciais na prevenção de doenças infecciosas e na manutenção da imunidade", pondera. Homsani diz que já existem variações da vacina com quatro vezes mais antígeno do que a versão padrão e podem ser aplicadas a partir dos 60 anos com a orientação de um médico.
A última edição do Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que os casos de SRAG causada por vírus como influenza, Sars-cov 2, rinovírus e vírus sincicial respiratório seguem crescendo em parte do País. Na rede pública, dados do Ministério da Saúde mostram que apenas 43,96% dos idosos foram vacinados contra gripe.
Já em algumas redes privadas, a vacinação contra influenza é a mais aplicada nas cinco regiões. “Vacinas contra a influenza A são as principais dos dias mais frios, pois protegem contra os vírus que mais circulam nessa época e ajudam a evitar casos graves da gripe”, explica Fábio Argenta, diretor médico e sócio-fundador da rede de clínicas Saúde Livre Vacinas, que registrou cerca de 17 mil doses entre janeiro e junho deste ano.
Homsani diz que algumas doenças respiratórias crônicas podem surgir de forma mais clara apenas na velhice, como é o caso da fibrose pulmonar idiopática, de formas leves e não diagnosticadas de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e de asma de início tardio. Além disso, infecções respiratórias frequentes ou graves durante a infância, como pneumonias recorrentes, podem deixar sequelas estruturais nos pulmões que persistem ao longo da vida.
"Mesmo quando não há sintomas contínuos na juventude, é possível que essas condições se tornem clinicamente relevantes a partir da vida adulta, especialmente se houver exposição a fatores agravantes como poluição ou tabagismo".
A presença de comorbidades comuns nessa faixa etária, como diabetes, insuficiência cardíaca ou doenças pulmonares pré-existentes, agrava ainda mais os quadros clínicos. "Por isso, infecções como gripe, Covid-19 e infecções por vírus sincicial respiratório (VSR) estão entre as principais causas de hospitalização e morte em idosos", conclui.
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