Reprodução/Instragram/@margarethdalcolmo
Publicado em 27/10/2025, às 09h25 - Atualizado às 10h44
São Paulo, 27/10/2025 - Se estamos vivendo mais é porque tivemos algumas boas políticas públicas e vacina. A afirmação é da médica Margareth Dalcolmo, membro titular da Academia Nacional de Medicina e uma das vozes mais atuantes da epidemiologia no País.
Ao falar com a imprensa durante o XVIII Fórum da Longevidade, na última semana, ela lembrou que há 40 anos, a nossa expectativa de vida ao nascer era de 54 anos, e hoje é de 78 anos. Em razão disso, a especialista fez uma defesa enfática do Sistema Único de Saúde (SUS ) e das políticas públicas brasileiras, destacando avanços e alertando para riscos que podem comprometer o futuro das próximas gerações.
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Ela também rebateu as critícas de que o País não dá atenção devida à saúde pública. “O Brasil tem excelentes políticas públicas. O SUS é um tesouro responsável por cuidar da população desde o nascimento, vacinar pessoas e garantir acesso universal à saúde”, afirmou.
“Se hoje a expectativa de vida é de 78 anos, isso se deve a políticas públicas consistentes, especialmente à vacinação, que reduziu drasticamente a mortalidade infantil.”
Ela lembrou que o Programa Nacional de Imunização (PNI), criado antes mesmo do SUS, completou 50 anos e foi fundamental para a melhora da expectativa de vida no país. “Quando nós começamos a vacinar as crianças, a mortalidade infantil declinou vertiginosamente. Hoje o Brasil tem taxas de mortalidade infantil comparadas a países europeus. Como também, infelizmente, tem taxa de fecundidade comparada a países europeus da região da Escandinávia”, observou.
A médica chama a atenção para o fato de a fecundidade ser muito baixa entre a classe média e de não haver tempo para repor demograficamente a virada de população necessária. Isso tudo, observa a especialista, é preocupante.
“Qualquer coisa que interfira na prospectiva de uma geração, que tem que crescer saudável, preocupa. Já temos milhões de problemas econômicos ligados a esta geração, como a dependência das novas gerações dos mais velhos.”
Dolcolmo diz que isso um problema no Brasil, onde muitas pessoas dependem de uma “parca” aposentadoria dos mais velhos, sobretudo nas classes menos favorecidas. Além disso, 60% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres e, muitas pessoas das classes médias para baixo, e jovens, dependem do dinheiro da aposentadoria dos mais velhos.
Ressaltou também que isso cria uma situação preocupante para o Estado e para a seguridade social no Brasil. “Os economistas tinham que estar seriamente preocupados, porque isso não é uma questão só da saúde, é uma questão da economia, do meio ambiente”, observou.
Margareth Dalcolmo também foi uma das vozes mais atuantes durante a pandemia de covid-19 e reforçou a importância da vacinação como ferramenta permanente de proteção. “A epidemia de covid-19 foi controlada, mas o vírus Sars-CoV-2 não vai embora, os seus mutantes não vão mais embora. A vacinação será anual, como a da gripe. Ela não sai mais das nossas vidas”, afirmou. Sobre as quase 700 mil mortes pela doença no Brasil, ela foi categórica: “Pelo menos metade delas poderia ter sido evitada.”
Dalcolmo também alertou sobre a falta de infraestrutura nas cidades adequadas para idosos. “Andar por São Paulo é um desafio. Se você chegar em casa sem cair, o seu fêmur agradece. As cidades brasileiras não são amigáveis, muito menos para quem é idoso”, criticou.
A médica ainda fez um apelo à valorização das políticas públicas e da saúde coletiva.
“O Brasil tem bons exemplos, mas é preciso protegê-los. Políticas de vacinação, combate ao tabaco e promoção da saúde são o que garantem nossa longevidade. Precisamos cuidar das gerações que vêm — e do País que envelhece.”
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